10.02.2023 - EM Pesquisa e Inovação

Coordenação

"Pesquisadora de clima espacial revela importância do Mackenzie em sua formação "

Ao assistir um filme Contato, em que a atriz Jodie Foster interpreta uma astrônoma, a pesquisadora Alessandra Abe Pacini não teve dúvidas: ela queria explorar o espaço. Hoje integrante do Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (National Oceanic and Atmospheric Administration, NOAA) e com uma pesquisa consolidada na área de Clima Espacial, Alessandra Pacini coleciona homenagens e apresenta sua pesquisa no Na Lupa!.

A pesquisadora explica que o clima espacial se trata da influência da atividade solar em altas camadas da atmosfera terrestre e que não tem nenhuma relação direta com as mudanças climáticas. “O impacto maior das explosões solares estão na alta atmosfera, algo de 100 km, e é a parte mais vulnerável ao clima do espaço, então o maior efeito não é no clima terrestre”, explica.

Como efeito prático, as explosões solares tendem a afetar transmissões de satélites e sinais que passam pelas altas camadas da atmosfera, como o sinal de GPS e a conexão de televisão via satélite. Alessandra Pacini explica que os efeitos vão muito além de termos os nossos aplicativos de localização prejudicados.

“Imagina as empresas que fazem agricultura de alta precisão, empresa de óleo e gás, que tem de perfurar exatamente no lugar de extração. Se você tem uma tempestade geomagnética, causada pelo sol, caso você perca a sua resolução, você fura errado, você pode ter perdas financeiras enormes”, afirma a pesquisadora. 

De acordo com Pacini, as mudanças climáticas que estão em discussão não se relacionam com a atividade solar, pois o aquecimento global acontece por conta do aumento da camada de gás carbônico na atmosfera terrestre, promovendo um aumento do efeito estufa e, consequentemente, da temperatura terrestre.

Porém, apesar de não terem relação, a pesquisadora afirma que pequenas oscilações na superfície solar podem provocar alguns efeitos no clima terrestre. “Os nossos ciclos orbitais mudam em longos períodos de tempo. Mas existem algumas evidências de que, quando o sol estava em um momento atipicamente calmo, houve uma pequena era glacial na Terrra. Se essas atividades forem em larga escala, podem provocar efeitos climáticos”, aponta.

A pesquisa de Pacini é pautada na análise de dados colhidos por diversos instrumentos, como radiotelescópios e satélites. “No dia a dia, estamos a maior parte do tempo olhando para o computador, trabalhando os dados, fazendo análise estatística e comparando com as teorias vigentes”.

Trajetória 

Alessandra Pacini diz que soube que queria estudar astronomia durante o ensino médio, após ver o filme Contato. “Foi ali que eu falei que queria ser astrônoma”. Anos depois, já com uma carreira consolidada, ela teve a oportunidade de conhecer Dil Tatcher, cientista que inspirou a personagem principal do longa-metragem, e que foi interpretada por Julie Foster. “Foi um fechamento de ciclo para mim”.

Quando fez vestibular, Pacini ainda não sabia qual formação deveria fazer para seguir seu sonho. Prestou vestibular na UPM para Física, pensando já em fazer uma pós-graduação. “Quando eu vim fazer a prova, eu me apaixonei pelo campus, pelos tijolinhos vermelhos. Já me senti feliz aqui”, afirma.

Logo em seu primeiro semestre da graduação, em 2000, ela acabou descobrindo o Centro de Radioastronomia e Astrofísica (CRAAM), porém, para realizar qualquer trabalho de iniciação científica, era necessário estar pelo menos no terceiro semestre do curso. Todavia a caloura não se deu por vencida e foi conversar com o pesquisador Jean Pierre Raulin, hoje coordenador do CRAAM, que mostrou para Pacini um vídeo sobre o Sol. “Eu me apaixonei pelo Sol. Eu vi o vídeo e pensei ‘acabou pra mim, é só essa estrela que eu quero estudar’”, aponta.

Convencido pela insistência, Jean Pierre acabou aceitando a caloura e deu início a uma parceria de longa data. Alessandra concluiu a graduação no Mackenzie e iniciou o Mestrado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em colaboração com o CRAAM. Ela continuou o doutorado no INPE, mas em parceria com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Desde 2016, ela mora nos Estados Unidos, já trabalhou em parceria com a NASA, e agora está no NOAA.

“O Mackenzie é uma referência para mim, não apenas de ambiente. Eu lembro do impacto que eu senti com respeito à qualidade das salas de aula, dos professores, a questão da pesquisa ser tão séria. O CRAAM é uma referência mundial naquilo que faz”, diz a pesquisadora.

Mulheres na Ciência 

Como forma de estimular meninas a seguirem na carreira científica, Alessandra Pacini já escreveu três livros infantis e possui um canal no YouTube. Em todos eles, ela aborda temas como espaço, clima espacial e o Sol. “Estimula uma faixa etária, em que costumamos perder as meninas, ali elas já começam achar ciência coisa de menino, umas questões de estereótipos sociais. Tudo isso ajuda a mantê-las interessadas até que elas possam fazer a decisão lá no Ensino Médio”, aponta.

Pacini acredita ser necessário uma maior participação de mulheres na ciência. “A ciência é uma atividade, primeiro, humana e a gente precisa ter diversos olhares para conseguir abordar os problemas globais que temos tem hoje”, finalizou. 

Na Lupa!

Com o objetivo de lançar luz à pesquisa científica desenvolvida na Universidade Presbiteriana Mackenzie, o Na Lupa! é um novo quadro de divulgação científica mackenzista. Com tradição em inovar e empreender, a pesquisa é uma das preocupações da UPM, o que coloca a instituição como uma referência no fazer científico. Toda investigação, apuração e verificação desenvolvida na universidade ganha agora um espaço para divulgação.