Mulheres no jogo
21 de junio de 2018 | Esportes Nossos Talentos Universidade
“O xadrez é um calmante para todas as horas, um passatempo que serve para tudo. Me faz bem!”. A frase é de Julia Alboredo, que aos cinco anos de idade já sabia jogar xadrez por causa de seu pai. No colégio em que estudou, o jogo de tabuleiro era uma disciplina obrigatória, mas isso não foi um problema e só fez com que ela se apaixonasse ainda mais pelo esporte, disputando seu primeiro campeonato aos sete anos de idade.
Hoje, a estudante de Química da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) faz parte do nosso time na modalidade, conquistou recentemente a medalha de prata no xadrez feminino durante os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) e é a atual campeã do Brasil.
Só isso já bastaria para destacá-la, mas Julia vai além, percebendo a falta de mulheres no esporte, começou o projeto “Damas em ação” para incentivar a inclusão no xadrez. Conheça mais sobre essa história, a seguir, na conversa que tivemos com ela:
Qual é a relação entre Química e xadrez?
Nenhuma (risos). Todo mundo me pergunta isso, mas não tem a mínima relação direta.
Desde quando você está no Mackenzie? Você sabia que tínhamos um time de xadrez?
Eu entrei no Mackenzie recentemente, em 2018 mesmo. Já tinha cursado dois anos de Química em outro lugar quando decidi fazer a transferência para cá, pois acabei conhecendo a delegação esportiva do Mackenzie, que me motivou bastante.
Na minha antiga faculdade, eu era única atleta, lá não tinha essa tradição do esporte, então eu fiz o vestibular para o Mackenzie, entrei e consegui uma bolsa atleta.
Como se tornou a atual campeã brasileira?
Eu ganhei o campeonato brasileiro no ano passado, mas eu não esperava. Foi bem na época de provas e, por isso, não estava me dedicando muito ao xadrez, né? Fiquei surpresa porque, no ano retrasado, quando havia estudado bastante para o campeonato, acabei ficando em terceiro lugar.
E como você se prepara para os jogos, como treina?
Eu leio muitos livros que falam sobre conceito do jogo em si. E, para treinar mesmo, tenho meu professor particular, além de estudar jogando online.
No xadrez, você também analisa os gestos do adversário, como no pôquer?
Quando você está competindo, até existem esses jogos psicológicos, entretanto, eu não uso muito, e nem reparo se a pessoa está olhando para mim ou não. Eu presto mais atenção ao jogo mesmo. Mas há isso sim, em especial quando o oponente é considerado mais forte e quer te intimidar.
Além dos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs), você já competiu pelo Mackenzie?
Essa é a segunda competição pela Universidade Mackenzie. A primeira foi o paulista universitário, um torneio em equipe, e nós ganhamos! Nos JUBs desse ano, eu consegui a medalha de prata, em 2017 eu havia conseguido o ouro. No entanto, fiquei feliz com a prata agora, o nível dos atletas deste ano estava mais alto.
Você costuma jogar por hobby?
É meio difícil conciliar por causa da faculdade, mas eu tento. Meu pai não tem muito tempo, porque trabalha bastante e meu irmão não gosta do jogo. Então, treino online mesmo, ou com meu professor. Faço aulas uma vez por semana.
Quanto tempo costuma durar uma partida de xadrez?
Online, geralmente, jogo partidas rápidas, que duram no máximo 10 minutos. Já em campeonatos importantes, as partidas podem durar de cinco a cinco horas e meia. A partida que durou mais tempo na minha vida foi uma de seis horas e meia. Foi muito cansativo e eu ainda empatei no final (risos), mas ficou marcado porque eu nunca tinha jogado por tanto tempo antes.
Fora o xadrez, o que você gosta de fazer?
Ah, eu pratico vários esportes. Tênis, tênis de mesa, futebol, vôlei... Aproveitando, fiquei sabendo, recentemente, que é possível fazer dois esportes ao mesmo tempo aqui no Mackenzie, então vou participar de uma seletiva no semestre que vem!
Sobre o Damas em Ação: o que te inspirou a criar esse projeto?
O xadrez masculino é muito mais conectado. O feminino é mais individualista e não procura unir as meninas. Então, numa conversa com outra atleta, perguntei se ela não tinha uma ideia de conseguirmos algum meio de treinar para as Olimpíadas de setembro. Decidimos chamar as meninas que vão para as Olimpíadas e as incentivamos a praticarem o jogo, pois era muito gritante a diferença de força.
Em geral, por uma questão até de costume, os homens são muito mais fortes no esporte, no Brasil e no mundo, inclusive em números. Teve um torneio em que fui a única mulher de 150 pessoas e eram vários países participantes. Me senti muito desconfortável, apesar de ter ido bem na competição. Essa situação nunca havia me acontecido antes, de ser a única mulher no campeonato.
E como está o projeto?
Apesar de nos reunirmos, ainda não estamos treinando juntas. Nós estamos juntas para falar sobre o projeto e apontar novas ideias. Para treinar mesmo, vamos fazer uma viagem em julho deste ano para a Espanha, porque lá é o polo do xadrez mundial e tem os torneios mais fortes. Nós contratamos um treinador da Espanha, com o dinheiro que estamos arrecadando com o projeto - vendendo rifas e recebendo doações no nosso site. E, para dar continuidade ao projeto, queremos chamar novas gerações, meninas que estão se destacando, que realmente querem participar do Damas em Ação.
Você citou Olimpíadas em setembro deste ano?
Ah, só para explicar, o xadrez é um esporte olímpico também, mas nós competimos de maneira separada da tradicional. Neste ano, vamos jogar em setembro, na Geórgia, um país da Europa.
Se você pudesse definir o xadrez...
É tudo! O xadrez me ajuda em muitas coisas: quando estou nervosa, jogo xadrez e me acalmo. Quando estou estressada por causa das provas, por exemplo, jogo um pouco na internet e fico bem. É um calmante para todas as horas. É um passatempo que serve para tudo. Me faz bem!
Quais são suas metas como atleta?
Eu quero ser a número um do Brasil, viver isso profissionalmente, sabe? Mas é muito difícil, porque há pouco apoio ainda. Se isso mudar, acredito que seria um caminho muito bom viver do xadrez.
A próxima competição de Julia Alboredo pelo Mackenzie será em setembro. A atleta vai competir no Mundial Universitário, em Aracajú, Sergipe. Representando o Brasil, no mesmo mês, a atleta irá a Batumi, na Geórgia, para disputar as Olimpíadas. Fique ligado nas nossas redes para saber mais sobre a nossa atleta mackenzista!
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