Tradição polonesa no Mackenzie
23 de julio de 2018 | Cultura Eventos Mundo Universidade Reitoria Destaque
A noite de 19 de julho de 2018 estava com clima ameno na cidade de São Paulo e no bairro de Higienópolis, no campus do Mackenzie, o público ia se acumulando pouco a pouco nas poltronas de estofado vermelho do auditório Ruy Barbosa. Faltava pouco para às 19h, horário em que o Conjunto de Canto e Dança ZPIT, da Politechnika Warszawska (PW - Escola Politécnica de Varsóvia) iniciaria sua apresentação - em parceria com a Coordenadoria de Arte e Cultura (CAC), Pró-Reitoria de Extensão e Educação Continuada e Reitoria. Nos bastidores, os atores – alunos universitários poloneses da PW – se aqueciam antes de subir ao palco para demonstrar um pouco das diferenças de suas tradições.
Desde 1951, difundindo a cultura polonesa, o Conjunto tem direção de Janusz Chojecki, e passou por diversos festivais internacionais antes de chegar ao Brasil para se apresentar no Mackenzie. Na plateia, levemente ansioso e saudoso, estava Andrzej Bukowinski, cônsul honorário da Polônia em São Paulo, que veio acompanhar o espetáculo e relembrar de sua terra e família.
Nascido na Varsóvia em 1940, época em que a região era ocupada pelo regime nazista, Bukowinski e sua família migraram antes da década de 50 para a América do Sul e se instalaram na Argentina para depois virem ao Brasil. Quando ele aqui chegou, em 1973, já tinha iniciado sua exitosa carreira de diretor de comerciais que culminou na produtora Aba Filmes, da qual é sócio-fundador. Um de seus trabalhos mais memoráveis é a direção dos comerciais com Carlos Moreno para a Bombril, além de seus filmes para o cinema.
Ponte entre os dois países, o hoje cônsul diz que a cultura abarca tantos aspectos específicos de um povo que é impossível não notar diferenças. “Em primeiro lugar, pela ‘idade’ entre Brasil e Polônia, e a seguir por diversos fatores históricos que definiram os rumos de ambos os países”.
De acordo com ele, a Polônia se destacou muito na parte visual, como cinema, design, pintura e outras artes em geral, como música. Fato curioso é que, após a guerra, no regime comunista que lá se instalou, o país ficou praticamente isolado do mundo, sem influência externa e, apesar de ter sido um problema em algumas áreas, isso permitiu o desenvolvimento de uma arte muito original.
“Realizamos uma exposição de pôsteres poloneses criados entre 1950 e 80 no Instituto Tomie Ohtake, anos atrás, e foi de um extremo sucesso justamente por conta desse senso estético único que o país foi forçado a criar”, comenta o polonês radicado.
Silêncio no papo para a apresentação do Grupo ZPIT, que chama a atenção com figurinos típicos que mesclam trajes simples e camponeses com os de gala, mostrando que as danças e cantos do espetáculo apresentavam uma sociedade polonesa pré-revolução industrial, além do cotidiano de um povo, desde suas atividades mais simples, tais como a lavagem de roupas e a colheita, até as festas populares e as da alta classe.
E como incentivar e passar essa bagagem às novas gerações? “Tenho uma teoria de que a continuidade da cultura para os jovens é muito complicada e não pode ser feita de maneira imposta, pois perderiam o interesse. Nossos ‘argumentos’ têm de ser pelo viés artístico, motivando-os a se orgulharem de sua história e seu passado, sua artes como cinema, pintura e música, por exemplo, pois é assim que poderão passar tradições e aprendizados às futuras gerações”, destaca.
Para o cônsul, perceber e valorizar as artes de um país é a melhor forma de conquistar os jovens. “É por isso que o trabalho realizado pelo ZPIT e essa apresentação em uma instituição brasileira de respeito como o Mackenzie é tão importante, pois, além de ampliar o conhecimento de uma cultura pela outra (brasileira e polonesa), traz esse resgate da identidade por meio da arte”, completa ele.
Szilárd Teleki, cônsul-geral da Hungria em São Paulo, que prestigiava o evento ao lado do amigo polonês, concorda com a posição de Bukowinski, e destaca que seu país também possui grupos que resgatam e difundem a cultura da Hungria, tais como o ZPIT. Segundo conta, “a comunidade húngara no Brasil se instalou especialmente em São Paulo e aqui temos quatro grupos que desenvolvem este trabalho de resgate cultural. Os dois mais ativos são o Zrínyi e o Pántlika, este último fundado em 1968, e que completa 50 anos em outubro de 2018”, revela Teleki.
Os outros dois grupos são Sarkantyú, voltado a ensinar danças e músicas para crianças, e o Ropogós Csárdás, que é aberto a qualquer pessoa da comunidade que tenha interesse na cultura húngara.
A noite terminou com aplausos efusivos ao ZPIT e a seu coreógrafo, Jarosław Wojciechowski. Os atores e músicos estavam com sorrisos nos rostos diante do entusiasmo da plateia, revelando que a experiência havia sido gratificante a todos, mesmo com as diferenças de linguagem e tradições. Ou melhor, talvez tenha sido marcante justamente por elas!
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