Inclusão de pessoas com transtornos na economia
21 de fevereiro de 2019 | Economia Ética e Cidadania Parcerias Saúde e Bem-Estar Sustentabilidade Universidade Campus Higienópolis Destaque
“Vivemos um momento de paradigma social em que a economia cresce e se desenvolve com um modelo instituído em que muitas pessoas surfam com facilidade, mas há uma realidade crescente de pessoas que não se enquadram nesse modelo e que têm transtornos, problemas psicológicos e dificuldade em lidar com o trabalho, relação social e pressão atuais, isso sem contar os casos mais patológicos. Dessa forma, aproximar esses temas da academia significa preparar estudantes, pesquisas e realizar ações para uma realidade mais colaborativa, inclusiva e solidária”.
A afirmação de Ivo Pons, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design (FAU) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), resume o evento “Mão na massa: Rede de Saúde Mental e Economia Solidária”, realizado em parceria da FAU; Rede de Saúde Mental e Economia Solidária; Projeto Redes II, do Instituto Redes; e Governo Federal. O encontro comemora os 10 anos da fundação da Rede, e ocorreu em 21 de fevereiro no campus Higienópolis do Mackenzie, visando discutir ações para promover a inclusão social e no mercado de trabalho de pessoas com sofrimento psíquico e/ou que fazem uso abusivo de álcool e/ou outras drogas.
Com um formato dinâmico, o evento teve apresentações curtas de seis autoridades no tema, seguidas de reuniões de grupos de trabalho formados por participantes da Rede, trabalhadores-usuários, técnicos e outros profissionais.
A mesa contou com Sonia Francine Gaspar Marmo, vereadora de São Paulo; João Sérgio, diretor financeiro do Instituto Rede; Alan Franchesco Previley Contesini, psicólogo pela Universidade Regional de Blumenau (FURB) e integrante do grupo de pesquisa Economia Solidária, Trabalho e Desenvolvimento Regional, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da FURB; Luís Felipe Fero, doutor pelo departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de São Paulo (USP), professor do departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Paraná (UFPR); e Ana Luisa Aranha e Silva, professora Associada do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da USP.
Articulação e construção de relações
Como destaca Ana Luisa, o que manteve a iniciativa atuante nestes 10 anos foi a capacidade de articulação e de construção de relações. “Nascemos como um movimento da sociedade civil organizada e temos de manter nossa pauta de construir e transformar a sociedade. É preciso retomar discussões sobre políticas públicas e refletir sobre a importância de tais ferramentas para melhoria do Brasil”, afirma.
Para Contesini, o maior desafio é estruturar grupos e criar espaços de comercialização para que tais empreendimentos alternativos vendam seu trabalho. “Estamos em parcerias com universidades para o desenvolvimento desse trabalho e a proximidade com a academia só melhora esse ambiente”, coloca.
Ideia que encontra respaldo na fala de Pons sobre a atuação da Rede em construir uma estrutura de colaboração, apoio e alternativa para ressignificar o trabalho para as pessoas que não se enquadram no modelo que temos hoje. “Precisamos atrair para a universidade este tipo de iniciativa para nos ‘contaminarmos’ e também para que possamos formar pessoas preparadas para essa realidade, que possam atuar na forma de pesquisa, extensão, contribuindo para o crescimento desse movimento”.
Quanto ao ponto de toque entre as ações e o Design, Pons enfatiza que o Design Social é uma área na qual o Mackenzie já atua há alguns anos, ajudando grupos produtivos a se desenvolverem, incluindo pessoas com transtornos nas estruturas de trabalho. “Recentemente, estamos assumindo uma posição de destaque em inovação usando o Design Thinking como uma ferramenta de dinâmica social e isso mostra o potencial do Design como estratégia de inovação contínua”, completa o professor da UPM.
Já a vereadora Sonia, que esteve representando o Poder Legislativo, tratou do papel dessa instância quanto a propor novas leis; posicionar-se sobre as propostas dos colegas; fiscalizar a aplicação de leis já em vigor; estabelecer uma comunicação clara e transparente; e articular a aproximação da política com a sociedade, dos movimentos, coletivos, etc. “É neste último tópico que movimentos como este de hoje atuam de maneira mais intensa, verificando que é possível construir coisas muito produtivas mesmo que não estejam na lei”, assinala a política.
Por fim, como pontua Fero, “aumentar essa rede não é aumentar o lucro, mas sim a solidariedade e a dignidade humana”.
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