Recentemente, o Brasil disponibilizou a nova vacina contra a dengue na rede pública, tornando-se pioneiro mundial nessa iniciativa. Embora a conquista represente um avanço significativo no combate à doença, a escassez de doses apresenta um desafio que precisa ser enfrentado com planejamento estratégico.
Qdenga, nome dado à vacina, é desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda Pharma. A especialista em Farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), professora Amouni Mourad, esclarece que ela foi produzida a partir do vírus vivo atenuado, o que a torna uma aliada valiosa na estimulação do sistema imunológico. Esse enfoque é essencial para o desenvolvimento de uma resposta mais eficaz contra a doença.
"Essa condição pode melhorar a resposta do sistema imunológico, funcionando de forma semelhante à defesa do corpo humano nos casos de infecção pela dengue", afirma a especialista.
Ampliando o entendimento sobre a tecnologia farmacêutica empregada, Mourad explica que a vacina é baseada no DNA recombinante, uma técnica que utiliza genes dos sorotipos 1, 3 e 4 para modificar o tipo 2 geneticamente. Essa abordagem permite estimular o sistema imunológico humano a produzir anticorpos específicos para cada sorotipo do vírus da dengue. A estratégia foi cuidadosamente elaborada, levando em consideração a prevalência dos sorotipos no Brasil e sua relação com os casos graves da doença.
Quanto ao potencial impacto da vacina, a infectologista da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR), Andrea Rossoni, destaca que além da prevenção, a vacina pode contribuir para redução de risco da doença em 80%, e de hospitalização em 90%. É importante ressaltar que, atualmente, ela está disponível para venda no setor privado, enquanto no Sistema Único de Saúde (SUS), está em fase inicial de logística.
O grupo mais afetado pela doença são os idosos acima de 60 anos, os quais a vacina ainda não foi autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Por esse motivo, a faixa etária prioritária para a vacinação é de 10 a 14 anos, considerando que esse grupo concentra o 2° maior número de hospitalizações por dengue. Vale ressaltar que, a Qdenga é contraindicada para crianças com menos de 4 anos e pessoas imunossuprimidas.
Inicialmente, a distribuição não será implementada em todos os lugares. De acordo com Rossoni, foram priorizadas áreas com alta incidência da doença, com base em uma análise da contaminação e gravidade da dengue nos últimos 10 anos.
Em relação ao esquema de vacinação, a infectologista explica que são necessárias apenas duas doses, administradas com um intervalo de três meses. Segundo ela, estudos estão em andamento para avaliar a necessidade de doses adicionais.
“O maior medo das pessoas é ter um segundo episódio de dengue, porque existem teorias de que seria mais forte e grave. A vacina antiga agia pensando nisso. Era boa pra quem já havia contraído dengue. Mas, não funcionava nos outros casos. Nesta nova vacina, as pessoas que não nunca tiveram a doença, e foram contaminadas, não tiveram quadro grave”, detalha Rossoni.
Entretanto, a infectologista ressalta a importância de manter a vigilância e continuar enfatizando a prevenção, especialmente entre os grupos mais vulneráveis. A introdução da vacina na rede pública é um avanço que exige esforço conjunto para garantir que todos tenham acesso à imunização e que os recursos sejam alocados de forma eficaz para enfrentar os desafios associados à doença.