Milton Flávio Moura, presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie
Foto: NTAI/Mackenzie
Gostaria de recapitular o que conversamos na edição anterior a respeito das linhas básicas da estratégia de gestão do Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM), identificada pela sigla CDR (Confessionalidade, Desenvolvimento e Resultado). Neste artigo, vamos aprofundar o sentido do primeiro desses termos e refletir a respeito da confessionalidade mackenzista. Dito de forma simples, ser confessional significa que nossa Instituição confessa uma crença religiosa: a fé cristã reformada. A palavra “presbiteriana”, contida em nosso nome, não deixa dúvidas a respeito.
Para compreender nossa confessionalidade, é preciso entender o movimento da Reforma e o advento do presbiterianismo. Essa fé surgiu com o francês João Calvino (1509-1564), convertido ao protestantismo ainda na juventude, entre 1532 e 1533. Eram tempos difíceis para os protestantes na França, marcados pela intolerância e perseguição — muitas vezes, incluindo o uso da violência física. Em 1536, Calvino lança sua obra Instituição da religião cristã e decide se mudar para Genebra, uma cidade independente e mais aberta ao protestantismo. É nesse local que ele desfruta de maior liberdade religiosa e continua a estudar a religião. Profundo conhecedor da Bíblia Sagrada, ele sistematizou boa parte das ideias de Martinho Lutero que, até então, careciam de maior organização e didática. A reforma doutrinária abriu caminho para a instituição da igreja cristã reformada. Se Lutero, a princípio, não intentava criar uma igreja, Calvino deu um passo adiante e fundou a Igreja de Genebra.
O presbiterianismo não nasceu do dia para a noite tampouco foi obra de um só homem, o que viria a ser uma marca de sua governança. Foram necessários muitos anos, muitas pessoas e as bênçãos de Deus para que a Igreja assumisse suas feições atuais. Depois de Calvino, o escocês John Knox (1514–1572) desenvolveu a igreja nas ilhas britânicas — local onde surgiu, também, o nome “presbiteriana”. Em nossa Igreja, os membros elegem pelo voto direto seus representantes para o Conselho da Igreja, os presbíteros. Decisões administrativas, disciplinares e doutrinárias são tomadas por esse conselho. Francis Makemie (1658–1708) foi o responsável por levar o presbiterianismo escocês para as colônias inglesas que, no futuro, comporiam os Estados Unidos. É dessa origem presbiteriana estadunidense que o Mackenzie descende.
Nada mais natural, portanto, que essa história e as convicções expressas há mais de 500 anos pela Reforma Protestante nos inspirem e orientem nossos passos. O IPM espelha, em seu dia a dia, os princípios presbiterianos. Acreditamos que a autoridade deve ser merecida e referendada pela comunidade. Em nossa Instituição, a liderança não é exercida sozinha, e sim em conjunto, e todas as decisões passam pelo crivo do nosso Conselho, à luz do bem comum. Acreditamos que a escuta compassiva, acompanhada de bons conselhos e do incentivo à tomada de atitudes, é a melhor solução para enfrentar os desafios que a vida nos apresenta. Nossas Capelanias, sempre atentas às necessidades e aos anseios das pessoas que constroem o Mackenzie, exercem esse importante papel junto à comunidade.
Isso ocorre, também, porque a confessionalidade fala diretamente sobre o Amor. Jesus Cristo foi a encarnação do Amor de Deus, e exercer esse Amor é a missão diária — e de vida — de todos os cristãos. Neste momento, muitos fiéis são tomados pela dúvida. Como concretizar os planos de Deus para nós? Ninguém está ou esteve sozinho nesses questionamentos. Por isso, a Palavra Sagrada nos dá inúmeras orientações a respeito da vida confessional. Aqui, destaco apenas uma delas, contida no Salmo 128: “Bem-aventurado é aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos”. Temer ao Senhor significa respeitar sua Palavra, ter conhecimento dela e usufruir dos princípios dela emanados. E, com base nesses princípios, viver. É bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e que anda. Esse andar é o dia a dia, a prática cotidiana voltada ao serviço, espelhada em Jesus. No Mackenzie, nos orientamos para a ação que ajuda o próximo. Nossa meta, como instituição, é que ao final de cada período — seja um dia, uma semana ou um ano — tenhamos mudado para melhor a vida de todos que vivem pelo e para o Mackenzie.
A confessionalidade é, portanto, a ação transformadora. Por meio do trabalho, aplicamos os dons que Deus nos ofertou a serviço da comunidade. Ensinamos, pesquisamos, curamos os doentes; aliviamos dores, impulsionamos o crescimento intelectual de crianças, jovens e adultos; confortamos, pela fé, os fragilizados; aplicamos nossos conhecimentos na busca por um mundo melhor, com menos sofrimento, mais compaixão e justiça. Tudo isso com respeito à dignidade humana e à liberdade — valores inegociáveis para a fé cristã reformada. Por isso, o IPM coloca a confessionalidade na linha de frente da sua gestão. Guiados pela nossa fé, não nos esquecemos de onde viemos, para onde viemos e qual é a nossa missão.