A Urgência do Ensino de Economia nas Escolas Brasileiras
Recentemente, tive a oportunidade de ler o artigo "The Place of Economics in a Classical Education," escrito por Clara Piano, professora do Departamento de Economia, Finanças e Análise Quantitativa na Universidade de Samford. Devo dizer que, mesmo não sendo um professor atuante na educação básica nem aplicador do modelo clássico (pelo menos não profissionalmente), suas reflexões sobre a importância do ensino da economia ressoaram profundamente em minha experiência como professor de economia do Ensino Superior.
O ensino atualmente
Vivemos em uma época de grande ênfase no uso da tecnologia, onde a qualidade do conhecimento transmitido em sala de aula deve ser não apenas incontestável, mas, acima de tudo, útil e rápida – time is money! Há pouco tempo para divagações de ordem teórica (por mais bem embasadas que sejam), pois os estudantes convivem diariamente com a possibilidade imediata de acesso a uma vastíssima janela de conhecimento teórico na internet. Essa janela, potencializada pelo advento da inteligência artificial, oferece todos os incentivos para que rapidamente considerem desnecessárias as infindáveis horas de aula teórica. Por que prestar atenção agora, se tenho acesso a tudo isso a qualquer momento na biblioteca virtual ou até mesmo no YouTube? Esse é o mantra repetido por vários alunos com quem tenho interagido.
O professor, mais do que em qualquer outro momento da história, precisa ser assertivo em seu papel. Não há espaço para "lero-lero." Independente da matéria que se ensine, os estudantes querem saber qual a serventia daquilo que estão aprendendo. Haverá algum impacto financeiro ao final? Esses conhecimentos serão um diferencial num mercado de trabalho cada vez mais competitivo? Entendo que vários dos meus pares critiquem o excesso de profissionalização do ensino superior. Essa é uma crítica válida e que também faço, mas isso é assunto para outro artigo.
Como professor de economia nos cursos de administração e contabilidade, o desafio maior não é apenas passar o conteúdo de forma didática, mas convencer os alunos de que o conteúdo ministrado tem relevância para eles. Particularmente, sou da opinião de que só se aprende aquilo que se deseja aprender. O trabalho no primeiro nível é, portanto, de convencimento.
Nesse sentido, fazendo vários empréstimos do texto original da Prof. Clara Piano e acrescentando nuances de minha própria experiência como docente, quero elencar os motivos pelos quais considero vital o ensino de economia nas escolas e nos cursos de graduação. Tenho a esperança de que esses motivos sejam suficientes para inspirar não apenas os meus alunos, mas também estudantes de todo o mundo.
O duplo aproveitamento do estudo da economia
O primeiro e mais pragmático motivo para que se ensine economia nas escolas reside no fato de que, em média, estudantes que dominam, pelo menos a nível básico, conceitos de micro e macroeconomia têm vantagem no mercado de trabalho. Essa vantagem reside na capacidade de ler e até antecipar cenários. No limite, a capacidade de decifrar dados econômicos veiculados nos jornais e sugerir ações estratégicas concretas em suas respectivas áreas de atuação pode significar uma diferença considerável na remuneração.
Contudo, a vantagem competitiva no mercado de trabalho não é o único motivo para se ensinar economia nas escolas, pois existe também um forte componente humanístico presente no DNA de qualquer instituição de ensino de qualidade, que busca formar não apenas profissionais, mas cidadãos melhores. Ao ensinar economia, as escolas possibilitam que seus estudantes entendam melhor o contexto das escolhas humanas, bem como o papel dos incentivos, ao mesmo tempo que reconhecem a importância do florescimento humano.
Compreender um princípio econômico essencial como o custo de oportunidade - que o valor de qualquer escolha não se limita apenas ao preço apresentado, mas abrange o bem alternativo renunciado em seu lugar - representa uma ferramenta valiosa para decifrar a complexidade do mundo.
Por exemplo, o real custo de frequentar a universidade não se restringe à mensalidade, incluindo também os ganhos não obtidos que são sacrificados ao optar pelo curso em detrimento do emprego que poderia ter sido desempenhado (além da experiência adquirida) durante esses anos de estudo. Somente ao compreender os custos de maneira mais abrangente é que as decisões humanas começam a fazer sentido.
Da mesma forma, ao analisarmos os custos financeiros associados à criação de filhos (alimentação, moradia, vestuários etc.), observamos uma tendência de redução ao longo do tempo, à medida que a produtividade da sociedade aumenta. Contudo, surge a questão: por que, então, a taxa de natalidade está diminuindo? A resposta reside nos outros custos associados à parentalidade, visíveis somente quando se utiliza o conceito de custo de oportunidade - esses custos cresceram à medida que as oportunidades de emprego para mulheres se expandiram, as atividades de lazer ganharam em qualidade, e o valor legal do casamento declinou.
