Robinson Grangeiro Monteiro, chanceler do Mackenzie
Foto: NTAI/Mackenzie
Como é de conhecimento público, na noite de sábado, 3 de julho, vândalos quebraram vidros da fachada e danificaram móveis e equipamentos da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), na rua da Consolação, em São Paulo.
A ação firme e segura da equipe de segurança do Instituto Presbiteriano Mackenzie impediu a invasão do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da UPM, no andar térreo do Edifício João Calvino, e preservou a integridade física das pessoas que estavam no local.
Graças a Deus, ninguém saiu ferido. As autoridades policiais estão investigando as responsabilidades pelos atos de vandalismo, enquanto as equipes de restauração já começaram as intervenções e os reparos com o objetivo de restabelecer o funcionamento pleno das atividades acadêmicas e administrativas nas instalações afetadas.
O episódio oferece oportunidade de uma reflexão sobre o papel do Mackenzie em fomentar uma cultura de justiça e paz em uma sociedade que se torna, infelizmente, cada vez mais polarizada e violenta.
É preciso reafirmar que a paz não subsiste sem a justiça. A justiça alimenta a paz como sua filha predileta, e a verdadeira paz repousa segura nas balanças equânimes da justiça. As alternativas a esse binômio são o caos, a anarquia e o totalitarismo, os quais a história da humanidade já demonstraram ser a negação absoluta da convivência social.
Contudo, qual é o melhor fundamento filosófico e ideológico para a busca pela justiça e pela paz no regime democrático de direito, que é reconhecidamente o maior avanço civilizatório?
Certamente, a cultura ocidental, berço da democracia, é devedora da influência judaico-cristã, sobretudo pelo legado da Reforma Protestante do século XVI, do qual a Igreja Presbiteriana do Brasil, associada vitalícia do Instituto Presbiteriano Mackenzie, é legítima herdeira.
Nem mesmo as críticas — justificadas, diga-se de passagem — aos maus exemplos de segmentos da cristandade em dois mil anos de sua história, nos quais a fé cristã foi capturada por ideologias imperialistas e a serviço da opressão de povos catequizados e explorados ao fio da espada, são suficientes para anular a contribuição inestimável do cristianismo, sobretudo pela via da educação como principal forma de desenvolvimento humano e transformação social.
As escolas de educação básica e as universidades de origem cristã têm impactado profundamente a alfabetização, as expressões culturais, a ciência, a inovação e o empreendedorismo na história moderna.
Por isso, no ordenamento jurídico dos estados modernos, há espaço resguardado para a educação confessional, respeitando-se o lugar primordial das famílias na formação ética de seus filhos e a livre convicção de fé e de opinião de educadores e educandos.
O Mackenzie foi fundado pela iniciativa do casal Chamberlain, educadores pioneiros abnegados que começaram a pequenina escola no centro de São Paulo, sem imaginar que, 150 anos depois, o Mackenzie se tornaria uma Instituição espalhada em vários estados do país com unidades de educação básica e superior, além das recém-incorporadas unidades de saúde.
A contribuição do Mackenzie para vivenciar e fomentar a cultura de justiça e paz manifesta-se pelo respeito às opiniões e às posições divergentes, seja filosófica ou religiosa, seja ideológica ou política, sem com isso deixarmos de reafirmar nossas convicções de fé, nossa maneira de ver a vida e a realidade complexa de uma sociedade pluralista, por meio do filtro confessional cristão reformado.
A confessionalidade do Mackenzie é explícita, permeante e transversal e, ao mesmo tempo, propositiva, colaborativa e aplicada. Todos sabem o que cremos e como nossa fé integra, dialoga e aplica-se a todos os nossos processos de gestão dos serviços de educação e saúde pela prática de valores e pelos princípios éticos universais.
Por isso, a Chancelaria do Mackenzie posiciona-se diante da injusta e gratuita expressão de intolerância e de uma cultura de ódio e medo daqueles que, pela via da violência, atacaram o patrimônio construído honradamente pelo Mackenzie.
Reafirmamos com vigor renovado que nossa missão institucional é educar e cuidar do ser humano, criado à imagem de Deus, para o exercício pleno da cidadania, em ambiente de fé cristã reformada.
Nesta história sesquicentenária (1870–2020) e abençoada atuação, o Mackenzie tem se consolidado aos olhos da sociedade brasileira umainstituição confessional presbiteriana e filantrópica, que se dedica às ciências divinas e humanas, comprometida com a responsabilidade socioambiental, em busca contínua da excelência acadêmica, do cuidado e da gestão.
Portanto, a contribuição do Mackenzie para uma cultura de justiça e paz, que respeita os direitos individuais, a propriedade privada e a equidade de oportunidades para todos os brasileiros, sem qualquer discriminação, por meio da educação e da saúde, baseia-se na convicção da existência do Deus triúno — Pai, Filho e Espírito Santo — referência de toda a realidade, cujo Reino se manifesta em todas as áreas do conhecimento e da existência humana, como ensinado na Bíblia Sagrada.
A Chancelaria, ao mesmo tempo que lamenta as ações desses vândalos e confia nas forças de segurança de São Paulo para apurar as responsabilidades, espera de agentes públicos e organizações sociais o veemente repúdio a tais ações por não os representarem.
Caso contrário, o silêncio será interpretado da única maneira possível: uma perigosa conivência diante do ataque a todos na sociedade paulistana, porque hoje é o Mackenzie, mas amanhã pode ser qualquer instituição.
Confiando em Deus e fiel à sua história, o Mackenzie agradece a solidariedade e as orações dos cidadãos e das instituições de bem dirigidas aos colaboradores e gestores, educadores e educandos mackenzistas, que se constituem em nosso maior patrimônio.
O Mackenzie continuará trabalhando para o desenvolvimento do país. Esta é nossa contribuição para a cultura de justiça e paz, na qual todos os brasileiros precisam e merecem viver.