03.11.2022 - EM
Ao deparar com uma crítica sobre um amigo da escola e ficar triste, não aceitar que você empurrou o colega, se irritar e sair bravo com a atitude do outro ou julgar o amigo de sala por ter tirado uma nota considerada baixa, esses são alguns atos em que se enquadram uma comunicação considerada violenta.
Pensando em formas de amenizar essas relações, o psicólogo norte-americano Marshall B. Rosenberg, nos anos de 1960, cunhou o termo Comunicação Não- Violenta (CNV) a partir de experiências que teve durante a infância. Ele começou a analisar como o comportamento entre as pessoas era diferente em quem se comunicava de forma violenta em relação a quem era mais compassivo e compreensivo.
Marshall atuou como orientador educacional e percebeu a importância da prática pacífica na comunicação como norteadora de resolução de conflitos. As ideias dele serviram de base para a utilização de métodos por diferentes profissionais ao redor do mundo, principalmente, líderes e educadores.
Afinal de contas, o que é e como se comunicar de forma não violenta? Ela está em qualquer ato ou comportamento do cotidiano, tanto nas relações interpessoais, como na família, no trabalho, nos pequenos gestos e no diálogo.
A psicóloga e orientadora educacional da educação infantil do Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília, Dayana Garcia, traz alguns conceitos sobre a CNV nas escolas.
‘’Por exemplo, existem algumas pessoas que carregam consigo uma armadura, são passivas e manipuladoras e que utilizam uma comunicação com linguagem agressiva e cheia de julgamentos que separam as pessoas. Priorizam apontar o que o outro fez e o que falou de errado, criando um mundo de suposições convenientes em que a necessidade real não é contemplada. É a busca constante por sempre ter razão, mesmo que seja preciso coagir ou culpar o outro, sem ouvi-lo e sem reconhecer sua responsabilidade com a situação’’, afirma a orientadora educacional.
O que as crianças podem ensinar sobre comunicação não - violenta?
Dayana exemplifica que as crianças são curiosas por natureza e que desenvolver a autonomia em sua infância aumenta o potencial criativo, consequentemente aprimora também a curiosidade. ‘’O interesse legítimo em descobrir o que o outro está sentindo gera uma conexão verdadeira entre os seres humanos’’, diz.
Ela destaca que a base das comunicações, por vezes, é culpar o outro ou culpar a si mesmo. Essa dinâmica acaba gerando ruídos na comunicação, por subentender mais do que se comunicar. De acordo com a psicóloga, a comunicação não-violenta entende que, por detrás de todo o sentimento, existe uma necessidade atendida ou não atendida. Na CNV, é essencial que uma pessoa escute a outra. “O meu objetivo quando estou mediando um conflito é simplesmente fazer com que uma criança leve em consideração a situação da outra. Ajudar a criança a acessar o impacto da ação dela no outro’’, completa.
Os 4 pilares da educação não-violenta
1. Observação: O julgamento social vem ligado à necessidade de querer influenciar as cenas, ‘’mas quando nos deparamos com uma situação que nos incomoda, o primeiro passo é observar o que está acontecendo de fato, sem julgamentos. Essa é a parte mais difícil. Mas, distanciar nosso olhar dos nossos juízos de valores é um processo libertador’’, afirma Dayana.
2. Sentimento: A psicologia destaca que depois da observação, o passo seguinte é identificar e nomear o sentimento em relação ao que se observa. ‘’Embora pareça simples, na prática, isso também é mais difícil do que imaginamos. Expor nossos sentimentos significa nos responsabilizar por eles e, ao mesmo tempo, mostrar nossa vulnerabilidade. Nem sempre estamos dispostos e abertos para isso’’, destaca.
3. Necessidade: Junto com os sentimentos, há uma tendência de expressar as necessidades, valores e desejos que faz alguém sentir de certa maneira. Assim, se torna fundamental entender o que realmente o estudante precisa e necessita emocionalmente.
4. Pedido: Para a orientadora educacional do Colégio Mackenzie, com os sentimentos e necessidades identificados e nomeados, é necessário que ações concretas sejam realizadas, de forma a atender as necessidades. Nesse ponto, a CNV ressalta que pedidos apresentados por meio de uma linguagem positiva têm mais chances de serem entendidos e correspondidos do que aqueles feitos por meio de um discurso negativo.
‘’Isso tem tudo a ver com a educação, pois a forma como o professor fala com o seu aluno diz muito sobre o docente e por muitas vezes a comunicação não é como o outro se sente, mas como eu me sinto. Buscar identificar de fato o que está acontecendo, o que é real aos meus olhos, como me sinto, que necessidade está por trás de como me sinto. Penso que é justamente aí que a abordagem da comunicação não-violenta se torna útil, nos ajudando a atuar de maneira mais assertiva e clara’’, afirma.