Marco Tullio de Castro Vasconcelos, reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Foto: NTAI/Mackenzie
Universidade, faculdade, instituto, centro universitário… a educação superior é plural, e as várias denominações existentes nesse universo podem confundir os que o observam de fora ou quem nele acaba de chegar. Quais são as diferenças entre esses tipos de instituição, e o que define a universidade? O que ela faz e como se relaciona com a sociedade da qual faz parte? Hoje, gostaria de falar a respeito da história universitária de modo geral e do que significa, para o Mackenzie, carregar isso que não é simplesmente um “rótulo”, e sim uma missão e um compromisso.
Para isso, é preciso retroceder algum tempo na história. No Ocidente, a primeira universidade surge na alta Idade Média, com a fundação da Universidade de Bolonha em 1088. Oito anos depois, na Inglaterra, é fundada a Universidade de Oxford. Por toda a Europa, o período medieval foi prolífico em fundação de universidades. No continente americano, a pioneira foi a Universidade Maior de São Marcos, de 1551, localizada no atual Peru. No mesmo ano, a monarquia espanhola instalou a Universidade Nacional Autônoma do México. No Brasil, a primeira surge em 1920, no Rio de Janeiro, com o nome Universidade do Brasil.
Para o Mackenzie, a trajetória começa no final do século XIX, com a criação de nossos primeiros cursos superiores: o de Filosofia, criado em 1885, e o de Comércio, de 1890, ambos ligados ao Mackenzie College. Em 1896 fundamos a Escola de Engenharia — primeira faculdade privada de Engenharia do Brasil e uma das pioneiras do país nessa área. Os cursos de Química Industrial e Engenharia Química nasceriam no início do século seguinte, assim como o primeiro curso de Biblioteconomia em 1930, a utilizar as técnicas norte-americanas, que vigoram até hoje no país. Em meados do século, a Instituição criaria novas faculdades, agregando cursos já existentes nas áreas de Ciências Humanas e Sociais: a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras é criada em 1946; a Faculdade de Arquitetura, cujo curso foi separado da Escola de Engenharia, em 1947; e a Faculdade de Ciências Econômicas em 1950.
No início da década de 1950, portanto, o Mackenzie possuía uma configuração institucional e espacial muito diferente do que era comum no Brasil. Éramos um conjunto de faculdades privadas, unidas sob a mesma mantenedora, com cursos em diferentes áreas do conhecimento. Além disso, compartilhávamos do mesmo espaço físico, o quarteirão entre a rua Maria Antônia e a rua da Consolação, no centro de São Paulo. Essa estrutura fez com que em 1952 o governo federal reconhecesse o Mackenzie como universidade. A Universidade Mackenzie foi instalada em 16 de abril daquele ano pelo Decreto Federal nº 30.511, de 7 de fevereiro. Os primeiros a ocupar os postos de reitor e vice-reitor da nossa universidade foram o engenheiro Henrique Pegado e o arquiteto Christiano Stockler das Neves, respectivamente.
Quase 70 anos nos separam dessa data, e só podemos nos orgulhar de tudo que foi realizado desde então. Gerações de professores, alunos e funcionários mobilizaram esforços e energia na criação e manutenção de novos cursos de graduação e pós-graduação, em atividades de pesquisa em laboratórios e na realização de atividades de extensão. Cada uma de nossas unidades acadêmicas (faculdades, centros e escolas) desempenha um conjunto de atividades, entre o dia a dia da sala de aulas de graduação, cursos de pós-graduação, cursos livre e atividades de pesquisa, que marcam a vida acadêmica mackenzista.
Cito essas atividades porque são elas, precisamente, que definem a universidade: ensino, pesquisa e extensão. As partes que compõem esse tripé são formalmente indissociáveis, conforme o art. 207 da Constituição Federal, e oferecem ao discente um amplo leque de vivências em sua formação. Faculdades são organismos concentrados em uma área específica do conhecimento e/ou com uma menor oferta de cursos. Quando a faculdade é uma instituição independente, e não parte de uma universidade, ela não precisa necessariamente produzir atividades de pesquisa e extensão. Na universidade, esse vínculo entre ensino, pesquisa e extensão não é rompido em momento algum.
A pesquisa é o fazer estritamente científico que no Mackenzie exercemos em laboratórios e projetos de pesquisa em diversas áreas do conhecimento, do Direito à Bioquímica. O pesquisador, pautado pelo pensamento crítico e munido de técnicas e ferramentas específicas de sua área, está apto a investigar diferentes problemáticas do conhecimento. É por meio da pesquisa que podemos conceber e testar soluções para problemas, encontrando respostas para desafios comuns a toda a sociedade e fazendo a nossa parte para garantir um mundo melhor para as futuras gerações. Por isso, em 1997 criamos o Fundo Mackenzie de Pesquisa, mais conhecido como Mack Pesquisa, que já financiou centenas de iniciativas nos níveis de graduação e pós-graduação. Nossos grupos de pesquisa constituem uma importante marca de nossa instituição. Nossos programas de mestrado e doutorado, por sua vez, são conhecidos por formar pensadores críticos e antenados com o mundo.
A UPM encontra, no vasto elenco das atividades de extensão, um elo forte com outros segmentos da sociedade, na medida em que partilha de sua responsabilidade social para a construção do bem comum. Aqui, o fazer extensão é, por natureza, ultrapassar os muros da chamada “academia” para disponibilizar o conhecimento, a ciência, a inovação a serviço do outro e, também, com ele construir. É fazer para e é fazer com. Desse modo, trata-se de uma contínua inter-relação por meio de programas, projetos e outras ações, constituídas e organizadas para promover “a interação transformadora entre as instituições de ensino superior e os outros setores da sociedade, por meio da produção e da aplicação do conhecimento, em articulação permanente com o ensino e a pesquisa”, tal como estabelecido em Resolução do Conselho Nacional de Educação.
A universidade existe na sociedade e pela sociedade. Longe de ser um trabalho distanciado da realidade concreta, a pesquisa, tanto básica quanto aplicada, é um espaço para questionamento, análise e descobertas de novas ferramentas e soluções, com potencial para impactar positivamente a todos nós. A Universidade Presbiteriana Mackenzie firmou esse compromisso público, e nós o renovamos todos os dias. Como reitor, tenho admiração por essa história e pelo fato de podermos afirmar que nossa Universidade não só forma profissionais capacitados e conscientes de sua função social, mas também cultiva diariamente a investigação científica e o olhar solidário para com o outro, que é por quem trabalhamos. Vale mencionar, para finalizarmos esta conversa, que universidades e demais instituições de ensino superior, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, podem ser comunitárias, assim como é a UPM. Mas este é assunto para uma próxima oportunidade.