Cadernos de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
v. 12, n. 2 (2012)
.
Editorial
Encerrando o ano de 2012, com este segundo fascículo, os Cadernos de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie continuam com sua missão de divulgar recentes pesquisas no âmbito da pós-graduação do Brasil e exterior, nos campos do projeto de arquitetura e do projeto urbano.
O volume inicia-se com o texto de Pedro Valladares, pesquisador do mestrado em Desenvolvimento Urbano da UFPe, abordando o estudo do sistema defensivo e suas relações com o espaço urbano, no período de ocupação holandesa de Recife, no século XVIII. Tais relações são avaliadas de acordo com os princípios da sintaxe espacial, considerando a área de abrangência que cada fortificação poderia defender e os efeitos desse plano de defesa na estruturação que o espaço da cidade viria assumir posteriormente.
A seguir, Tiago Cunha, doutorando pela Unicamp nos apresenta os resultados de seu estudo sobre a Região Metropolitana de Campinas, onde utiliza indicadores que medem a infraestrutura no entorno de domicílios urbanos, correlacionando-os com os distintos graus de atratividade que geram nos fluxos migratórios para a região.
O terceiro texto, da doutoranda Rossana Tavares, do PROURB-Univ. Federal do Rio de Janeiro analisa as desigualdades de gênero nas cidades, focando mulheres pobres que vivem em favelas do Rio de Janeiro, com o propósito de provocar o debate ainda ausente no campo do urbanismo. O objetivo é contribuir para a constituição de um saber solidário que considere os novos e velhos processos sociais ainda negligenciados pelas análises científicas.
Trazer à tona dados, análises e reflexões sobre como as mulheres pobres estão em uma situação de vulnerabilidade diferenciada na cidade, em razão das contradições sociais e culturais de gênero, é uma forma de radicalizar a percepção sobre tal problemática e provocar a emancipação do nosso modo de produção do conhecimento.
O artigo seguinte, da autoria das pesquisadoras Margarida Gomes, Patricia Farias, ambas da UFRJ e Martha Cordeiro, do Instituto Federal Fluminense, apresenta um caso de reassentamento ocorrido em Campos dos Goytacazes, norte do Estado do Rio de Janeiro. Busca expor os desafios enfrentados pelos moradores para solucionar seu problema de moradia num loteamento periférico, próximo ao lixão da cidade e sem nenhuma infraestrutura, analisando a questão a partir de um quadro teórico de referência que leve em conta o direito à moradia e o direito à cidade.
Laura Machado e Rodrigo Merlino, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, propõem um Índice de Mobilidade Urbana Sustentável (IMS) construído a partir de indicadores alimentados por dados anuais fornecidos por instituições brasileiras.
O IMS foi aplicado em dez dos 31 municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) e revelou as deficiências no planejamento e na gestão da mobilidade regional. Em âmbito municipal, revelou a fragilidade do poder público diante das operadoras do transporte coletivo urbano e a ausência de diretrizes de promoção e do controle do transporte não-motorizado.
O sexto artigo, de Dianna Amaral, pesquisadora da Universidade de Brasília, analisa a transformação do programa e dos espaços de museus nos últimos setenta anos no Brasil a partir observação de duas instituições: o Museu das Missões e a Fundação Iberê Camargo. Ambas situam-se no mesmo Estado, o Rio Grande do Sul, e foram concebidas para ser museu por arquitetos renomados — Lúcio Costa e Álvaro Siza, respectivamente. No entanto, diferem-se na medida em que respondem a demandas relacionadas com a época da consolidação de cada uma. A partir dessas diferenças, é possível observar importantes conceitos que se aplicam na discussão atual sobre museus.
O trabalho de Jessica Tardivo e Tatiane Moreira, da Unicep de São Carlos, analisa o Movimento Metabolista que se desenvolveu no Japão na segunda metade do século XX. A partir dos anos 60, um grupo de jovens arquitetos e críticos apresenta um novo ideário projetual, inspirado no design tradicional japonês, na arquitetura pop e em Le Corbusier.
O nome Metabolismo pretendia sugerir uma abordagem biológica do design, nos edifícios e cidades que cresciam para fazer frente às novas exigências de uma maneira paralela à natureza, fazendo uso pleno das mais recentes e inovadores tecnologias de construção e formas de comunicação e exibindo, de início, uma serie de projetos imaginários. O artigo discorre tendo como objeto de estudo a Torre Cápsula do arquiteto Kurokawa, uma das únicas edificações concluídas no ideário desse movimento.
