O campeão está de volta. Wendell Belarmino, medalhista de ouro nas Paralimpíadas de Tóquio, neste ano, retomou a rotina de treinos em Brasília, na última segunda-feira, dia 20, no Parque Aquático do Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília (CPMB), localizado no Lago Sul. Patrocinado e apoiado pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM), o atleta estava em recuperação desde o retorno ao Brasil, no início deste mês, e agora volta a acelerar as batidas para recuperar o condicionamento físico e estar preparado para o próximo desafio: o Mundial de Natação, que será disputado, em 2022, na Ilha da Madeira.
Considerado o atleta a continuar o legado de outro atleta mackenzista, Daniel Dias, Wendell não deixa a perspectiva dos fãs, jornalistas e analistas subir à cabeça. “O que ele fez é incomparável, insubstituível. A contribuição que deu ao esporte é sem igual, o que eu tentarei fazer, me doando até o limite, é continuar essa trajetória, principalmente levantando a bandeira do paradesporto dentro e fora do meu País. No mais, eu quero me divertir, nadar melhor e nadar rápido”, frisou o campeão.
O Mackenzie, que tem tradição em incentivar o esporte, apoia o atleta desde o início de 2020. Em agosto do ano passado, decidiu mergulhar junto com o nadador em busca do ouro paralímpico e do recorde mundial. Wendell se dedicou por pelo menos três horas em treinos dentro e fora da água, todos os dias da semana. A rotina foi intensa, mesmo durante as festas de fim de ano. “O Mackenzie acreditou em mim, no meu potencial e me ofereceu uma estrutura sensacional. A piscina é excelente. Aqui tenho tudo o que preciso para treinar”, elogiou.
Confira a íntegra de entrevista exclusiva concedida pelo atleta ao Mackenzie:
O que mudou na sua vida de Tóquio pra cá? Muitas novidades? Pode adiantar algumas?
O que mudou na minha vida, principalmente, foi o fato de eu estar mais conhecido! As pessoas, agora, me mandam várias mensagens nas redes sociais e me param na rua para tirar uma foto, para me cumprimentar. Além disso, minha agenda está completamente preenchida com vários compromissos interessantes para mim e para a bandeira do paradesporto. Enfim, tem sido bem bacana essa atenção que eu tenho recebido do público, dentro e fora do mundo digital. É um reconhecimento do meu trabalho e é importante pra todos nós.
Nenhuma novidade para adiantar por enquanto. Só o de sempre, muito treino e muita dedicação. As novas metas estão sendo traçadas. É claro que meu objetivo principal, agora, é melhorar minhas marcas para 2024, em Paris, e para o mundial, ano que vem.
Seus resultados nas olimpíadas chamaram a atenção em todo o mundo, você já tem dimensão do que fez em Tóquio? Qual o tamanho desses resultados para você?
Para ser sincero, ainda estou tentando entender a dimensão disso tudo, dos resultados e tudo mais. Fiz uma breve pausa agora, para também pensar nisso, e ainda não consegui assimilar o tamanho do que ocorreu. Vai levar um tempinho para eu conseguir compreender. Eu fui lá para nadar, me divertir, realizar o sonho de ir para uma Paralimpíada, e acabou sendo algo muito melhor do que eu esperava. Foi gratificante demais ter ganhado aquelas medalhas. Uma coroação do meu trabalho nos últimos seis anos, desde que eu comecei o treino focado em Tóquio.
Você já está é considerado como o próximo grande atleta paralímpico do mundo, e, também, quem irá, naturalmente, dar prosseguimento ao ciclo importante do Brasil na natação, com participação importante de Daniel Dias (que não irá mais competir em Olimpíadas) e outros atletas. Como você encara essa expectativa? Como trabalhar isso na sua cabeça e das pessoas que te acompanham para que não atrapalhe nos treinos e nas próximas competições?
Eu fico muito feliz, claro, com esse reconhecimento. Ser observado como um dos próximos grandes atletas é um sonho sendo realizado. Me tornar um dos grandes nomes do esporte nacional e mundial… Eu procuro nem pensar muito nisso, sabia? Tento pensar em fazer o que eu gosto, que é nadar e competir. Resultado para mim é só depois que eu bato na parede, é aí que eu me preocupo.
