Projeto de mackenzistas torna-se Patrimônio Tombado pelo IPHAN

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Complexo da Estação Julio Prestes conta com assinatura de Cristiano Stockler e Nelson Dupré, arquitetos mackenzistas

15.03.2024


Uma dupla de mackenzistas, que já estava na história de São Paulo por assinar projetos de diversos prédios famosos na capital paulista, conquistou mais uma honraria após o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) declarar o tombamento oficial do complexo da Estação Júlio Prestes, no centro da cidade, na região da Luz. O projeto arquitetônico do conjunto foi elaborado pelos antigos mackenzistas Christiano Stockler das Neves e Nelson Dupré. 

O complexo contempla as estações Júlio Prestes – que serve de sede da Sala São Paulo e da Secretaria de Cultura do Estado – e Luz, que atualmente é uma das principais estações do metrô paulistano. O monumento foi erguido em 1907, com a construção da Luz, que foi inspirada na Abadia de Westminster, de Londres. Em 1930, a Prestes foi inaugurada para ligar a capital paulista à cidade de Sorocaba. No passado, o complexo representava um importante polo do transporte do café, principal produto de exportação do Brasil no começo do século XX. 

O projeto arquitetônico da Estação foi feito por Christiano Stockler das Neves, que fundou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) do Mackenzie. Já Nelson Dupré, graduado e professor da FAU Mackenzie, foi o arquiteto responsável pelo projeto da Sala São Paulo, que fica localizada dentro do edifício da estação. Ambas as construções são interligadas pelo boulevard, com nome do maestro João Carlos Martins. 

O tombamento do conjunto arquitetônico foi decidido por unanimidade. A Estação foi reconhecida como um símbolo da forma de pensar a questão econômica na década de 1920 no Brasil, refletindo um intervencionismo estatal que divergia dos padrões do liberalismo clássico. 

De acordo com a professora emérita da FAU, e responsável pelo parecer do tombamento, Nadia Somekh, essa decisão ressalta a importância do legado mackenzista na construção da história e da identidade cultural da cidade. "O pedido de tombamento da Júlio Prestes tem 25 anos. E agora, finalmente, é um patrimônio nacional. É um orgulho fazer esse parecer, e constatar que nós temos tradição com o Cristiano Stockler, e alta modernidade com o professor Nelson Dupré”, declarou.  

Com o tombamento, a preservação e manutenção da Estação Júlio Prestes agora serão realizadas de forma mais rigorosa, exigindo prévia autorização do Iphan para qualquer restauração ou modificação. A professora ressaltou a importância de um projeto urbano que equacione as questões sociais para efetivamente valorizar esse patrimônio cultural. O local passa a ter segurança a nível federal.  

A influência do Mackenzie no estilo projetual dos arquitetos é bastante clara, na opinião de Somekh. "Cristiano é um historicista, representante do ecletismo, das belas artes, do classicismo arquiteturista. Ele valorizava a arquitetura histórica. E o Nelson traz as possibilidades da valorização da história, com intervenções contemporâneas”, explicou.  

Para a professora, é fundamental que os alunos mackenzistas tenham compreensão da relevância desse reconhecimento. “Precisamos celebrar. Nossa Instituição transmite valores, e precisamos valorizar os nomes que nasceram aqui. É uma forma de preservação da história em meio a contemporaneidade dos nossos alunos", concluiu.  

Além da Sala São Paulo e da Estação Júlio Prestes, Cristiano Stockler e Nelson Dupré têm um legado significativo em projetos arquitetônicos e de restauração. Stockler deixou sua marca em diversos edifícios na cidade de São Paulo, incluindo o Museu de Zoologia da USP, o Edifício Sampaio Moreira e o imponente Palácio Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.  

Por sua vez, Nelson Dupré se especializou em restaurações grandiosas, como a do Teatro Municipal de São Paulo, a Cinemateca, o Museu Biológico do Butantã e o Hospital A.C. Camargo, contribuindo para a preservação do patrimônio histórico e cultural.