especialistas debatem no palco. Plateia cheia
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Especialistas debatem transformações na Educação em Seminário da Folha de S.Paulo

Encontro ocorreu no Mackenzie, em 05 de junho, sobre Desafios da Pós-Graduação

05.06.201919h05 Comunicação - Marketing Mackenzie

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Especialistas debatem transformações na Educação em Seminário da Folha de S.Paulo

A segunda mesa de debate do seminário Desafios da Pós-Graduação, realizado pela Folha de S.Paulo, que teve o patrocínio e apoio da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e ocorreu em 05 de junho no campus Higienópolis do Mackenzie (confira a primeira parte aqui), teve a participação de Daniel Castanho, presidente do Conselho de Administração e um dos fundadores da Ânima Educação; Josiane Maria de Freitas Tonelotto, conselheira da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed); Marcelo Saraceni, presidente da Associação Brasileira das Instituições de Pós-Graduação (ABIPG); e Marcelo Leite, colunista da Folha, que moderou as discussões.

Eles debateram a respeito da questão da qualidade do ensino mediante a Resolução editada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) do Ministério da Educação (MEC), de abril de 2018, que autorizou empresas e institutos (públicos e privados) a oferecerem cursos de especialização que antes eram apenas permitidos a instituições de ensino promover. A medida também prevê uma redução, de 50% para 30%, no número mínimo de professores mestres e doutores nos cursos.

Meios de avaliação do aluno

Para Josiani, a mudança não pode ser vista de maneira muito positiva logo de cara, em especial a questão da não obrigatoriedade da entrega do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para os cursos de pós-graduação lato sensu. “Acho que os processos de avaliação são necessários e dão o Norte para os estudantes e instituições averiguarem os resultados. Ainda temos uma deficiência em saber o impacto das nossas produções intelectuais no EAD, por exemplo, e o quanto podem produzir com a mesma qualidade do presencial. Defendo a qualidade da educação acima de tudo”, pontua ela.

De acordo com a conselheira da Abed, há também uma defasagem nos referenciais usados pelos próprios entes públicos para EAD. “Infelizmente, ainda são referenciais antigos, de 2007. Esse padrão de qualidade atual deixam uma lacuna muito grande para a educação on-line. A formação do professor é também uma questão importante. O docente deve ser preparado especificamente para a EAD, pois são formatos diferentes, entendendo como o aluno aprende nesse formato e como lidar com diversos públicos, com formação tecnológica”, acrescenta ela.

Mercado e desburocratização

Já na visão de Saraceni, a Resolução do CNE é positiva e aponta que o mercado vai acabar determinando o movimento do cenário educacional. “As instituições vão ser obrigadas a desenhar ofertas de cursos cada vez mais interessantes. A nova resolução entra com inovações que, apesar de polêmicas e questionadas, são positivas, pois busca indicativos de qualidade e permite que se legalizem, mesmo que nunca tenham perdido suas credenciais, as instituições de ensino que já oferecem cursos com autorizações obtidas judicialmente”, comenta.

Castanho também vê como positiva a Resolução, mas ressalta que ainda é um passo pequeno frente a tantas modificações necessárias. “Daqui dez anos vamos olhar e ver um cenário completamente diferente de hoje. A maioria dos estudantes foram treinados para ser passivos, e é isso que temos de mudar nas pessoas, precisamos promover a ideia de que temos de ser ativos, empreendedores, de atitude”.

O conselheiro da Ânima enfatiza que um dos grandes problemas de hoje é a falta de diversidade de ideias nos ambientes educacionais e isso se reflete até mesmo nos meios de comunicação. “Os algoritmos das redes sociais são contra a diversidade de debate, o que você curte aparece cada vez mais, até o momento em que você só conversa com pessoas que pensam de maneira semelhante. Devemos destruir esses muros que são criados. A pós-graduação, por exemplo, deveria despertar o Ikigai (em resumo, conceito japonês sobre a razão de viver determinada no ponto de intersecção entre o que você ama fazer, no que se é bom e o que o mundo precisa) das pessoas e elevar a empatia e diversidade de ideias”.

Sob esse aspecto, Castanho diz que os cursos não podem oferecer o mesmo para todo mundo, e sim que precisam ser personalizados. “Estamos entrando na era do pós-emprego. Vamos trabalhar de maneira mais livre e dinâmica, por projetos, com capacitações específicas, quem sabe nem dissociando quando se está trabalhando ou estudando”, pontua.

Tranformações

Dessa maneira, ele defende que os cursos futuros serão naturalmente híbridos, presenciais e EAD. “A avaliação não será mais prova, mas sim feedback. O modelo tem de mudar, não se pode basear apenas em conteúdo. Hoje as instituições de ensino são para debate, diversidade e reflexão”, assinala.

Castanho ainda acredita que teremos cursos mais curtos, personalizados, híbridos, com mentoria e curadoria para ajudar no desenvolvimento das pessoas. “Estamos vivendo uma automação cognitiva, temos de parar de preparar nossos alunos para fazerem um trabalho repetitivo e fazer com que pensem, sejam curiosos e investiguem. Esse movimento deve começar por meio do ensino infantil e da pós-graduação”, completa.

Saraceni concorda que exista uma mudança em curso, mas pontua que o verdadeiro impacto da Resolução do CNE na avaliação da pós-graduação é que ela nunca foi efetivamente avaliada. “O mercado precisa dessa avaliação do poder público, há uma abertura aí. Acredito que não haverá um aumento significativo da oferta por si só, pois há regras a serem seguidas. O grande desafio é regular a oferta de baixa qualidade que já existe por instituições interessadas apenas no aspecto financeiro”, critica ele.

Josiane acompanha a linha de Saraceni e afirma que as discussões do ensino presencial se aplicam à EAD. “O MEC precisa de profissionais atualizados para não nivelar por baixo. Na questão do lato sensu, questiono se a avaliação realmente é honesta e não um teatro apenas”.

Provocações

Castanho concorda e diz que, tirando a corrupção, o maior problema do Brasil é na produtividade. Para corrigir isso, segundo ele, é preciso ter um ecossistema integrado. “Temos de parar de ter programa de governo e sim buscar plano de Estado. A universidade deveria ser o grande motor da sociedade e o MEC atrapalha seu desenvolvimento por burocracia, critérios retrógrados de avaliação, etc. O que diferencia grandes países é ter um ecossistema de produtividade e a maneira como todos os atores estão dispostos a ajudar uns aos outros. A universidade é embrião das transformações que podem mudar a sociedade. Precisamos de provocação”, finaliza ele.