Você será o próximo Daniel Dias?
As pessoas me perguntam isso, sobre como é estar sendo cotado como próximo Daniel Dias. Mas ele é insubstituível. O que ele fez pelo esporte paralímpico brasileiro e mundial é algo histórico, incomparável. Isso sem contar a pessoa que ele é. O legado que ele deixou é incrível. E eu fico feliz de ser uma das peças que dará continuidade a esse legado. Vou continuar fazendo o meu melhor, me esforçando ao máximo, e os resultados aparecerão.
Como a parceria com o Mackenzie foi importante para os Jogos deste ano?
Foi fundamental, me ajudou a ter um conforto melhor para treinar e competir. Pude comprar os melhores equipamentos para treino, me deslocar diariamente com mais facilidade, inclusive com a ajuda em coisas que hoje são caras, como combustível, e ainda tive uma equipe multidisciplinar. É algo extremamente importante, que me auxilia na minha rotina. Se não fosse o Mackenzie, as coisas seriam infinitamente mais difíceis. Então, foi extremamente importante.
Talvez ainda seja cedo para pensar nisso, mas como está a estratégia para Paris? O que você, seu técnico e a equipe estão organizando? Vocês têm algum objetivo central para 2024?
Estamos aguardando o cronograma de provas das próximas Paralimpíadas para desenhar nossas estratégias. Mas posso adiantar que o plano principal é acrescentar uma ou duas provas, e fazer uma troca. Iremos sair dos 50 metros livre para os 100 metros livres, porque não haverá 50 metros S11, em Paris, devido a um critério do Comitê Internacional. Então, continuo nas mesmas provas deste ano, farei a mudança dos 50 para os 100 e ainda acrescentarei duas outras provas. Porém, o que importa mesmo é que irei fazer o máximo para nadar rápido, nadar bem e me divertir.
Já voltou a treinar? Como está a rotina hoje?
Desde que voltei de Tóquio, no início deste mês, estava em recuperação. Voltei a treinar no último dia 20, com um pouco de piscina, academia e aeróbico. Minhas séries, por enquanto, estão voltadas para o condicionamento físico. Estou também aproveitando para curtir minha família e meus amigos e para descansar. Sempre com foco total nos meus próximos desafios.
E a agenda para 2021? Ainda teremos Wendell nas piscinas esse ano?
Nos dias 24 e 25 de outubro, eu vou participar de um meeting, aqui em Brasília, organizado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro, que será uma classificatória para as competições nacionais do ano que vem, além de seletivas para o mundial que ocorrerá na Ilha da Madeira também em 2022.
Então, sim, ainda tem Wendell nas piscinas esse ano, nessa competição, e, talvez, em alguma outra competição menor, nacional ou internacional, para manter o ritmo.
Dos seus colegas, em quem precisamos ficar de olho?
Olha, é preciso observar de perto o trabalho do Élcio Cunha, grande amigo meu, companheiro de raia em alguns treinos, da mesma classe que a minha e, certamente, alguém que aparecerá em Paris 2024. É um menino jovem e eu posso dizer pelo que eu mesmo acompanho, diariamente, que há talento, dedicação e muito esforço. Ele está trabalhando forte e muito empenhado para este ciclo. Também temos o Gabriel Barradas, da S14, que treina muito bem, e também deve deixar seu nome em 2024. Fiquem atentos a estes dois nomes nos próximos anos!
Qual mensagem você quer enviar para a sua torcida?
Agradeço a torcida e o apoio de todo mundo. Foi incrível receber todo o carinho dos brasileiros, que se organizaram para dormir tarde, acordar cedo e nos acompanhar nas competições do evento. É muito legal ver o movimento paralímpico crescendo, eu fico muito feliz com isso, e fico feliz também de ser um dos porta-vozes do movimento aqui no Brasil, de ser uma das pessoas que está levando o paradesporto para mais pessoas.
Então, quero agradecer demais as torcidas de todos e reiterar o apoio do Mackenzie. Se não fossem vocês, o resultado certamente teria sido diferente. Me ajudaram com tudo, dos trajes aos treinos. O apoio do Mackenzie fez tudo ficar mais tranquilo. Obrigado!