A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) realizou, em celebração ao Dia Internacional da Mulher, o debate Urbanismo Feminista: A Voz das Mulheres na Construção das Cidades, com a presença da pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU), Norma Urban Gomes.
“Fiz meu doutorado no Mackenzie, com orientação da professora Ana Gabriela Godinho Lima, e estudei o urbanismo feminino e seus guias. Me deparei com muito material e cheguei em um ponto em que precisava fazer uma análise desses guias”, diz Gomes. Em sua tese A Voz das Mulheres na Teoria do Urbanismo: Uma Análise Crítica dos Guias de Urbanismo Feminista, ela criou um método de análise, entendendo que os espaços são diferentes, assim como as realidades dentro de uma cidade, portanto, é impossível a aplicação de um mesmo guia em um único território.
O urbanismo feminino, segundo Gomes, é um conceito novo, porém não muito diferente do já conhecido urbanismo. “Quem trabalha produtivamente é lembrado no urbano, quem trabalha não produtivamente, em sua maioria mulheres, é esquecido. O urbanismo feminista vem reivindicar isso, entendendo que os lugares, as mulheres e o plano urbano possuem particularidades”, define a pesquisadora. Para ela, de maneira resumida, o urbanismo feminista tenta fazer os excluídos terem participação no espaço.
Ao falarmos de mundo urbano produtivo, estamos falando, de acordo com a pós-doutoranda, de uma perspectiva histórica em que os homens, em sua maioria, construíram espaços com um padrão idealizado pela sociedade, com alguns objetivos específicos. Gomes destaca que o resto da população que não se encaixa nesse modelo 'ideal' está excluída do espaço, mesmo que seja masculina. “A resposta do urbanismo feminino é a quebra dessas divisões que existem no mundo. Hoje, quando vamos fazer planos urbanísticos, a gente estuda dados e não pessoas, o urbanismo feminista coloca essa ordem inversa, pois temos que olhar a vida cotidiana das pessoas”, afirma.
Em sua tese, Gomes descreve que “em seus papéis socialmente atribuídos como cuidadoras primárias, as mulheres se tornaram especialistas em manter a vida cotidiana para si próprias, suas famílias e comunidades, elas então precisam de cidades que possam ser planejadas para apoiá-las nesta função”. A partir disso, as cidades necessitam de planejamento pautado na perspectiva de gênero para garantir um bom funcionamento para todos os cidadãos.
Com isso, o papel feminino na construção da cidade é de extrema importância, visto que o uso do espaço pela mulher é pendular, tornando-a detentora de um conhecimento muito maior da cidade e de questões que podem facilitar o cotidiano. “Ela precisa ser ouvida”, diz a pesquisadora.
Guias
Os guias estudados pela pesquisadora mackenzista são um conjunto de métodos investigativos. “Quando vou estudar o espaço urbano e pensar em uma diferença de gênero, como o homem usa e como a mulher usa, preciso desses métodos investigativos”, explica. A partir deles é possível entender o espaço, a partir do olhar feminista.
“Na construção de um conjunto habitacional com percepção de gênero, toda casa no Brasil precisa ter uma cozinha e uma lavanderia. Se eu usar essa perspectiva de gênero, posso sugerir que tenha uma cozinha e uma lavandeira comunitária, por exemplo”, exemplifica Gomes.
Próximos passos
Após o término do doutorado, Gomes se deparou com o questionamento de como aplicar os guias em projetos dentro de sala de aula dos cursos de Urbanismo. Agora, no pós-doutorado, o foco do estudo será justamente colocar em prática alguma metodologia presente nos guias para estudar o espaço urbano. “O urbanismo feminista tem a tendência e vontade de interferir no mundo já construído, modificando e resolvendo algumas questões”, acrescenta.