“Temos de passar do vitimismo à resiliência na América Latina. É preciso um trabalho psicológico e de resgate para que as pessoas entendam que ser livre significa ser responsável. Liberdade não garante que estejamos tomando as melhores decisões o tempo todo, mas garante responsabilidade em não deixar nossas decisões nas mãos de outros, sendo arquitetos de nossos destinos”, afirma Gloria Álvarez, ativista contra o populismo e candidata à presidência da Guatemala que esteve no Mackenzie Higienópolis na noite de 11 de abril para o evento Populismo na América Latina.
Sabatinada pelo jornalista e escritor Leandro Narloch, autor do Guia politicamente incorreto da história do Brasil (Leya, 2009), a acadêmica, formada em Ciências Políticas pela Universidade Francisco Marroquín, pós-graduada em Economia e Política pela Georgetown e mestre em Desenvolvimento Internacional pela Universidade Sapienza de Roma, debateu a respeito das raízes e história dos líderes populistas na América Latina; uso da tecnologia na luta contra o populismo; e de ativismo e ideais de liberdade no contexto brasileiro.
Nascida na Guatemala, país com 16,91 milhões de pessoas (dados do Banco Mundial de 2017), filha e neta de cubanos, foi durante seu período de viagens e estudos pela América Latina que Gloria percebeu o quanto o populismo é destrutivo aos países da região e tem atrasado o processo de liberação econômica, necessário ao progresso e melhoria de vida da população em sua opinião. “As nações mais prósperas são as livres economicamente. Os pobres dos países livres são 11 vezes mais ricos que os dos outros”, afirma ela.
Narloch concorda com Gloria e diz que “às vezes esquecemos do valor da liberdade econômica e é ótimo que o Centro Mackenzie de Liberdade Econômica (CMLE, organizador do evento) resgate esse debate de qualidade. Que bom que muitas coisas que escrevi em meu livro 10 anos atrás ficaram datadas e velhas, é ótimo para o Brasil ter tido o fim do imposto sindical e abertura a privatizações, por exemplo. É bom que hoje possamos denunciar os populistas que jogam parte da população contra a outra, que dizem ser salvadores e ter todas as soluções. No entanto, não estamos livres deste mal e temos de temer novos populistas que se escondem sob outras máscaras”.
Denúncia e medo
E é este tipo de denúncia que Gloria conta em seu mais novo livro – lançado com exclusividade durante o evento, em parceria com a editora LVM – O Embuste Populista - Porque Arruínam Nossos Países, e Como Resgatá-los, construído com dados históricos e pesquisas que não são facilmente refutados e que trata da mentalidade populista na região. “Não só dos políticos, mas também dos eleitores. Há uma paranoia contra o liberalismo na maioria destes países que é infundada. Nestes discursos escutamos termos como ‘neoliberalismo’, mas como pode haver um ‘novo’ liberalismo se a economia da América Latina nunca foi realmente livre?”, questiona a autora.
O grande medo criado em torno do liberalismo econômico nessa região se baseia na afirmação de que o mercado não funciona. No entanto, Gloria destaca que “a questão não é que o mercado não funciona, como dizem os populistas, mas sim que o mercado aqui nunca foi livre. Poder absoluto corrompe absolutamente, logo, proponho separar totalmente o Estado da economia e dos recursos”.
Mudanças e comunicação
De acordo com ela, a melhor maneira de se fazer essa separação é por meio de uma reforma mais rápida e radical. “Dizemos que a educação deve ser do Estado, mas políticos escolhem coisas baratas, sem qualidade e usam educação como forma de doutrinação em vez de educar e o modelo se perpetua”. Ela analisa que até mesmo o ensino superior na América Latina é majoritariamente dentro de um modelo socialista, tanto em instituições privadas como públicas, “com professores que mostram socialismo como cool, os jovens são conquistados e acabamos planificando ideias e sem pessoas que consigam refletir fora desse modelo”, completa.
“Devemos usar o YouTube, Twitter, memes, textos, fóruns e todos os meios possíveis, em especial os digitais, para batalhar constantemente pelas ideias, neste caso contra este mal do populismo. A história infelizmente mostra que a América Latina vive em um pêndulo medíocre acreditando que as coisas mudam quando mudamos de presidente, mas isso não é verdade. O debate é mais importante do que se ter um presidente. Todo lugar é um laboratório de ideias para discussões”, ressalta Gloria.
Perigos escondidos
Como conta a autora, as ‘pontas dos icebergs’ de um liberal e de um socialista são diferentes. “A do socialismo parece melhor, fala de igualdade, benefícios, incentivos e subsídios, enquanto que a do liberal trata de trabalho, mérito, empreender, elevar conhecimento, etc. O problema é que o que está por baixo do iceberg socialista não é dito e que ‘sustenta’ essa estrutura terrível: genocídio, prisão, pobreza e miséria”, enfatiza ela.
Como resolver a questão
Segundo Gloria, a pobreza mental é pior que a material. “As pessoas pensam que o contrário é responsável pela miséria, mas acredito no oposto. Parece que o pêndulo aqui no Brasil trafega entre o mercantilismo estatal e o socialismo, então falta ver que há outras saídas. Somos o que somos porque não cortamos as cadeias mercantilistas, o corporativismo e as ideias que nos destruíam por dentro”.
Ela explica que se os incentivos de uma sociedade são perversos, a população será corrupta. E se forem positivos, há melhora. “A melhor maneira de ensinar a uma pessoa pobre como o liberalismo funciona é pegar sua maior necessidade e mostrar como podemos melhorar essa questão na economia liberal”, finaliza a pesquisadora.
O evento ainda contou com abertura e fechamento de Vladimir Fernandes Maciel, coordenador do Centro de Liberdade Econômica Mackenzie, e reflexão confessional conduzida pelo reverendo Jônatas Abdias de Macedo, capelão da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).