21.10.2024 - EM Atualidades

Coordenação

"A combinação entre emoção, ritmo e letra cria uma conexão entre ouvinte e artista"

A música, em sua essência, é uma das formas mais poderosas de comunicação. Sua combinação entre emoção, ritmo e letra cria uma conexão profunda entre o ouvinte e o artista, capaz de transmitir mensagens de forma sutil e, muitas vezes, nas entrelinhas. Ao longo da história, a música desempenhou um papel crucial em movimentos políticos, sociais e culturais, indo além das palavras ao unir elementos como melodia e harmonia, além dos já mencionados. Essa fusão amplifica a intensidade e o alcance das mensagens, tornando a música um veículo eficaz de comunicação emocional e sensorial.

O professor de Jornalismo Cultural da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Fernando Pereira, destacou a capacidade da música de provocar reflexão sem ser explícita em seu conteúdo. “A combinação de melodia, ritmo e letra cria uma linguagem universal que toca o emocional, permitindo que mensagens sejam transmitidas de forma sutil”. Segundo ele, a música é especialmente importante em contextos de censura ou repressão política, quando é necessário abordar temas delicados sem confrontar diretamente o poder estabelecido.

Esses significados ocultos, ou “nas entrelinhas”, permitem que a música seja interpretada de maneiras diferentes, dependendo do contexto social e do repertório cultural de cada ouvinte. Essa característica torna a música uma poderosa ferramenta de resistência e de expressão. 

Para o coordenador de Arte e Cultura (CAC) do Mackenzie, maestro Parcival Módolo, a arte, especialmente a música, tem o poder de moldar e transformar as pessoas. “A música mexe com o corpo, os neurônios, as células. A boa música faz bem para o organismo, é comprovado cientificamente que ela impacta positivamente o nosso sistema”, explicou.

Independentemente do conhecimento técnico musical do ouvinte, a música cumpre seu papel. “As pessoas não precisam entender música tecnicamente para apreciá-la. Mesmo que seja cantada em outra língua, a música já exerce sua influência”, adicionou Parcival.

A música, em diversos gêneros, continua sendo um veículo potente para a transmissão de mensagens. Mais do que apenas escutada, ela é sentida, criando uma experiência imersiva capaz de sensibilizar, mobilizar e transformar sociedades. Exemplo disso são canções que marcaram momentos históricos importantes, provocando discussões e promovendo mudanças sociais.

O professor Fernando Pereira lembra alguns desses exemplos:

- O Bêbado e a Equilibrista (1979), de Aldir Blanc e João Bosco – Um hino do fim da ditadura no Brasil e da luta pela anistia. A figura do “bêbado” representa o povo, enquanto a “equilibrista” simboliza a esperança em meio ao caos da repressão.

- Strange Fruit (1939), de Billie Holiday – Essa canção aborda o linchamento de negros nos Estados Unidos, utilizando a metáfora do "fruto estranho" para descrever os corpos enforcados nas árvores do sul racista.

- A Change is Gonna Come (1964), de Sam Cooke – Uma canção sobre a luta dos afro-americanos pelos direitos civis, com uma linguagem esperançosa e universal. A música foi adotada por movimentos em busca de justiça e igualdade ao redor do mundo.

A música, com sua capacidade única de tocar o emocional e o racional, continua sendo uma forma de arte essencial para a comunicação humana e a transformação social.