Na imagem, é possível ver a lateral de um viaduto na cor cinza concreto com uma placa de fundo azul com letras brancas onde é possível ler "Engenheiro Antonio Moliterno"

Viaduto em São Paulo recebe nome de engenheiro mackenzista

18 de dezembro de 2020 | Para Sempre Mackenzista Colégios Universidade Campus Higienópolis Destaque

Recentemente, o viaduto que fica sobre Avenida Santo Amaro, no cruzamento com a Av. Jornalista Roberto Marinho, recebeu a denominação de Engenheiro Antonio Moliterno. O decreto Nº 59.699/2020 da Prefeitura de São Paulo carrega em si muito mais do que apenas um nome, mas sim o reconhecimento do trabalho de um homem, sua contribuição para sociedade e o legado mackenzista. 

Antonio Moliterno foi aluno do curso primário na Escola Americana, hoje conhecida como Colégio Presbiteriano Mackenzie São Paulo. Como conta seu filho, Marcos Moliterno, desde aquela época, o Mackenzie já introduzia na sociedade brasileira algumas características fundamentais, como a importância da praticidade e do planejamento. “Características que moldaram a personalidade de meu pai, seja como engenheiro, seja como professor, ou mesmo em suas relações pessoais”, diz. 

Moliterno, o pai, foi também professor universitário, lecionando na Escola de Engenharia (EE) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) por muitos anos, instituição na qual também se formou.

“Posso dizer que, como professor, ele estava muito à frente de seu tempo”, destaca o filho, que também é engenheiro civil. 

Marcos lembra que Moliterno iniciava suas difíceis aulas de resistência dos materiais pela história, mostrando aos alunos que a expansão do império romano deu-se pelas vias calçadas e pelos aquedutos. “Daí passava para os arcos de sustentação dos aquedutos, que eram construções em pedra, e chegava à matéria que lhe cabia. Sua missão, dizia, era ensinar. Suas aulas sempre estavam lotadas”, relata. 

Trabalho de destaque 

Dentre os diversos trabalhos de Moliterno na cidade de São Paulo, Marcos pontua que o cálculo do rebaixamento do Reservatório Elevado da Vila do Encontro foi um dos mais importantes. O reservatório era um pleito antigo da população do Jabaquara, que sofria muito com a contínua falta de abastecimento de água tratada, e levou quase uma década para ser construído. No entanto, por conta dos novos modelos de aeronaves que aterrissavam no Aeroporto de Congonhas à época, a altura do reservatório se tornou um risco. 

“Discutia-se abertamente a demolição completa do reservatório que acabara de ser construído, e meu pai desenvolveu a solução que permitiu o rebaixamento do reservatório sem que fosse necessária sua demolição. Por ocasião do 1º Simpósio de Engenharia Sanitária do Estado de São Paulo, ele foi agraciado com um prêmio por este trabalho”, exemplifica Marcos.  

Homenagem no viaduto 

Toda a família de Moliterno ficou muito sensibilizada e agradecida pela denominação do viaduto em Santo Amaro, incluindo a mãe de Marcos, seus irmãos, os netos de Antonio, seus sobrinhos e filhos de primos. “Importante salientar que meu pai faleceu em 1992 e, portanto, antes da chamada era da internet e das mídias sociais. Ainda assim, construiu uma reputação que alcançou diversos estados do Brasil, granjeando um imenso respeito de seus colegas. Foi muito atuante também no Instituto de Engenharia, em São Paulo, que auxiliou a promover esta homenagem”, afirma o filho. 

Para a professora Patricia Barboza da Silva, coordenadora do curso de Engenharia Civil da UPM, o fato é também o reconhecimento, renovado, da cidade de São Paulo a uma de suas mais importantes instituições de ensino. Como ressalta ela, a EE, de 1896, ocupa a mesma sede desde os primeiros anos da República, quando o tecido urbano era restrito ao que hoje conhecemos como centro. Para se ter uma ideia, a Av. Paulista tinha sido inaugurada apenas cinco anos antes, em 1891. 

“Muito do que a maior cidade da América Latina realizou em termos de infraestrutura urbana (saneamento, transportes) e expansão imobiliária se deve à atuação dos profissionais formados na Escola de Engenharia da UPM, muitos deles alunos do professor Antonio Moliterno, expoente da área de estruturas entre as décadas de 1950 e 1990”, comenta Patricia. 

Já Delmárcio Gomes, professor do curso de Química e presidente da Comissão de Divulgação da EE, acredita que um reconhecimento como esse reverbera de forma direta e indireta nos alunos. “Por eles saberem que fazem parte de uma linhagem de profissionais de excelência, o que os coloca também em condições de oferecer suas habilidades para o desenvolvimento da nossa sociedade, em especial da cidade de São Paulo. Cada um com suas próprias características e objetivos”. 

“Além disso”, pondera ele, “homenagens como essa suscitam, indiretamente, sonhos em nossos estudantes, que se sentem estimulados a fazer algo extraordinário e buscar resultados durante sua carreira profissional, almejando conquistas ainda maiores e que poderão trazer reconhecimentos que enalteçam e deem mérito à sua competência, habilidade e talento”. 

