Em 1994 foi promulgada a Lei 18842, que inclui a política nacional do idoso, destinada às pessoas com mais de 65 anos. Projeções indicam que a população brasileira será 30% idosa nas próximas décadas, formando a chamada sociedade prateada. Conversamos com alguns especialistas da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR) e da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) para entender como o Brasil pode se preparar para esta nova realidade demográfica.
Políticas Sociais
De acordo com o sociólogo e professor do Centro de Educação, Filosofia e Teologia (CEFT) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Wesley Santana, a Lei 18842 introduziu benefícios de prestação continuada, como o salário-mínimo e o bilhete de viagem de idosos, além da formação dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). No entanto, Santana ressalta que essas políticas precisam ser revistas e atualizadas. "O aumento da população idosa exige um olhar cada vez mais constante. Acredito que futuramente será necessário ter até um ministério do idoso", afirma.
Para ele, “a desigualdade social alimenta todos os problemas em relação aos idosos, já que muitos deles vivem na linha da pobreza, sem acesso adequado à educação, saúde e habitação. Existe uma demanda urgente por um aumento significativo na quantidade de profissionais nos CRAS e no orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS)", observa Santana.
Outro ponto mencionado pelo sociólogo é a inclusão social dos idosos e o combate à solidão, originados da ideia de que o idoso é obsoleto. “Temos o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade. Eles podem produzir, criar, inventar e trabalhar”, salienta.
Impactos Econômicos
A diminuição da atividade do idoso está diretamente relacionada com as implicâncias econômicas dessa transição, algo explicado pelo professor de Economia da UPM, Josilmar Cordenonssi. "A proporção de idosos acima da idade de trabalhar tende a aumentar e de gente em idade de trabalhar tende a diminuir. Assim, para manter o nível de renda a produção por trabalhador terá que aumentar. Ou seja, os trabalhadores terão que produzir mais riqueza, mas não necessariamente terão mais renda, pois terá que financiar o consumo da população que já se aposentou”, detalha o economista.
De acordo com Cordenonssi, existe uma preocupação com o setor médico, uma vez que a saúde dos idosos tende a demandar mais recursos. Como os idosos tendem a ter um quadro de saúde mais frágil, isso demanda mais tempo em hospitais e clínicas, medicamentos e cuidados de saúde especializados.
Para mitigar esses e outros desafios econômicos, o mercado de trabalho precisa se adaptar para integrar e apoiar trabalhadores mais velhos. Neste sentido, Cordenonssi sugere a promoção de políticas de envelhecimento ativo, que incentivem a permanência dos idosos no mercado de trabalho.
"A experiência e a sabedoria acumuladas pelos profissionais mais velhos devem ser valorizadas, promovendo seu papel como consultores e sócios em novos empreendimentos. Esta fase da vida pode ser uma das mais criativas, há muito potencial a ser explorado”, sugere Cordedonssi
Saúde Pública e Prevenção
O gerontologista da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR), Rubens Fraga, destaca a carência significativa de instituições de longa permanência (ILPIs). "Áreas rurais e periféricas enfrentam maiores dificuldades de acesso aos serviços de saúde e menor qualidade de atendimento", afirma.
De acordo com Fraga, o aumento da prevalência de doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares, impõe uma carga significativa ao sistema de saúde, no que se trata da prevenção e o diagnóstico precoce. Portanto, é fundamento o planejamento de ações coletivas que promovam a saúde e previnam doenças.
Para o especialista, a falta de integração e coordenação entre os diferentes níveis e tipos de cuidados é um grande desafio. Além disso, a formação e a disponibilização de cuidadores profissionais são insuficientes, o que afeta a qualidade do atendimento prestado aos idosos. Esses problemas resultam na fragmentação dos serviços e na dificuldade de manter tratamentos.
Confira algumas ações prescritas pelos especialistas que podem colaborar com qualidade de vida da futura sociedade prateada:
Criação de espaços e programas que promovam a interação social;
Programas de requalificação profissional e flexibilidade nas jornadas de trabalho;
Ambientes de trabalho inclusivos, acessíveis e seguros para idosos, incluindo ergonomia e tecnologia assistiva;
Campanhas e políticas de combate ao etarismo;
Subsídios para empresas que contratem ou mantenham trabalhadores idosos;
Avaliações médicas multidimensionais para identificar as necessidades específicas dos idosos;
Construção de planos terapêuticos individualizados e intervenções oportunas para evitar ou minimizar a perda funcional;
Mapeamento e cadastro da população idosa nos territórios de responsabilidade sanitária para identificar perfis demográficos, epidemiológicos e socioeconômicos;
Programas de educação permanente para profissionais de saúde, com foco no cuidado integral e nas especificidades da população idosa;
Desenvolvimento de dispositivos de monitoramento de saúde e robótica assistiva.