14.06.2016 Pesquisa e Inovação
O diretor do National Nanotechnology Laboratory Brasileira (LNNano), professor doutor Marcelo Knobel, esteve no Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno, Nanomateriais e Nanotecnologias – MackGraphe para uma palestra aberta ao público, sobre o tema “Nanomagnetism: Basic Aspects and Applications”. Antes do evento, o cientista falou da importância dos investimentos em laboratórios como o do Grafeno para o desenvolvimento das pesquisas no pais.
Qual é a aplicação dessas pesquisas de nanotecnologia no nosso cotidiano?
A palavra assusta um pouco, mas na verdade temos a nanotecnologia no dia a dia há muito tempo. O disco rígido de um computador, por exemplo, que existe desde os anos 2000, já é nanotecnologia, assim como outras que estão bem avançadas há algum tempo. Temos aplicações nas áreas de tintas, cosméticos, bioengenharia, saúde, na verdade, é quase infinito. O mais interessante é que não sabemos o que virá, é um mistério e só com o desenvolvimento de mais pesquisas e mais gente trabalhando haverá um acréscimo significativo. Quem sabe a cura do câncer, o desenvolvimento de novos diagnósticos na área de saúde, ou investimentos em tecidos autolimpantes, por exemplo. São inúmeras possíveis aplicações nessa área, tantas variedades que é impossível prever o que virá no futuro. Certamente, para que esse futuro chegue precisamos investir no presente e investir em recursos humanos, infraestrutura adequada para trabalho e, fundamentalmente, acreditar que tenhamos um papel importante no cenário internacional de pesquisa nessa área.
O Brasil acompanha a evolução do mundo nessa área?
Temos grupos de excelência no país na área cientifica, porém, o nível de investimento do governo federal e estadual ainda é muito baixo. É uma área que naturalmente demanda um grande capital, realmente é cara e não existe uma cultura entre os empresários brasileiros em investir em pesquisa e desenvolvimento. Para mudar isso temos um longo percurso, mas esperar que o governo faça tudo é um erro. Em geral, nos países desenvolvidos, é o setor produtivo que investe uma grande quantidade de recursos e isso, no âmbito das empresas, é fundamental. Ainda estamos engatinhando nesse quesito.
As parcerias são a saída?
Hoje em dia não existe mais isso de ser autossuficiente. A ciência é uma atividade globalizada, impossível pensar em ciência isolada. As parcerias internacionais, em todas as questões que envolvem qualquer tipo de pesquisa têm de haver colaboração internacional, troca de estudantes, de professores. Isso já acontece bastante, principalmente nessas áreas de ciências duras há um bom contato com o mundo.
Qual a vantagem e as perspectivas de estar junto com o MackGraphe?
Aqui a infraestrutura instalada é excelente, não há muitos lugares como esse no país. Naturalmente é importante que o centro desenvolva esse papel de centralidade do grafeno especificamente, que é o DNA natural. É fundamental para o desenvolvimento do MackGraphe fazer parcerias, é dessa forma que chegarão pesquisadores, estudantes e pessoas interessadas em aproveitar a infraestrutura, abrigando novos empregos, quem está começando e quer inovar. Esse é o caminho. É uma mudança de paradigma complexa de atingir.
O Mackenzie sai na frente, por ser uma instituição privada e com investimentos próprios?
Sem dúvida, isso é inovador e precisa ser dado um bom crédito. Não é qualquer instituição privada que investe, não é comum de se encontrar, porque demonstra comprometimento com a qualidade de ensino, do papel que essa instituição representa na sociedade.
As pesquisas possuem temas variados ou específicos?
Além de não se imaginar qualquer tipo de trabalho sem que haja interação com outros lugares, hoje em dia a pesquisa é multidisciplinar, abrange conhecimento de engenheiro, de químico, de físico, entre outros. Então você tem uma equipe multidisciplinar, com competências diversificadas para chegar a algo interessante. Cada um vai aportar com uma habilidade correta, um treinamento com certa capacidade para poder levar a um resultado interessante.
É importante destacar, também, que vale a pena as pessoas conhecerem um pouco mais sobre a perspectiva e as possibilidades que o desenvolvimento de novos materiais representa para o país e para o mundo. Talvez a própria comunidade do Mackenzie não entenda a importância de ter um centro como esse, vale a pena que as pessoas se interessem e conheçam um pouco mais porque é algo fascinante, ter a oportunidade de um aluno eventualmente começar uma iniciação cientifica, fazer um mestrado e um doutorado nessa área. A chance é única, vocês têm uma universidade com infraestrutura de ponta, vale a pena aproveitar.