Mais do que uma obrigação, organização deve ser um hábito
17 de setembro de 2020 | Colégios Universidade Destaque São Paulo - Higienópolis Palmas Castro Brasília - Lago Sul Tamboré
Steve Jobs disse certa vez que “você não pode impor a produtividade, você deve fornecer as ferramentas para permitir que as pessoas se transformem no seu melhor.” E nessas ferramentas estão, certamente, todos os meios possíveis para que ela exerça e desenvolva sua capacidade de organização. A organização está diretamente relacionada à produtividade. A capacidade ou não de organização de uma pessoa é uma característica que vai definir cada passo de sua vida, da infância à maturidade, nas mais diversas circunstâncias.
Para Keila Dias Zarzur Frassei, orientadora educacional do Colégio Presbiteriano Mackenzie Tamboré, a organização, quando aprendida precocemente, gera segurança emocional, pois estabelece a ordem e o cuidado com os próprios pertences, refletindo, posteriormente, em saber respeitar seu espaço e o lugar do outro. Para ela, antes de desejar imprimir qualquer característica ou mudança na criança, é de extrema importância que os adultos sejam exemplos e sirvam de parâmetro para que seus filhos observem cenas de organização dos pais com seus objetos e nas demandas da casa.
Já o professor doutor Ítalo Francisco Curcio, coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), defende que o modelo de ordem nem sempre é igual entre pessoas ou instituições, porém é imprescindível que exista e seja pré-estabelecido. “Nesse contexto, por se tratar de um preceito cultural, é importante que a criança seja orientada, desde seus primeiros momentos de vida, pelos diferentes meios de comunicação mantidos com ela”, argumenta. Como exemplo, o professor Curcio cita que, “desde cedo, a mamãe estabelece ordem no intervalo de tempo entre as mamadas. À medida que a criança vai crescendo, outras práticas, ações e valores lhe são agregados e passíveis de ordem. Por isso, é importante ensinar as crianças a se organizarem; praticando-se a ordem com a criança, ela assimila a prática naturalmente. Se a criança não for submetida a essa prática, ela não poderá assimilar o conceito de ordem”, adverte.
Keila também acredita nisso. Para ela, ainda na tenra idade, as crianças passam a imitar as atitudes e os modelos percebidos em família. “Pouco a pouco, começam a reproduzir novas formas de conhecimento e, então, são despertadas a criar suas próprias estratégias e transitam de expectadoras para autoras das peculiares decisões de como devem fazer e organizar objetos e o seu ambiente”, analisa.
“Sabemos que o hábito é adquirido no fazer diário e a inspiração virá daquele que cuida dessa criança e já começa desde cedo a pedir sua ajuda. O espaço no qual a criança concentra o seu brincar é o ideal para transmitir esse saber, pois o brinquedo é uma ferramenta lúdica que permite aos mais novos absorver conceitos e compreender demandas”, sugere a orientadora.
Mas, e se mesmo com toda a orientação, e exemplos recebidos dos pais, as crianças cometerem falhas e deslizes? Segundo o professor Curcio, a criança, como todos nós, está sujeita a inúmeras informações, por diferentes meios de comunicação. Por isso, é possível que em certos momentos venha a transgredir a ordem que lhe foi estabelecida no lar, na escola ou na sociedade como um todo. “Isso é algo normal e não deve afligir o adulto, em particular os pais, pois a criança está em desenvolvimento. Durante esta fase, a criança apresenta, naturalmente, iniciativas próprias diante das informações e exigências que lhe são feitas. Isto não deve ser visto como afronta ou indisciplina, mas como fruto do próprio desenvolvimento”, adverte. “Todavia, deve ser corrigida e orientada para a ordem pretendida".
No entanto, diz ele, a criança não pode ser simplesmente podada, pois não é raro de se ver que sua própria iniciativa pode ser também muito boa para ela, mesmo que seja diferente do que lhe foi apresentado. "Na questão da ordem, a criança poderá estar desenvolvendo uma prática própria, às vezes até mais eficaz que a estabelecida pelos pais ou professores. Por isso, é preciso cautela, discernimento e criteriosa avaliação por parte dos pais e professores antes de uma possível repreensão, a qual poderá até ser prejudicial no desenvolvimento da personalidade da criança”, pontua.