O texto de encerramento do fascículo, da autoria do professor Carlos Egídio Alonso, da USP e UPM, apresenta alguns resultados das atividades do Grupo de Pesquisa “Signagem da Arquitetura Contemporânea”. O ensaio enfatiza a necessidade de experimentação dos materiais que são utilizados na execução de projetos. No plano da pesquisa e do ensino, demonstra a necessidade das especulações formais com a finalidade de ampliar o repertório formal e técnico do estudante, bem como o estabelecimento de novas metodologias de pesquisa.
Dessa maneira, parte do pressuposto que essa experimentação direta da materialidade antecede ao desenho: alerta que o projeto gráfico (desenho), pensado a partir de um repertório estabelecido, é limitado por este. Resulta que as representações, através dos vários recursos do desenho, muita vezes são precárias perante a complexidade do objeto concebido.
Com estes oito artigos, concluímos os fascículos de 2012, apresentando estudos e resultados de pesquisas que se realizam nos âmbitos de programas de pós-graduação no Brasil.
Nossos agradecimentos a toda a equipe de colaboradores desta edição, em especial aos pareceristas ad-hoc, que garantiram a qualidade de nosso processo de avaliação.
José Geraldo Simões Junior, Editor
Charles C. Vincent, Editor Executivo
Helena Rodi Neumann, Assistente de Edição
Nelson Luis Barbosa, Revisor de língua portuguesa.
Revisores Ad Hoc:
Nilce Aravecchia (Escola da Cidade)
Decio Rigatti (UFRS)
Marly Namur (USP)
Helena Ayoub Silva (USP)
Wilson Ribeiro dos Santos Junior (PUC-Camp)
Ana Gabriela Godinho Lima (UPM)
Marta Silveira Peixoto (Uniritter)
Silvana Maria Zione (UFABC)
Paula Raquel Vendramini (UPM)
Eulália Portela Negrelos (USP-São Carlos)
Maria Lucia Bressan Pinheiro (USP)
Anna Paula Moura Cañez (Uniritter)
Luis Octavio de Faria e Silva (Univ. São Judas)
Virginia Costa Marcelo (Univ. Gama Filho)
Lia Mayumi (UNIB)
Cover:
Mur Island Graz, Austria (Murinzel) - Architecture: Acconci Studio - Photo: Charles C Vincent
Editorial
Encerrando o ano de 2012, com este segundo fascículo, os Cadernos de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie continuam com sua missão de divulgar recentes pesquisas no âmbito da pós-graduação do Brasil e exterior, nos campos do projeto de arquitetura e do projeto urbano.
O volume inicia-se com o texto de Pedro Valladares, pesquisador do mestrado em Desenvolvimento Urbano da UFPe, abordando o estudo do sistema defensivo e suas relações com o espaço urbano, no período de ocupação holandesa de Recife, no século XVIII. Tais relações são avaliadas de acordo com os princípios da sintaxe espacial, considerando a área de abrangência que cada fortificação poderia defender e os efeitos desse plano de defesa na estruturação que o espaço da cidade viria assumir posteriormente.
A seguir, Tiago Cunha, doutorando pela Unicamp nos apresenta os resultados de seu estudo sobre a Região Metropolitana de Campinas, onde utiliza indicadores que medem a infraestrutura no entorno de domicílios urbanos, correlacionando-os com os distintos graus de atratividade que geram nos fluxos migratórios para a região.
O terceiro texto, da doutoranda Rossana Tavares, do PROURB-Univ. Federal do Rio de Janeiro analisa as desigualdades de gênero nas cidades, focando mulheres pobres que vivem em favelas do Rio de Janeiro, com o propósito de provocar o debate ainda ausente no campo do urbanismo. O objetivo é contribuir para a constituição de um saber solidário que considere os novos e velhos processos sociais ainda negligenciados pelas análises científicas.
Trazer à tona dados, análises e reflexões sobre como as mulheres pobres estão em uma situação de vulnerabilidade diferenciada na cidade, em razão das contradições sociais e culturais de gênero, é uma forma de radicalizar a percepção sobre tal problemática e provocar a emancipação do nosso modo de produção do conhecimento.
O artigo seguinte, da autoria das pesquisadoras Margarida Gomes, Patricia Farias, ambas da UFRJ e Martha Cordeiro, do Instituto Federal Fluminense, apresenta um caso de reassentamento ocorrido em Campos dos Goytacazes, norte do Estado do Rio de Janeiro. Busca expor os desafios enfrentados pelos moradores para solucionar seu problema de moradia num loteamento periférico, próximo ao lixão da cidade e sem nenhuma infraestrutura, analisando a questão a partir de um quadro teórico de referência que leve em conta o direito à moradia e o direito à cidade.
