Na segunda-feira, dia 14 de agosto, ocorreu a abertura do Seminário Internacional: Psicanálise, Clínica e Violência, promovido pelo Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), em parceria com a Coordenadoria de Cooperação Internacional e Interinstitucional (COI). O evento ocorre em dois dias e pretende promover um espaço de trocas para verificar as diferentes psicoterapias e suas contribuições para o enfrentamento da violência, com uma programação recheada de conteúdo, com participantes nacionais e internacionais.
O professor Jean Carlo Delorenzi, diretor do CCBS, esteve presente na abertura institucional do evento e descreveu como a temática da violência perpassa a questão da saúde e da sociedade. “Discutir esse tema, com seus diversos fatores, é fundamental para levarmos a sociedade a buscar alternativas para lidar com a questão da violência”, disse.
O pesquisador ressalta que há sutilezas no campo da violência, que são diversas, e que é preciso pensar, juntos, em como construir um país sem violência. “Não sabemos se é possível, mas temos de sonhar e tentar”, completou.
Delorenzi afirmou, ainda, que o CCBS tem o desafio de até o final de 2024 ter seis núcleos de excelência em pesquisa e que o de psicanálise e violência é um deles. Para o professor, a própria realização de um seminário de tão alto nível, já aponta para a busca do cumprimento desse desafio.
Compondo a mesa de abertura institucional do evento, a professora Simone Fuso, representante internacional do CCBS; e Fabiano Fonseca da Silva, coordenador do curso de Psicologia, ressaltaram também a importância do tema. Já o professor Fernando da Silveira, também organizador do evento, destacou que esse trabalho realizado no tocante à violência é um tipo de trabalho que não se faz sozinho.
“A criação de redes de pesquisa e de solidariedade é fundamental. Toda reflexão que trago é fruto de um diálogo próximo com meus colegas professores. Todo esse debate é importante, pois tangencia não só a população no Brasil, mas também uma preocupação mundial”, acrescentou Silveira.
As mais violentas do mundo
Trazendo um estudo da organização Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal do México que revelou que das 50 cidades mais violentas do mundo, 47 se encontram nas Américas, sendo que as outras três estão localizadas na África do Sul, o professor Fernando da Silveira comentou que todas essas metrópoles têm em comum um violento processo de colonização.
Ele realçou que o processo de escravização de povos, por cerca de 300 anos, também é um fator que contribui para que – de acordo com edição 2021 do Atlas da Violência – hoje as chances de um negro ser assassinado seja de 2,6 vezes maior que um não negro.
“A elite se sente ameaçada, há uma criminalização da pobreza e ainda existem os efeitos dos algoritmos das redes sociais que ajudam na retroalimentação de preconceitos”, reforçou, apontando que é preciso considerar as condições psíquicas e sociais para poder ajudar pessoas que sofrem de violência em suas diversas formas.
Além disso, Silveira lembra que internamente há uma disputa em desenvolver novos dispositivos clínicos diferentes dos tradicionalmente estabelecidos por Freud para o tratamento clínico, mas que este desenvolvimento sofre bloqueios da própria comunidade muitas vezes.
“Ainda há um certo ataque sofrido pela psicanálise, por não obedecer aos critérios das ciências naturais. Verdade é que ela sempre enfrentou essa necessidade de validação, especialmente de pessoas que não conhecem de maneira profunda o seu campo da epistemologia e contestam a eficácia das psicoterapias”, acrescentou ele.
Debates e apresentações
A sequência das mesas de debate teve a participação do professor Georges Gaillard, da Universidade Lumière Lyon 2, que tratou sobre violência e trabalho na cultura; as professoras Aline Martins e Júlia Durand, ambas da UPM, trataram do Projeto Juntas: grupos de Fotolinguagem com mulheres vítimas de violência doméstica, que teve como comentador o professor Bartholomeu de Aguiar Vieira, também da UPM.
Ainda na pauta do dia 14 ocorreu a apresentação do professor Aurelie Maurin, da Université Sorbonne Paris Nord, que tratou dos Cuidados terapêuticos e institucionais face à violência endêmica: 40 anos de cuidados e de acompanhamento no centro médico-psico-pedagógico (CMPP) de Aubervilliers (França); as professoras da UPM: Aline de Sousa Martins, Berenice Carpigiane, e Isadora Simões de Souza, que apresentaram o Projeto Psyche e a construção de apoios psíquicos, sociais e simbólicos para mulheres em privação de liberdade, com comentários da professora Loraine Seixas Ferreira, da UPM.
O Seminário Internacional de Psicanálise, Clínica e Violência continua no dia 15 de agosto, a partir das 9h, no auditório Escola Americana do campus Higienópolis do Mackenzie.