Raissa Estrela em frente a fachada da NASA

01.06.2021 - EM

Coordenação

"Raissa Estrela foi aluna do Programa de Pós-Graduação de Ciências e Aplicações Geoespaciais do Mackenzie "

A tese de doutorado “Exoplanet Atmospheres and Habitability”, da antiga aluna Raissa Estrela, do Programa de Pós-Graduação de Ciências e Aplicações Geoespaciais (PPGCAGE) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), ganhou o prêmio “PhD at large Prize” da 2020 IAU PhD Prize, realizado pela International Astronomical Union (IAU), que congrega astrônomos do mundo todo. O resultado está disponível no site

A premiação tem como objetivo reconhecer estudantes de PhD em astronomia e suas pesquisas científicas e é dividida em nove categorias, com diferentes temas, que entregam o prêmio ao candidato que apresentou o trabalho mais marcante do ano anterior e ainda ficam responsáveis em conceder o prêmio extra - o melhor de todos - desta vez conquistado pela mackenzista Raissa Estrela, que teve como orientadora a professora Adriana Válio, coordenadora do PPGCAGE.

Foram apresentadas 104 teses, defendidas entre 16 de dezembro de 2019 e 15 de dezembro de 2020. Os certificados serão entregues na próxima Assembleia Geral da IAU, que será realizada em Busan, na Coreia do Sul, em 2022. Todos os participantes receberão passagem aérea e acomodação, entre outras bonificações. Para a doutora, o prêmio traz visibilidade internacional para as pesquisas feitas no Brasil.

“Como mulher e cientista, isso me dá esperanças e também estímulo para continuar a fazer pesquisa diante de tantas dificuldades que enfrentamos para seguir a carreira de cientista no país”, pontua Raissa. 

Ela ainda menciona os cortes no orçamento para a área de atuação ciência e tecnológica, feitos no ano de 2021. “Espero que esse prêmio seja um alerta que ajude a mostrar o quão é importante investirmos, fazermos e reconhecermos a ciência feita no nosso país”.

Além disso, a doutora espera que seja um incentivo para que mais jovens brasileiros façam ciência. “Em especial para as mulheres, pois ainda somos minoria nas ciências exatas e em cargos mais elevados, além de viver em uma sociedade em que nosso trabalho é menos valorizado”, pontua. 

A pesquisadora iniciou seu mestrado no Programa de Pós-Graduação do Mackenzie em 2015, com uma bolsa da CAPES, onde desenvolveu sua pesquisa sobre os ciclos de atividade magnética em estrelas similares ao sol. Depois, continuou no programa para realizar seu doutorado, desta vez com bolsa pela FAPESP. Dentro do programa, Raissa teve acesso a cursos específicos da área e colóquios organizados pelo Mackenzie - importantes para sua formação. 

Ainda no doutorado, Raissa ajudou a desenvolver atividades mensais intituladas de “Journal Club”, nas quais eram discutidos artigos recentes da área e os doutorandos eram incentivados pelos professores a apresentarem suas pesquisas - uma forma de prepará-los para a vida acadêmica, cheia de palestras e conferências.

“A minha orientadora, professora Adriana Válio, me incentivou desde cedo a participar de conferências, publicar artigos e fazer conexões com pesquisadores no Brasil e no exterior. Ela é merecedora desse prêmio também”, destaca a mackenzista. 

Desde seu doutorado, Raissa trabalha na NASA - Jet Propulsion Laboratory (JPL), nos Estados Unidos, local em que teve a oportunidade de observar dados do telescópio Hubble - importante para sua tese. Hoje, é pós-doutoranda no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA.

Mesmo no exterior, manteve contato com sua orientadora, que diz ter muito orgulho de ter contribuído para a formação da  pesquisadora, além de discutir as ideias iniciais do seu trabalho de doutorado. “Devo enfatizar que a doutora Raissa Estrela sempre teve bastante independência e iniciativa em sua pesquisa. É uma excelente pesquisadora, com uma brilhante carreira pela frente”, elogiou Adriana Válio. 

Sobre a tese premiada:

Conversamos com Raissa Estrela para entendermos melhor qual foi seu objeto de estudo em seu doutorado: 

A tese “Exoplanet Atmospheres and Habitability” abrange diversas áreas do estudo de exoplanetas - aqueles fora do sistema solar - e foram explorados aspectos da formação e caracterização de suas atmosferas, com ênfase no papel dos aerossóis e fatores determinantes sobre a capacidade de habitação de cada um.

Segundo a pesquisadora, o estudo contribuiu com o desenvolvimento de um código que automatiza a extração dos dados do telescópio espacial Hubble para analisar a atmosfera de exoplanetas no comprimento de onda visível e caracterizar suas composições. “Nesse comprimento de onda, nós pudemos inferir espalhamento Rayleigh na atmosfera de exoplanetas devido a presença de aerossóis ou de hidrogênio”, explica. 

A presença de aerossóis é comum em objetos do Sistema Solar, segundo a doutora, e eles podem influenciar na temperatura ou até mesmo na proteção da vida, se presente, contra a radiação ultravioleta.

“Atualmente, a maioria das observações do Hubble são de planetas gigantes gasosos, mas a maior parte dos planetas detectados são pequenos, com tamanho de uma a quatro vezes o raio da Terra. O que torna ainda mais interessante, é que esses planetas pequenos terrestres podem ter uma atmosfera secundária, formada por processos geológicos ou até mesmo pela presença de vida, como é o caso da Terra e de Vênus”, conta.

A doutoranda explica que os pesquisadores estão cada vez mais interessados nesse tipo de planeta e sua tese investiga justamente a evolução de suas atmosferas. “Nós descobrimos que esses planetas terrestres seguem dois tipos de evolução: os que recebem baixa insolação (ou irradiação) da estrela-mãe aparentam seguir uma trajetória evolutiva similar a dos planetas terrestres do Sistema Solar. Já os planetas com alta insolação, começam sua vida como mini-Netunos e perdem sua espessa atmosfera inicial de hidrogênio e hélio, e viram planetas terrestres”, sinaliza.

Além da observação da atmosfera dos exoplanetas e o estudo da evolução dessas atmosferas, a tese de Raissa realizou a análise de um fator-chave para a habitabilidade de planetas terrestres, como a atividade da estrela-mãe. De acordo com a cientista, assim como o Sol, outras estrelas podem ter explosões magnéticas, que podem chegar a ser até 10.000 vezes mais fortes que as do Sol. 

Essas explosões magnéticas emitem uma grande quantidade de radiação, incluindo radiação ultravioleta (UV). “A radiação ultravioleta pode ser muito nociva para a vida. Aqui na Terra, nós, felizmente, temos a camada de ozônio, que absorve boa parte da radiação UV. Portanto, nós investigamos na tese se micro-organismos terrestres presentes na superfície de exoplanetas resistiriam à radiação UV emitida pelas explosões das suas estrelas-mães”, finaliza.