Em 02 de abril, é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007, que tem por objetivo difundir informações sobre o autismo e reduzir a discriminação e o preconceito a respeito do transtorno. De acordo com dados recentes do IBGE, estima-se que existem cerca de 2 milhões de autistas no Brasil, com mais de 300 mil apenas no estado de São Paulo. A busca por um tratamento adequado ainda é uma grande barreira no país, que conta com poucos profissionais especializados no transtorno.
Com o objetivo de gerar mais conhecimento sobre o tema e desestigmatizar a neurodiversidade no ambiente escolar, conversamos com Marcilene Feital, coordenadora da Coordenação de Bolsas de Estudo (COBES), para entender melhor a experiência de seu filho Arthur, estudante do Colégio Presbiteriano Mackenzie, em São Paulo.
Pouco tempo antes da família carioca se mudar para São Paulo, os avós de Arthur, com quem o pequeno ficava no período de trabalho dos pais, perceberam que o menino, com dois anos de idade na época, estava falando cada vez menos. Quando iam ao supermercado, Arthur apenas apontava para os itens que queria, ao invés de anunciar em voz alta, como costumava fazer. Além disso, foi se tornando cada vez mais hiperativo, não atendendo a qualquer pedido dos pais para se controlar.
Sem rede de apoio em uma cidade nova, Marcilene iniciou sua busca por um diagnóstico para seu filho. Passaram por diversos profissionais, muitos dos quais insistiam que o comportamento de Arthur era normal e que o “rótulo” de um diagnóstico era desnecessário. Neste meio tempo, Arthur já estava apresentando dificuldades de aprendizagem na escola e a mãe ia se tornando cada vez mais aflita.
“Sempre trabalhei com crianças na igreja, então era engraçado que as mães vinham me pedir para educar os filhos delas. Eu conseguia alcançá-los, mas o meu filho eu não conseguia alcançar”, conta Marcilene.
Com Arthur ainda recebendo um tratamento genérico, o matricularam em uma escola baseada na educação sócio-construtivista, que busca criar um ambiente estimulante e ensinar cada aluno de forma diferente. Arthur começou a fazer pequenos avanços e, em alguns meses, já conseguia escrever seu nome e ficava triste quando não podia ir para a escola.
Foi apenas aos cinco anos e meio de idade que Arthur foi diagnosticado com autismo regressivo, condição rara em que a criança apresenta um desenvolvimento regular por um ou dois anos até seu comportamento se tornar atípico. Junto ao diagnóstico, veio o alívio de Marcilene por finalmente saber que tipo de tratamento especializado era apropriado para seu filho.
“As famílias precisam de suporte emocional e eu não sei se o mundo está preparado para isso. Precisamos entender que a neurodiversidade é a nossa realidade, que precisamos ter paciência. E quando se tem um diagnóstico é muito mais fácil, porque quando não tem, a pessoa é rotulada como difícil de lidar e tímida”, enfatiza a mãe.
Quando Marcilene iniciou sua trajetória como colaboradora do Mackenzie, sentia que Arthur não estava mais avançando academicamente na escola anterior. Após uma reunião com a diretora pedagógica do Colégio Mackenzie, onde se familiarizou com a estrutura, o suporte e o material personalizado para crianças com necessidades especiais, decidiu matricular o filho na instituição.
Em janeiro de 2020, a jornada de Arthur no Mackenzie se iniciou. “Graças à coordenação totalmente voltada para crianças com necessidades especiais e às professoras e orientadoras atenciosas, Arthur realizou grandes avanços mesmo em plena pandemia e ao final de seu primeiro ano já estava completamente alfabetizado”, conta Marcilene. Hoje, com 13 anos, já sabe fazer contas aritméticas.
O material escolar de Arthur, feito especialmente para ele, tem histórias e ilustrações de super-heróis, e outros temas de seu interesse, o que mostra o cuidado e a atenção do Colégio por seus alunos. Além disso, a coordenação disponibiliza uma acompanhante para ficar em sala com Arthur e seu amigo Matheus, os auxiliando com o que for necessário.
Mesmo com algumas dificuldades de conversação, o jovem fez várias amizades na sala de aula. Os colegas o ajudam, respeitam e sabem que é um menino doce e companheiro, que defende seus amigos, não gosta de falta de educação e desenha super bem.
“Quando viemos aqui para o Mackenzie, ele foi abraçado pelos amigos, foi abraçado pelas professoras, essa equipe é um diferencial de fato aqui. O zelo e o cuidado que o Mackenzie tem para alcançar o Arthur pedagogicamente é muito gratificante”, explica a mãe.
Por meio da história de Arthur, se torna evidente a importância de um tratamento respeitoso e atencioso, além da necessidade de profissionais especializados para diagnosticar e tratar o transtorno do espectro autista (TEA).
“Hoje em dia, em virtude dos avanços e cuidados, Arthur é um menino independente, que consegue realizar várias atividades sozinho no seu dia a dia e aproveitar uma experiência escolar mais agradável social e academicamente”, finaliza Marcilene.