Gomes diz ainda que, para os docentes, essa é mais uma ferramenta pedagógica que pode ser usada em diferentes estágios dentro da relação professor-aluno, por permitir trabalhar o lado motivacional e incentivar o estudante a enxergar seu potencial e sua identidade profissional. 

Orgulho de ser mackenzista 

Para o professor Gomes, “a homenagem a um mackenzista exatamente no ano em que se comemora 150 anos da fundação do Mackenzie demonstra, mais uma vez, o compromisso com a excelência do ensino que essa instituição construiu ao longo da história. Essas datações por mérito ao longo do tempo estimulam a reflexão e ajudam a entender a trajetória que trouxe a instituição ao protagonismo que ela tem, tanto no campo profissional quanto pessoal." 

“Na minha casa, Mackenzie era o centro de nossa vida sob vários aspectos: foi lá que meu pai conheceu minha mãe, e foi lá que dois de seus três filhos seguiram o mesmo caminho que ele, começando na Escola Americana. Para se ter uma ideia da paixão dele pelo Mackenzie, ao final de sua vida, já bastante debilitado fisicamente, a última atividade profissional da qual ele se desligou foi de suas aulas na Escola de Engenharia”, enfatiza Marcos. 

Como assinala Gomes, o Mackenzie se orgulha destes reconhecimentos e méritos, e sempre entendeu a importância de cuidar diariamente do seu crescimento. “Por isso é uma instituição de ensino sólida e enraizada em valores muito claros que nutrem essa estrutura viva e geram diversos frutos”. 

Aniversário da Escola de Engenharia e seus expoentes 

A história de Antonio Moliterno é indissociável da UPM, ao mesmo tempo, a cidade de São Paulo e sua construção também estão conectadas à trajetória da EE. Como lembra a professora Patricia, no ano de 2021 a Escola de Engenharia comemorará 125 anos de existência e, como o curso de Engenharia Civil foi o primeiro da Escola, estes 125 anos também são do curso.  

“Estamos pensando em realizar diversos eventos comemorativos, dentre eles um seminário sobre as Pontes e Viadutos de São Paulo, tratando sobre a expansão urbana da cidade ao longo do tempo e a sua relação com as pontes e viadutos, passando também sobre a importância dos engenheiros civis mackenzistas nestas obras, além de falar um pouco sobre a componente curricular ‘Pontes’ e sua importância na formação dos egressos de nossa Escola”, antecipa ela. 

Além de Antonio Moliterno, outros mackenzistas figuram entre profissionais homenageados e que foram marcantes no desenvolvimento de São Paulo ao longo dos anos. “Pode-se começar com o engenheiro Roberto Rossi Zuccolo, que empresta o seu nome à Ponte Cidade Jardim (sobre a Marginal Pinheiros) e que foi o ‘pai’ do concreto protendido no Brasil, tecnologia que permite a transposição de vãos de grande magnitude, hoje indispensável, por exemplo, para a construção de pontes e viadutos”, coloca Patricia. 

Além de Zuccolo, ela destaca o engenheiro Romeu Chap Chap, presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (SECOVI-SP) por várias gestões e importante incorporador imobiliário da cidade; vários presidentes do Instituto de Engenharia de São Paulo, inclusive o atual, engenheiro Eduardo Ferreira Lafraia. 

“Ainda temos o engenheiro Oscar Americano, fundador da Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO), importante empreiteira do século XX que nomeia avenida no bairro do Morumbi; e o engenheiro Luis Carlos Berrini, cujo nome é o título de uma das mais importantes avenidas da Zona Sul de São Paulo”, adiciona a coordenadora do curso de Engenharia Civil.  

História feita por pessoas 

Por fim, é possível perceber claramente que a história da cidade de São Paulo se entrelaça com a história da EE da UPM. Para o professor Gomes, “isso mostra que o DNA da nossa unidade acadêmica está incorporado às construções e crescimento da capital paulista por diversas formas”. 

Desde 1896, com o início do curso de Engenharia Civil, a EE se tornou uma das primeiras instituições de ensino não-militar a oferecer um curso de engenharia no Brasil e essa marca histórica explica os diferenciais e as boas práticas de ensino que foram sendo consolidados ao longo do tempo e que hoje são oferecidas aos alunos.  

“Tudo por meio de um projeto pedagógico de excelência, que mantém cada curso conectado ao futuro do mercado de trabalho e traz para a sala de aula tecnologia, inovação e práticas de ensino que desenvolvem habilidades e competências para tornar cada mackenzista mais preparado”, afirma ele. 

E, desta forma, o Mackenzie está presente na vida das pessoas para oferecer o melhor, ao mesmo tempo em que é constituído por cada uma delas, como o engenheiro Antonio Moliterno, que teve uma trajetória de destaque, desde o colégio até a graduação e, posteriormente, lecionando na Universidade. 

Segundo o filho, Antonio era também um homem discreto e ponderado. “Acho que a melhor ideia que se pode ter dele foi a resposta à minha irmã, que lhe perguntou como era possível ele fazer parte de bancas de avaliação de mestrado, se ele não tinha tal título. Ele respondeu a ela que lhe deram um título de doutor por ‘notório saber’. E nunca disse isso a mais ninguém”. Não precisava, seu trabalho e sua vida falavam por si. 

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