“Corrupção: o Brasil pós-Lava Jato” é tema de debate no Mackenzie
14 de junio de 2019 | Atualidades Ética e Cidadania Pesquisa e Inovação Universidade Campus Higienópolis Destaque
A operação Lava Jato é considerada, segundo publicação no site do Ministério Público Federal, a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve. Ex-presidentes, governadores, senadores, deputados, empresários e lobistas foram presos. Mas, passada a fase mais importante da operação, como assegurar que novos esquemas de corrupção não se instalem no governo?
Pensando nesse cenário, o Centro Mackenzie de Liberdade Econômica (CMLE) do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) realizou, no dia 10 de junho, o debate “Corrupção: o Brasil pós-Lava Jato”, no auditório do João Calvino, no campus Higienópolis.
O evento contou com a presença de Adriana Ventura, deputada federal (Novo-SP) e presidente da Frente Parlamentar Ética de Combate à Corrupção; Monica Rosemberg, primeira suplente de deputada federal (Novo-SP) e secretária-executiva da Frente Parlamentar Ética de Combate à Corrupção; Roberta Muramatsu, professora de Graduação e Pós-Graduação da UPM; e Ana Lucia Fontes de Souza Vasconcelos, professora de contabilidade e membro do Mestrado Profissional em Controladoria e Finanças Empresariais (PPGMPCFE) da UPM.
Diferentes perspectivas
No debate, cada palestrante abordou o tema por meio de perspectivas diferentes. Ana Lucia tratou sobre a questão de Ensino, Pesquisa e Extensão e como as informações contábeis ajudam no combate à corrupção. “Nós pretendemos que nossos alunos se formem, sejam contadores íntegros que vão servir o Brasil de uma forma correta”, afirma ela. Ainda no âmbito acadêmico, Ana Lucia afirma que é extremamente importante trazer pautas como essa para dentro da Universidade, afinal, a corrupção é feita por pessoas. “São atitudes, que eu faço ou não faço, que eu nego, ou aceito. Então aqui nós trabalhamos o caráter desses profissionais, desde a graduação”, explica.
Já Monica falou sobre a questão histórica e quais foram as condições para que a operação Lava Jato fosse instaurada. Para ela, os jovens vão fazer a mudança de cultura necessária para combater a corrupção e é fundamental essa discussão dentro da Universidade.
A deputada Adriana foi mais direta e abordou o tema da corrupção em si. “É um problema que aflige todos nós. Todos os dias precisamos trazer esse assunto para um debate, inclusive perceber que a corrupção começa nas pequenas coisas”, pontua. Além de falar sobre a cultura da corrupção instalada no Brasil, a deputada conta sobre a frente parlamentar da qual é presidente. “Além da parte de fiscalização e legislação, nós temos a parte da educação, que fala sobre prevenção. Nós trazemos a sociedade para discutir”, explica.
Como esclarece Ana Lucia, a UPM possui parcerias com órgãos de controles externos, como a Controladoria Geral da União (CGU) e o Ministério Público (MP), que realizam palestras na Universidade. Para a professora, também é importante tentar mudar a mentalidade da população, de que a corrupção só acontece em grandes proporções. “Quando o aluno está na sala fazendo uma prova e olha a prova do colega, você já enxerga um desvio, e nós precisamos conversar sobre isso”, pontua.
“Corrupção é um fenômeno super complexo, multidimensional, que desde sempre preocupa pessoas dentro e fora do meio acadêmico, principalmente porque gera consequências perversas, tais como pobreza, ineficiência, redução de qualidade de vida para todos e incentivos para novas ações trapaceiras”, conta Roberta.
Segundo ela, recursos mal alocados implicam em sua falta, até mesmo ações desonestas nos setores de Saúde, Segurança Pública, Educação e tantos outros. “Punir figuras importantes do mundo empresarial e político é tarefa essencial para abrir espaço para imaginarmos um mundo no qual as pessoas são tratadas da mesma forma perante a lei, e em que terão de arcar com as consequências dos atos dos criminosos”, adiciona ela.
Ainda segundo a professora Roberta, a UPM pesquisa e ensina abordagens de corrupção, seus alcances e limitações. “Interagir com pessoas fora da UPM, envolvidas com o debate sobre corrupção, permite um diálogo fundamental para aproximarmos o abstrato e o concreto. Nossa preocupação era abrir diálogo e reflexão sobre a corrupção no Brasil, com insights de gente que trabalha dentro e fora de universidades. Precisamos fazer mais eventos como este”, assinala Roberta.
Mulheres na política
“Um estudo da University of Virginia defende que países com mais mulheres na política possuem menos corrupção”, comenta Monica. Esse estudo foi publicado no Journal of Economic Behavior & Organization pelos pesquisadores Chandan Cuma Jha e Sudipta Sarangi, do departamento de Economia da universidade. “É uma questão de representatividade que evidencia a relevância da mulher no ramo. Em alguns temas, a ela tem muito mais clareza e objetividade para discutir e se tivesse mais mulheres nessa temática de ética e corrupção, com certeza seria mais debatido”, acrescenta Adriana.
“É muito importante o Mackenzie ter reunido quatro mulheres para falar de uma pauta que é, em geral, dos homens”, comenta Monica, que ficou surpresa ao saber que havia só debatedoras no evento. “Não são quatro mulheres falando de cota, nem de violência doméstica. São quatro mulheres falando sobre corrupção. Quando as mulheres podem discutir as mesmas pautas que os homens, isso sim é igualdade”, alega ela.
Para Adriana, falta ainda a participação feminina na política e, por essa razão, a escolha da composição da mesa foi fundamental. “Vocês sabem que nós somos sub-representadas. Na Câmara dos Deputados, nós somos 77 mulheres, o que representa 15%. Ainda é muito pouco!”, finaliza.
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