24.02.2023 - EM
“Por conta do capitalismo neoliberal e das Revoluções Industriais, a sociedade tende a transformar quase tudo em mercadoria, inclusive os nossos corpos”. A frase da professora de Marketing e Comportamento do Consumidor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) Campinas, Mariana Munis, resume de que forma a padronização dos produtos e serviços também chegou à aparência: dentes reluzentes, harmonização facial, lábios com preenchimento, testas “esticadas”, marcas de expressão preenchidas com toxinas e etc.
A docente mackenzista explica para a gente de que forma os Reality Shows refletem uma “sociedade de padrões estéticos atuais”.
A especialista explica que programas como Big Brother Brasil (BBB) podem ser considerados, sob certos aspectos, um reflexo da nossa sociedade como um todo. Na vida cotidiana, bem como na cara dos participantes, percebemos as intervenções estéticas cada vez mais presentes: antes, as pessoas esperavam sair do programa para realizar os procedimentos, que ganhavam ou recebiam propostas de permutas, e se transformavam por completo.
Agora, o caminho é outro: assim que o participante sabe que vai entrar na casa, ele já se prepara para “entrar na faca” e chegar “perfeito” em frente às câmeras. “Isso é um reflexo de que as pessoas não se permitem mais mostrar quem de fato são, suas ‘imperfeições’, que as tornam únicas, muito por conta das mazelas do capitalismo neoliberal”, frisa Mariana.
“Somos seres biopsicossociais, tendemos a agir também conforme o espírito da época, de acordo com a forma que as outras pessoas agem”, explica a professora.
Mariana ainda afirma que graças ao conhecimento do público sobre os corpos serem construídos, é gerado um grande problema: pressões sociais. E não para por aí, já que muitas pessoas idealizam esses corpos e correm atrás de um padrão estético inalcançável, virando uma bola de neve. O sonho do corpo “perfeito”, antes idealizado, acaba desaguando no surgimento de inúmeras doenças, parceiras dessa corrida estética, como bulimia, anorexia, ansiedade e depressão.
“Será que vale pagar esse preço, de ficar correndo atrás de algo que não existe, sendo que até mesmo as grandes celebridades, ao estamparem grandes capas de revistas, são inteiramente retocadas?” questiona Munis.
Outro fator que faz com que as pessoas gostem de aplicar procedimentos estéticos é a sensação de poder. A docente mackenzista revela que, com a Revolução Industrial e a consequente abundância de acesso aos alimentos por mais classes econômicas, o old money (estilo de vida de uma pessoa, família ou linhagem que possui riqueza herdada) começou a mostrar poder por meio da magreza, algo inconscientemente relacionado à elegância. “A mesma coisa ocorre com as cirurgias plásticas: como os procedimentos são caros, quanto mais eu faço, mais eu demonstro poder”, pontua.
Segundo ela, no entanto, o que mais chama a atenção do telespectador que acompanha o Reality são pessoas que se mostraram vulneráveis e imperfeitas, como os participantes Juliette e Gil do Vigor, ambos da edição memorável do BBB21, o que mostra que há espaço para autenticidade e personagens mais próximos de pessoas comuns.
Logo, o que falta para a nossa sociedade é começar a olhar para dentro e tentar compreender se aquela pressão estética e o procedimento novo é um desejo genuíno da alma, ou se não passa de algo que serve apenas para suprir necessidades superficiais da sociedade para ‘ser aceito’: o trabalho de autoconhecimento deve ser para ontem.
Confira algumas dicas da professora Mariana Munis para não se deixar levar pela corrida estética:
Em relação a você:
- Descubra seus hobbies ou uma atividade física que brilhe seus olhos;
- Trabalhe o autoconhecimento na terapia ou meditação;
- Preocupe-se mais com a sua saúde e menos com questões superficiais apenas estéticas;
Em relação aos outros:
- Pare de seguir pessoas “perfeitas” nas mídias sociais, o que parece perfeito não é real!
- Evite se comparar com outras pessoas, especialmente utilizando corpos e a “beleza” como critério;
- Exerça amor e caridade, ser solidário e ajudar outras pessoas contribui para sua saúde.
Para todos:
- Em vez de dar “pitaco” no corpo de alguém, valorize genuinamente as qualidades das pessoas;
- Aceite a graça da vida e o que nos torna irresistíveis: o fato de sermos únicos.