O Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é definido, segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, como transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que surge na infância e, frequentemente, acompanha o indivíduo durante sua vida.
Ele é compreendido, atualmente, como um transtorno que compromete principalmente as “funções cerebrais executivas, responsáveis pela elaboração de raciocínio abstrato, planejamento e organização de tarefas, memória operacional, resolução de problemas, inibição e auto monitoramento de comportamentos, ou seja, processos fundamentais para a aprendizagem”, explica Regiane Pereira, fonoaudióloga da Educação Básica do Colégio Presbiteriano Mackenzie (CPM) Higienópolis.
“Essas funções podem estar comprometidas de formas e intensidades diferentes em cada indivíduo, o que muitas vezes, dificulta a avaliação e o diagnóstico”, pontua ela.
De acordo com Luiz Renato Carreiro, professor adjunto do programa de pós-graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), durante a infância, o TDAH pode se manifestar de diferentes formas, apresentando sintomas como desatenção ou impulsividade, sendo possível existir uma combinação de ambos, com níveis de gravidade que podem variar entre leve, moderado ou grave. A classificação da gravidade é verificada pela quantidade de prejuízos funcionais que a pessoa sofre, já que estes mostram os impactos do transtorno em suas atividades diárias.
“A desatenção pode ser representada por comportamentos que demonstram dificuldade de manter foco, desorganização, fácil distração, divagação e falta de persistência, enquanto a hiperatividade/impulsividade podem ser representadas por alto nível de atividade motora, inquietude extrema, ações e decisões precipitadas ou intromissão social”, explica o professor.
No ambiente escolar
Como o TDAH é um transtorno que afeta o comportamento da criança e sua capacidade para aprendizagem, a escola precisa assumir papel de organizar os processos de ensino de maneira que favoreça o processo de aprendizagem do aluno.
“É fundamental que o professor conheça as dificuldades do transtorno e utilize estratégias de manejo comportamental que beneficie este aluno em sala de aula”, pontua a professora.
Algumas atitudes são essenciais nesse processo, como identificar os talentos que o aluno possui; estabelecer rotina e organização (que são elementos fundamentais para o desenvolvimento); diminuir os estímulos distratores em sala de aula e “estabelecer contato visual com o aluno, possibilitando uma maior sustentação da atenção, entre outros recursos”, indica Regiane.
Ainda segundo a fonoaudióloga, a possibilidade de identificar precocemente os sintomas e encaminhar o aluno para avaliação médica, “transforma o professor e toda a equipe técnica do colégio em peças fundamentais no processo de diagnóstico e no tratamento do TDAH”, assinala a professora.
É importante lembrar que, conforme relata Carreiro, o rendimento escolar pode ser afetado não por uma dificuldade do aluno em compreender as informações ou conteúdos, mas pela sua dificuldade em se manter atento às explicações e atividades escolares, por isso o professor muitas vezes é chamado a reorganizar sua prática para garantir a atenção desse aluno por mais tempo, evitando prejuízos em seu aprendizado.
O papel da família
Os pais e/ou responsáveis precisam procurar informações sobre o transtorno, seja por meio de livros, cursos, vídeos, de forma a assegurar que o diagnóstico e tratamento do seu filho sejam realizados por profissionais especialistas, que realmente entendem do assunto. “Vale lembrar que os pais devem ser pacientes e persistentes para enfrentarem com segurança os possíveis desafios”, afirma Regiane.
Para o professor da pós, a família também precisa buscar por uma equipe interdisciplinar com avaliação clínica médica, de preferência neuropediátrica ou psiquiátrica, com foco na infância e adolescência, junto a avaliações neuropsicológicas e comportamentais para compreender a expressão das dificuldades em diferentes ambientes da criança.
Com base no livro “distúrbios de desenvolvimento: estudos interdisciplinares”, de autoria de Cibelle Albuquerque, Decio Brunoni e Paulo Sérgio Boggio, o professor Carreira reitera a necessidade do uso de algumas práticas que podem auxiliar na orientação de filhos com TDAH, tais como: usar o timers, relógios ou dispositivos que mostrem o tempo para a realização de uma tarefa, passar informações importantes utilizando lembretes em locais estratégicos, negociar e explicar em vez de impor, dentre outros.
“Deve-se ter um acompanhamento familiar próximo da criança e da escola para auxiliá-la na execução de suas atividades. Crianças com TDAH, justamente por apresentarem dificuldades na autorregulação, dependem mais do feedback externo dos pais para regularem seus comportamentos que crianças da mesma idade sem o transtorno”, aponta ele.
Para Regiane, ensinar é uma tarefa que impõe desafios diários e variados para o educador. “Ensinar uma criança com TDAH é ainda mais desafiador, pois cada criança é única. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado com medicações eficazes, somados às estratégias de manejo comportamental e o acompanhamento especializado, contribuem significativamente para o êxito no processo de aprendizagem do aluno”, finaliza Regiane.