Laura Machado e Rodrigo Merlino, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, propõem um Índice de Mobilidade Urbana Sustentável (IMS) construído a partir de indicadores alimentados por dados anuais fornecidos por instituições brasileiras.
O IMS foi aplicado em dez dos 31 municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) e revelou as deficiências no planejamento e na gestão da mobilidade regional. Em âmbito municipal, revelou a fragilidade do poder público diante das operadoras do transporte coletivo urbano e a ausência de diretrizes de promoção e do controle do transporte não-motorizado.
O sexto artigo, de Dianna Amaral, pesquisadora da Universidade de Brasília, analisa a transformação do programa e dos espaços de museus nos últimos setenta anos no Brasil a partir observação de duas instituições: o Museu das Missões e a Fundação Iberê Camargo. Ambas situam-se no mesmo Estado, o Rio Grande do Sul, e foram concebidas para ser museu por arquitetos renomados — Lúcio Costa e Álvaro Siza, respectivamente. No entanto, diferem-se na medida em que respondem a demandas relacionadas com a época da consolidação de cada uma. A partir dessas diferenças, é possível observar importantes conceitos que se aplicam na discussão atual sobre museus.
O trabalho de Jessica Tardivo e Tatiane Moreira, da Unicep de São Carlos, analisa o Movimento Metabolista que se desenvolveu no Japão na segunda metade do século XX. A partir dos anos 60, um grupo de jovens arquitetos e críticos apresenta um novo ideário projetual, inspirado no design tradicional japonês, na arquitetura pop e em Le Corbusier.
O nome Metabolismo pretendia sugerir uma abordagem biológica do design, nos edifícios e cidades que cresciam para fazer frente às novas exigências de uma maneira paralela à natureza, fazendo uso pleno das mais recentes e inovadores tecnologias de construção e formas de comunicação e exibindo, de início, uma serie de projetos imaginários. O artigo discorre tendo como objeto de estudo a Torre Cápsula do arquiteto Kurokawa, uma das únicas edificações concluídas no ideário desse movimento.
O texto de encerramento do fascículo, da autoria do professor Carlos Egídio Alonso, da USP e UPM, apresenta alguns resultados das atividades do Grupo de Pesquisa “Signagem da Arquitetura Contemporânea”. O ensaio enfatiza a necessidade de experimentação dos materiais que são utilizados na execução de projetos. No plano da pesquisa e do ensino, demonstra a necessidade das especulações formais com a finalidade de ampliar o repertório formal e técnico do estudante, bem como o estabelecimento de novas metodologias de pesquisa.
Dessa maneira, parte do pressuposto que essa experimentação direta da materialidade antecede ao desenho: alerta que o projeto gráfico (desenho), pensado a partir de um repertório estabelecido, é limitado por este. Resulta que as representações, através dos vários recursos do desenho, muita vezes são precárias perante a complexidade do objeto concebido.
Com estes oito artigos, concluímos os fascículos de 2012, apresentando estudos e resultados de pesquisas que se realizam nos âmbitos de programas de pós-graduação no Brasil.
Nossos agradecimentos a toda a equipe de colaboradores desta edição, em especial aos pareceristas ad-hoc, que garantiram a qualidade de nosso processo de avaliação.
José Geraldo Simões Junior, Editor
Charles C. Vincent, Editor Executivo
Helena Rodi Neumann, Assistente de Edição
Nelson Luis Barbosa, Revisor de língua portuguesa.
Revisores Ad Hoc:
Nilce Aravecchia (Escola da Cidade)
Decio Rigatti (UFRS)
Marly Namur (USP)
Helena Ayoub Silva (USP)
Wilson Ribeiro dos Santos Junior (PUC-Camp)
Ana Gabriela Godinho Lima (UPM)
Marta Silveira Peixoto (Uniritter)
Silvana Maria Zione (UFABC)
Paula Raquel Vendramini (UPM)
Eulália Portela Negrelos (USP-São Carlos)
Maria Lucia Bressan Pinheiro (USP)
Anna Paula Moura Cañez (Uniritter)
Luis Octavio de Faria e Silva (Univ. São Judas)
Virginia Costa Marcelo (Univ. Gama Filho)
Lia Mayumi (UNIB)
Cover:
Mur Island Graz, Austria (Murinzel) - Architecture: Acconci Studio - Photo: Charles C Vincent