Na última segunda-feira, 14 de dezembro, os céus da América do Sul foram contemplados com a ocorrência de um eclipse solar, fenômeno que acontece anualmente, mas que é difícil de ser observado. O Centro de Rádio Astronomia e Astrofísica do Mackenzie (CRAAM) conseguiu, por meio de diversos aparelhos, registrar belas imagens do eclipse.
“O CRAAM conta com um conjunto de instrumentos muito grande que se caracterizam, principalmente, pela originalidade e qualidade. As imagens que enviamos foram obtidas em um comprimento de onda que os olhos (e telescópios ópticos) não registram”, explica o professor e pesquisador do centro, Carlos Guillermo.
Isso foi possível pois, atualmente, existem apenas dois telescópios capazes de observar o Sol nesse comprimento de onda sem ser danificado. Um deles é o Telescópio Solar para Ondas Submilimétricas (SST), que foi construído pelo CRAAM nos anos 90, localizado no Complejo Astronómico El Leoncito (CASLEO), na Argentina. A observação foi comandada remotamente de São Paulo e contou com apoio logístico e técnico do CASLEO e da Sede do CRAAM, localizado no campus Higienópolis.
Com todo esse aparato, foi registrada a passagem da Lua em frente ao Sol, como mostra a sequência de imagens no comprimento de onda de 1,4 mm (frequência 212 GHz). Neste comprimento de onda, o Sol é apenas 10 vezes mais brilhante que a Lua e isso permite observar os dois juntos: o círculo amarelo é o Sol, o fraco círculo azul, a Lua. Imagens na faixa visível do espectro não conseguem captar ambos os astros porque o Astro Rei é 10 bilhões de vezes mais brilhante que a Lua. Assim, a Lua sempre aparece como um disco preto que oculta o Sol.
As imagens feitas são inéditas. “A ocultação que faz a Lua é tão perfeita que permite descobrir estruturas sobre a superfície solar que, mesmo com instrumentos muito sofisticados, não seria possível. No caso específico do SST, além de ter gerado uma sequência de imagens única (nunca vimos antes Sol e Lua juntos e com sua luz própria) estamos analisando os dados à procura de estruturas solares semi-ocultas pela Lua que, nesta faixa de comprimentos de onda, não são facilmente observáveis”, explicou Guillermo.
O fenômeno foi melhor observado na região patagônica chileno-argentina, onde o eclipse foi total. Porém, também foi possível observá-lo em alguns estados brasileiros. Eclipses solares acontecem toda vez que a Lua se interpõe ao Sol, quando observado desde a Terra. Os eclipses totais podem ser vistos numa área estreita da superfície terrestre, que muda de eclipse para eclipse. Então, apesar de haver, em média, dois eclipses solares por ano, o fato de acontecer em lugares muito específicos e diferentes os torna uma fonte de atração turística. Ano que vem, o fenômeno acontecerá na Antártica.
Apesar das restrições causadas pela covid-19, grande número de pessoas se aproximaram dos locais de observação da totalidade do eclipse para desfrutar de um dos maiores espetáculos naturais.