2017 - Mateus Assis - Direito
Há muitas dúvidas que ocupam a cabeça do futuro intercambista. “Como serei recebido?”, “Será que realmente me adaptarei ao novo país?, à nova língua?”, “Sem a presença direta de familiares e amigos, será que superarei bem as inevitáveis adversidades?”, etc. A verdade é que, por mais que nos preparemos, tais respostas permanecerão desconhecidas até enfrentarmos o dito cujo. Desse modo, fazer um intercâmbio não deixa de ser um mergulho no desconhecido, tanto interno como externo.
Alegro-me em dizer que, passados mais de dois meses de viagem, a jornada tem sido muito enriquecedora, embora não raro desafiadora. Creio já ter desvendado a maior parte dos mistérios mencionados, motivo pelo qual aqui esboço um relato de experiências ao invés de expectativas.
Tendo estudado em colégio alemão e visitado o país em duas oportunidades anteriores, já não era tão ignorante à cultura alemã. Ainda assim, a dimensão de algumas características só pode ser compreendida quando se estabelece uma rotina no país, uma vez que o convívio e interação com os nativos são mais profundos. Inevitável vêm à mente dois notórios traços alemães: a pontualidade e a introversão. Fui me dar conta de quão sério era o primeiro quando fui convidado a deixar para finalizar a compra de supermercado em outro dia, já que estavam encerrando o expediente (eu com cesta em mãos, a cinco minutos do horário de fechar o estabelecimento). O segundo traço se tornou cristalino ao perceber que embora faça três das quatro matérias em idioma local, nunca fui abordado por nenhum alemão antes ou depois das aulas compartilhadas. Contudo, disso não se segue que eu esteja solitário, não. Como Münster é uma cidade essencialmente universitária, não faltam pessoas com que interagir (ainda que, no caso germânico, a iniciativa tenha de ser minha). Fiz amigos de diversas nacionalidades: alemã, inglesa, grega, portuguesa, irlandesa, ..., e, pasmem!, brasileira. Sofrendo das mesmas dificuldades e saudades que eu, meus compatriotas têm se provado grande aliados no processo de adaptação a essas terras frias.
Além da esfera gregária, insisto que o intercâmbio seja composto também por um aspecto interior, pessoal. Para muitos (inclusive eu) é a primeira experiência longe dos pais, dos amigos, dos confortos do lar. Lidar com isso significa necessariamente assumir deveres e responsabilidades que devem ser internalizados. Ao fim não se esquece mais de fazer as compras da semana, de lavar a roupa quando necessário ou de estudar a lição difícil passada em sala. Desnecessário dizer quanto isso contribui para o crescimento pessoal, para o passo final a caminho da vida adulta.
O motivo central do intercâmbio universitário é, sem dúvida, o estudo. E referentes a isso, não há nada além de elogios a serem feitos à Universidade de Münster. Professores e infraestrutura do mais altíssimo nível. Curso aqui quatro matérias: História do Direito Alemão, Introdução ao Direito Comparado, Elementos Básicos da Sociologia do Direito e Direito Constitucional Americano. As três primeiras em alemão e a última em inglês têm ainda contribuído para meu desenvolvimento nos dois idiomas. Apesar da óbvia defasagem que tenho por ambas não serem minhas línguas maternas, estou conseguindo, com esforço, acompanhar as aulas.
Por fim, tenho a certeza de que levarei deste semestre diversos ensinamentos, que pretendo colocar em prática tanto no âmbito acadêmico, na Faculdade de Direito do Mackenzie, como também na minha vida pessoal. Gratidão é a palavra que fica.