Artigo de professor de Fisioterapia do Mackenzie é publicado em revista internacional

05 de fevereiro de 2018 |

Nos últimos anos as crianças têm se tornado menos ativas, mais obesas e com mais fatores de riscos para doenças cardiovasculares. “Da década de 70 a 90 isso aconteceu por causa da televisão. Na última década isso se agravou ainda mais por conta dos dispositivos eletrônicos e os jogos, que antigamente eram físicos, como as brincadeiras de rua. Isso foi diminuindo e a criança passou a ficar só no ambiente eletrônico, o que inclusive aumenta o seu isolamento em relação às outras crianças”, explica o professor de Fisioterapia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Marcelo Fernandes.

Segundo ele, este cenário de crianças sedentárias, obesas e com riscos de saúde, fez com que a Organização Mundial da Saúde lançasse diversos documentos de incentivo a atividade física e reestruturação alimentar. Por isso, em parceria com a Universidade Federal de Sergipe, Marcelo propôs a realização do Teste da Caminhada de Seis Minutos (TC6), a fim de obter um valor de referência em relação a capacidade física das crianças brasileiras de sete a doze anos. O estudo foi publicado na revista internacional Respiratory Care.

Em todo o mundo, especialistas utilizam a distância percorrida por crianças em seis minutos como marcador de capacidade física. Países como Reino Unido, Tailândia, EUA, Índia, China e Áustria já conseguiram estabelecer esse valor. Com a conclusão do estudo, o Brasil chegou a um valor de referência, uma equação que pode ser utilizada em hospitais, centros médicas e clínicas, para analisar a capacidade física de uma criança.

Mas por que ter um valor de referência da criança brasileira é tão importante? “O teste foi feito em cerca de 1500 crianças saudáveis - divididas conforme a densidade demográfica de cada local. Com isso nós conseguimos comparar esse valor de uma criança saudável com outra criança doente e assim saber o impacto que aquela situação de doença, obesidade, hábitos inadequados gera de déficit nessa criança”, explica Marcelo, apontando que as diferenças culturais, étnicas, econômicas e sociais entre os países fazem com que cada população caminhe distâncias diferentes. “O que faz uma criança caminhar mais ou menos é a hereditariedade, seu nível de atividade física, sua condição de saúde, o meio ambiente. Tudo isso faz com que as crianças tenham diferentes distâncias percorridas a depender do país”, analisou.

Para o professor, o principal objetivo do estudo já foi cumprido: trazer para o Brasil um valor de referência que tenha abrangido todas as culturas, aspectos e regiões. Em um segundo momento o estudo pretende comparar a capacidade física entre as crianças do Brasil. “Foi visto, por exemplo, que uma criança do Norte caminha em média 439 metros, enquanto uma da região Centro-oeste caminha 566. São 100m de diferença e isso não é pouco. Provavelmente o que influencia a diferença de uma região para a outra, sejam as diferenças culturais, étnicas, demográficas, econômicas”, relata.

Outro ponto abordado foi a questão de gênero, que pode ser estudada a partir do valor de referência. Existe uma diferença da capacidade física de meninos e meninas. Muitos países implicam que brincar de bola é só coisa de menino e as meninas ficam de fora das atividades físicas. Este é outro ponto que pode ser estudado futuramente.

O experimento foi realizado com o apoio de outras onze universidades de todas as regiões brasileiras. O teste foi feito em um percurso marcado por cones, onde a criança precisaria caminhar o máximo que conseguisse em seis minutos. “Diferente de uma aula de educação física, o teste não requer um esforço máximo da criança”, explica Marcelo. (Você pode ver o teste neste vídeo!

Para saber mais detalhes sobre o estudo, confira a versão online do artigo original publicado na Revista Internacional Respiratory Care (em inglês) aqui. 

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