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Robinson Grangeiro Monteiro, chanceler do Mackenzie.
Foto: NTAI/Mackenzie
No dia 16 de abril de 1952, instalou-se oficialmente a UPM, com a presença do Ministro da Educação, várias autoridades civis municipais, estaduais e federais, dos três poderes, autoridades militares, corpo docente e discente, tendo à frente o seu primeiro reitor, o engenheiro Henrique Pegado, conforme nos relata o clássico livro de Benedicto Novaes Garcez, em sua terceira edição.
No livro Trajetória histórica, praças e diálogos, da Coleção dos 150 anos da Editora Mackenzie, somos informados que naquela década de 1950, a população da cidade São Paulo quase dobrou, saindo de pouco mais de 2,2 milhões para 3,7 milhões, perfazendo em sua região metropolitana 4,7 milhões, composta em grande parte de migrações internas no Brasil, principalmente de nordestinos como eu, visto que os fluxos imigratórios de populações estrangeiras já tinham tido seu auge ao final do século XIX e na primeira metade do século XX.
Nesta cidade pujante, da qual o Mackenzie é filho ilustre desde 1870, a joia da coroa mackenzista — a Universidade Presbiteriana Mackenzie, ainda naquela época sem o epíteto “Presbiteriana” — surge como um rio caudaloso, alimentado por quatro afluentes importantes — a Escola de Engenharia, a pioneira fundada em 1896; a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, fundada em 1946; a Faculdade de Arquitetura, fundada em 1947; a Faculdade de Ciências Econômicas, fundada em 1950, acrescidas da Faculdade de Direito, fundada em 11 de outubro de 1954.
Esses afluentes que compõem o jardim chamado Mackenzie me fazem lembrar o relato de Gênesis 2, em que se diz que o Éden era alimentado por um único rio, que se repartia em quatro braços: o Pisom, Giom, Tigre e o Eufrates. Ali, diz o texto sagrado, o Senhor Deus colocou o primeiro casal criado para cultivar e guardar o jardim, com uma ordem expressa de que de todo o esplendor dos frutos das árvores ali existentes lhes era permitido comer livremente, com uma única exceção. Estava interditado a eles comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque, se eles comessem, certamente morreriam. O resto, como dizem os bons cronistas, é a história que todo mundo conhece.
Em 1952, o Senhor Deus, usando da instrumentalidade humana, criou a Universidade Presbiteriana Mackenzie como um jardim com uma plêiade exuberante e abundante de frutos, a partir de uma pequena semente — a Escola Americana — plantada em 1870 e irrigada por suas unidades de ensino, pesquisa e extensão, que já não são em número de quatro, mas já chega a quase uma centena de faculdades, programas e cursos na graduação, pós-graduação lato e strictu sensu, educação digital, educação continuada... Enfim, uma universidade que é um verdadeiro jardim, em três campi: Higienópolis, Tamboré e Campinas.
Infelizmente, a história que Moisés conta no Gênesis traz o capítulo 3 depois do 2, e esta é a parte que o jardim se torna um lugar de não permanência para Adão e Eva, porque eles colocaram para dentro deles e do jardim o que deveria estar fora, acabaram por ter de sair do lugar onde Deus os colocou e se tornarem errantes no deserto da ausência do criador.
E tudo porque simplesmente se empanturraram de pecado — mesmo com apenas um único fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Sim! A ambição de querer ser igual a Deus — conhecedor do bem e do mal — porém, sem a perfeição santa e justa do Criador, fez com que o conhecimento se tornasse soberba e vaidade. Por isso, o pregador Salomão em Eclesiastes lembra que “na muita sabedoria há muito enfado, e quem aumenta o seu conhecimento, aumenta também a sua dor”, visto que só o temor ao Senhor é o princípio e a finalidade da sabedoria.
Eis aí o grande risco, Universidade Presbiteriana Mackenzie, na medida em que se torna um jardim imenso e povoado aos milhares, com alguns dos cérebros mais brilhantes do país: o conhecimento por si só não é virtude e pode facilmente tornar-se em desgraça!
Lembro-me de um de meus poetas e escritores preferidos, Rubem Alves, em um de seus melhores textos intitulado “Sobre política e jardinagem”. Ele diz: “Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades; sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oásis. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu ‘o que é política?’, ele nos responderia: ‘A arte da jardinagem aplicada às coisas públicas. O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar exclusivamente para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se a sua volta tudo é um deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim. Por isso, quem pensa em minutos não tem paciência para plantar árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las’”.
Parabéns! Universidade Presbiteriana Mackenzie por seus 70 anos!
Que venham muitos, que venham mais.
Deus nos abençoe.