Além disso, compreender o fenômeno do comércio e da especialização lança luz sobre o universo da troca voluntária de uma forma que a humaniza, revelando que nossa existência está intrinsecamente ligada à de outras pessoas – como bem disse o poeta inglês John Donne: "Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; cada ser humano é uma parte do continente, uma parte de um todo." A interdependência das pessoas não é uma negação da individualidade, mas o reconhecimento de que, para satisfazer os anseios individuais, é necessário a colaboração de várias outras pessoas.
Na economia, a ilustração da vantagem comparativa, por exemplo, nos demonstra que, ao produzir um bem ou serviço para o qual temos o menor custo de oportunidade, o valor total dos recursos sociais pode experimentar um notável aumento por meio da especialização e do comércio. Em outras palavras, consideremos que tanto eu quanto minha esposa sejamos capazes de preparar o jantar em uma hora. No entanto, se ela pudesse ter realizado a limpeza completa da casa durante esse período, enquanto eu só conseguiria limpar metade, a escolha para que eu cozinhe e ela realize a limpeza se tornaria mais vantajosa.
A qualidade da formação humana dos indivíduos
Todos dependemos de alguma ideia sobre como os preços se comportam, como a especialização e o comércio funcionam, e o que impulsiona o crescimento econômico. Essas suposições moldam nossa participação na sociedade e na política. No entanto, sem o conhecimento mínimo adequado sobre economia, essas visões prévias podem ser equivocadas e distantes da realidade dos mercados. Entender o papel dos preços, propriedade, lucro e perda ajuda a imunizar as pessoas contra ideologias que, devido a premissas incorretas sobre o funcionamento dos mercados, não conduzem ao florescimento humano.
Por exemplo, ter conhecimento econômico pode ajudar a compreender as falhas inerentes aos sistemas onde existe uma economia centralmente planejada. A propriedade privada, os preços e os indicadores de lucro e perda permitem que o mercado aloque recursos de maneira a atender às necessidades de todos, em oposição a um sistema de controle central onde apenas o organismo político no poder determina a alocação. Mesmo com as melhores intenções, um líder político que não tenha conhecimento perfeito sobre as preferências e necessidades de cada família e empresa dentro do país nunca conseguiria alocar recursos tão eficientemente quanto cada unidade familiar e empreendimento tomando decisões descentralizadas.
Além disso, uma compreensão adequada de economia pode preparar os estudantes para enfrentar o anti-humanismo moderno que busca opor a existência humana ao meio ambiente, pois do ponto de vista econômico, os humanos são um recurso vital. Um contexto em que isso se torna aparente é o argumento já batido de "superpopulação". Qualquer "especialista" que alerta sobre "superpopulação" não compreende os efeitos benéficos do crescimento econômico nas sociedades humanas e no meio ambiente. O crescimento econômico é, em última análise, resultado de pessoas tendo boas ideias - é por isso que o crescimento populacional é necessário para o florescimento econômico de longo prazo. Somar apenas os níveis de capital e trabalho por si só não explica por que algumas economias crescem mais rápido que outras - é a capacidade de experimentar ideias para fazer mais com menos que importa no final.
Alunos treinados em economia também entendem que a liberdade econômica e o crescimento econômico estão associados a níveis drasticamente mais baixos de pobreza, menor mortalidade infantil e materna muito mais baixas, maior proteção aos direitos humanos, maior acesso à educação e melhor conservação do meio ambiente.
Os seres humanos e o crescimento econômico não são inimigos do planeta, mas o principal ingrediente na sua preservação.
Os pequenos milagres econômicos da vida cotidiana
Deixar de ensinar economia nas escolas impede que os alunos reconheçam os fenômenos extraordinários que presenciamos diariamente nos mercadinhos do bairro. É incrível perceber que, quando falta leite para minha filha, alguém já o colocou na prateleira do mercadinho. É um presente reconhecer que, ao passar no drive-thru do McDonald's, estamos participando de uma cadeia de esforço global de cooperação que envolve e beneficia diversas pessoas ao redor do mundo – do agricultor, passando pelo setor de logística, industrial, serviços e finalmente, no comércio local.
Por fim, o ensino da economia permite lembrar aos estudantes que recebemos uma herança inestimável de pessoas que nos precederam. A abundância de confortos e conveniências que desfrutamos hoje é fruto dos sacrifícios e das ideias perspicazes de nossos predecessores. Os estudantes que têm a oportunidade de estudar economia passam a poder valorizar o simples fato de viverem em uma era de riqueza e conhecimento que nem mesmo antigos reis e rainhas tiveram a oportunidade de experimentar.
Acredito que a essa altura, o leitor já tenha compreendido as razões que sustentam a minha urgência no ensino da economia nas escolas no Brasil. Essa urgência é justificada pelo potencial diferencial competitivo que isso representa em suas vidas profissionais, mas também pela formação humana que esse ensino representa, pois se vivemos em sociedade e desejamos desfrutar de uma vida pacífica, na qual a prosperidade é a regra e não a exceção, dependemos largamente da qualidade de seus cidadãos.