Pesquisa do Mackenzie revela diferenças de temperaturas entre bairros de São Paulo

09 de octubre de 2024 | Pesquisa e Inovação Destaque

Os impactos do aquecimento global estão cada vez mais intensos e se fazem sentir no dia a dia. Na passada semana, por exemplo, o Brasil viveu a oitava onda de calor de 2024, que marca uma alta elevação nas temperaturas em diversas cidades do país. Apesar da alta dos termômetros atingir a todos os brasileiros, uma pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) mostrou que os impactos são sentidos de forma bem diferente, dependendo do bairro em que se vive. 
 
O professor da FAU, Renato Anelli, realizou uma pesquisa que avaliou as diferenças de temperatura entre dois bairros de São Paulo, que são muito diferentes, mas bastante próximos: Morumbi e Paraisópolis. De acordo com os resultados, Paraisópolis apresenta uma temperatura 8ºC mais elevada do que o Morumbi, e a diferença de sensação térmica - uma média entre temperatura e umidade - nos bairros pode chegar a 9ºC. 
 
De acordo com Anelli, a diferença se explica por conta do adensamento construtivo. Paraisópolis, por ser um bairro de periferia, possui muito mais construções em uma área menor, ou seja, possui uma densidade construtiva maior. Isso impede que o calor absorvido pelo solo seja dissipado durante o dia e ao longo da noite. Além disso, também dificulta a circulação de ar e acaba não liberando espaço para áreas verdes. 
 
“A área absorve essa onda de calor, os raios solares, mas também a onda de calor atmosférico, e ela não tem espaço para perder esse calor que ela absorve através de ventilação e sombras”, explica Anelli.
 
O Morumbi, por outro lado, apresenta uma configuração diferente, com construções bem mais espaçadas. “O bairro tem um padrão de construção tipo cidade jardim, com bastante verde e as construções pequenas. É uma área exclusivamente residencial. Então tem uma baixa densidade construtiva e uma baixa densidade populacional”, aponta o professor.
 
Os dados foram obtidos por imagens e levantamentos de satélite, além de medições de aparelhos específicos, feitas durante 30 dias, em diversos horários diferentes.
 
A pesquisa, segundo o professor, trata-se de uma evidência de algo preocupante: a injustiça climática, pois essa diferença de temperatura está associada a fatores sociais. “As pessoas mais pobres estão mais apertadas nessa área mais densa e as pessoas que têm um nível de renda de vida melhor estão numa área que possui características climáticas melhores”, explica. 
 
De acordo com o mackenzista, essa diferença entre bairros também se nota a nível global. No geral, os países que mais geram poluição e contribuem para o aquecimento do planeta, com uma maior emissão de carbono, são os países mais preparados para lidar com as consequências do aquecimento da Terra. Enquanto os países menos industrializados, são os que mais sofrem com essas consequências. 
“Os que menos contribuem para as mudanças climáticas, que são as pessoas mais vulneráveis do ponto de vista social, são aquelas que também mais sofrem com os impactos da mudança climática. E agora temos a comprovação in loco do nome, o endereço, local, a definição de como isso acontece, e encontra-se entre duas regiões que estão a 800 metros de distância”, aponta o professor. 
 
Para lidar com a questão, Renato Anelli aponta dois tipos de propostas: de longo prazo e as emergenciais. “Esse sobreaquecimento da forma urbana deveria ser reduzido e a gente tem de encontrar normas de construção, de planejamento urbano, de formas de cidade que regulam as transformações das cidades daqui para frente. Isso leva tempo. Então, as questões são ações emergenciais e de curto prazo que podem atenuar esse aquecimento”, destaca. 

No curto prazo, o professor aponta a necessidade de monitorar populações de risco, como idosos e crianças, que são mais suscetíveis a sofrer com as consequências do forte calor. Além disso, ele aponta a necessidade de se criar zonas de frescor, que possuem ventiladores com umidade e nas quais há distribuição de água. “É uma maneira de as pessoas poderem se refugiar”, diz. 
 
Tomadas as medidas emergenciais, pode-se passar para um segundo plano, que levaria mais tempo, para se buscar projetos urbanos de áreas verdes e projeto de contenção do calor. “Isso exigiria frente de trabalho mesmo, de identificação, de projetos de intervenção, espalhadas aí para grandes extensões da cidade, onde essas ilhas de calor se manifestam”, finaliza ele.
 

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