Organização no dia a dia
Para o professor Curcio, a inserção da criança na organização do dia a dia não pode ser feita de maneira impositiva ou sem critérios, deve ser mostrada, sobretudo, pelo exemplo dos mais velhos. “Se os adultos com os quais convive são desorganizados, a criança cresce confusa e não conseguirá discernir o que é ordem”, alerta.
Sobre isso, a professora Keila afirma que estabelecer rotinas de organização na vida da criança pode influenciar em seu futuro como um adulto, uma vez que as experiências de organização somadas na infância contribuem para a formação de um adulto integrado com suas metas, seguro na tomada de decisões, consciente de que sua participação deve ser proativa em todos os cenários que estiverem inseridos na vida pessoal e profissional.
O psicólogo alemão Erik Erikson destacou-se por meio de suas obras com o conceito de que o ser humano está em constante desenvolvimento, desde o instante em que é gerado no ventre da mãe, até seu último instante de vida. “Isto mostra que este desenvolvimento não se dá aos pulsos, aos “trancos”, mas continuamente”, esclarece o professor Curcio.
“De mesmo modo, o hábito da organização também deve ser assim, ou seja, apresentado à criança continuamente”, analisa o coordenador.
Para ele, a organização não é a única prática ensinada à criança, porém, é uma das mais importantes, pois dá suporte a outras ações e atividades necessárias em seu dia a dia. “A criança não pode se alimentar direito se não houver ordem, não pode estudar se não houver ordem, não pode cuidar de seu asseio corporal se não houver ordem, por isso, o hábito da organização é imprescindível”, enfatiza.
Brincar
O termo organização parece estar bem distante do brincar. Mas a professora Keila reforça que “brincar é coisa séria”. Segundo ela, “nesse jogo simbólico a criança deposita suas emoções e pode compreender algumas etapas que vivencia no processo, entre as quais, e a priori, absorve que tudo tem início, meio e fim e trará isso como parte integradora de sua personalidade".
Curcio concorda. Segundo ele, brincar não exclui responsabilidade. “Brincar faz parte do cotidiano da criança, portanto, se enquadra em seu rol de atividades. Assim sendo, também deve ser organizada, e não apenas em sua especificidade, pois as brincadeiras são desenvolvidas sob certa ordem, mas também na distribuição das atividades ao longo do dia, com o estabelecimento de prioridades. Isso tudo é ordem, é organização”, diz o coordenador.
Organização e estudo
A orientadora educacional Keila destaca que estudar requer não só organização, mas também perseverança e espírito investigativo, que abre fronteiras para visualizar o todo e também as partes que compõem um tema em estudo. “Isso proporciona ao estudante a otimização do tempo, visto que, assim, ele pode compreender seu ponto de partida, mas visualiza aonde quer chegar, na perspectiva de um processo que tem início, meio e fim, fruto da organização aprendida e experimentada desde a infância”, afirma.
O professor garante que se mostrarmos à criança, de forma cuidadosa, com critérios e explicações adequadas, que a organização das atividades diárias é algo imprescindível e que torna sua vida mais tranquila, com menos estresse e ansiedade, ela entenderá e assimilará com prazer essa orientação, pois perceberá seus sucessivos êxitos, almejados em suas atividades, tanto lúdicas quanto não lúdicas.
“Por outro lado”, diz ele, “cultivando-se a organização desde criança, fazendo com que seja entendida pela criança como algo natural e indispensável, ao passar pela adolescência, o sujeito não terá surpresas ou traumas e, ao chegar à vida adulta, ter-se-á um cidadão organizado, com métodos e estratégias, próprias ou de outrem, sempre úteis para a solução de seus eventuais problemas e cumprimento de sua responsabilidade”, analisa.
O professor conclui, enfatizando que é preciso cautela e critérios ao se apresentar que a organização deve ser um hábito, portanto, mais que uma obrigação. “Mostrando-se que a organização nos estudos – vistos com prazer e não por imposição – só traz benefícios, desde criança, o ser humano entenderá que estudar é muito bom, é gostoso”, garante.
“Lança o teu pão sobre as águas, porque, depois de muitos dias, o acharás” Eclesiastes 11:1
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