No Brasil para lançar seu mais novo livro, As Pequenas Doenças da Eternidade, o escritor Mia Couto esteve na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) nesta quarta-feira, 23 de agosto, para participar um bate-papo, promovido pelo Interfaces da Cultura, em parceria com a pró-reitoria de Extensão e Cultura da UPM. O encontro foi realizado no auditório Ruy Barbosa, no campus Higienópolis.
No começo da conversa, o escritor moçambicano citou diversos escritores brasileiros e evidenciou como a cultura brasileira influenciou seu trabalho. "O Brasil me ensinou que ser sensível a outras vozes e outras realidades é tão importante quanto saber quem de fato sou. Obrigado por terem contribuído tanto em minha formação", declarou.
O livro do moçambicano é composto por contos e foi escrito nos últimos anos, durante o período em que o mundo enfrentou a pandemia de covid-19.
“A pandemia não aconteceu em Moçambique da mesma forma que no Brasil. Lá morreram 2 mil pessoas. Moçambique se organizou de uma forma muito rápida, de uma maneira que muitos países desenvolvidos não se organizaram", apontou. Apesar disso, o autor afirma que o país vive uma solidão, enquanto nação, por não ter a situação tão evidenciada nos noticiários.
O bate-papo foi intermediado pelas professoras do Centro de Comunicação e Letras (CCL) da UPM, Regina Helena Pires de Brito e Ana Lúcia Trevisan. Mia Couto comentou sobre os contos; abordou assuntos atuais, como literatura em geral e sociedade; contou histórias familiares e emocionou o público presente no Ruy Barbosa, que ficou lotado.
Por falarem o mesmo idioma, Mia Couto também afirmou que Brasil e Moçambique compartilham uma solidão, inerente a países que estão fora do círculo de decisões globais.
“Se uma guerra acontece na Europa, tem outra dimensão. É uma forma de solidão, uma solidão coletiva, de poder ser nação. E acho que toda literatura deve tratar dessa temática”.
O escritor também abordou o próprio processo de escrita. “Quando se vai escrever um livro, não vamos procurar em grandes autores ou filósofos, mas olhamos para dentro de nós mesmos e conversamos com os nossos próprios fantasmas”, apontou.
Estiveram presentes no evento: o reitor da UPM, Marco Tullio de Castro Vasconcelos e o pró-reitor de Extensão e Cultura, Cleverson Pereira de Almeida, que na abertura do encontro ressaltou a importância do debate entre países falantes da língua portuguesa. “É uma honra ter aqui um escritor como o Mia Couto. Nós amamos a lusofonia e o jeito que falamos. Tê-lo aqui hoje nos distingue como instituição de ensino”, declarou.