06.08.2021 - EM Atualidades
Após um tempo de pandemia da covid-19 e as medidas rígidas de isolamento social, as competições esportivas voltaram a ser realizadas em boa parte do país, porém com uma ausência gigante no espetáculo esportivo: como forma de evitar aglomeração, os jogos só puderam acontecer sem a presença da torcida, parte fundamental de qualquer esporte.
A cena então se tornou comum, desde que as partidas foram autorizadas novamente: estádios vazios, arquibancadas enfeitadas com mosaicos e bandeiras imóveis, e um silêncio que em nada combinava com o clima da disputa. Algumas equipes até tentaram superar esse estranho vazio, colocando cantos da torcida nos alto-falantes das arenas.
“O esporte só é completo quando compartilhado com seu público”, afirma o professor Alexandre Amaro, da Coordenadoria de Esportes e Relações Comunitárias (CERC), da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), que estuda a relação entre Neurociência e o esporte.
De acordo com ele, a ausência de público nos estados, nas mais diversas competições esportivas, eliminou o fator de mando de campo, que tinha um efeito bem importante na performance dos atletas. O mackenzista explica que jogar em casa, junto de sua torcida, aumentava as chances de vitória de uma equipe ou a melhorava na performance individual de um atleta. No entanto, a torcida adversária também poderia ser um fator motivador para o time visitante. “Enquanto alguns atletas retraem-se frente às pressões da torcida adversária, outros podem utilizá-la como combustível para superar os adversários ou seus próprios limites”, indica Amaro.
Um exemplo do impacto da ausência do público nos estádios foi verificado sobre a performance de atletas negros. Pesquisas que compararam o rendimento de atletas pretos jogando com e sem torcida, verificaram que a ausência dos torcedores permitiu a esse grupo uma melhor performance, já que a possibilidade de ocorrência de casos de racismo caiu bastante. “O resultado demonstra que o crime de racismo tem impacto no rendimento do atleta e, consequentemente, no desempenho da equipe”, diz o professor.
Neste novo cenário, tornou-se necessário uma nova forma de conectar torcida e atletas e as redes sociais tiveram um papel fundamental nisso.
Público nas redes
Sem a possibilidade de frequentarem os estádios, os torcedores tiveram que se virar para acompanhar seu time do coração e dar um apoio para seus atletas preferidos. As redes sociais se tornaram, então, um meio da torcida se manifestar. “As adaptações acompanham o perfil dos usuários. Observa-se um público mais velho, menos familiar com a tecnologia e que, por isso, enfrenta mais dificuldade em acessar essas novas plataformas e, há um público jovem ávido por novas plataformas e ansioso por acompanhar sua equipe”, explica o professor Alexandre Amaro.
As torcidas virtuais invadiram estádios e arenas, com projeções em painéis de torcedores que acompanhavam a partida, via plataforma de transmissão virtual, como o Zoom ou Teams. Em Tóquio, os atletas vitoriosos saíam das provas e podiam conversar com a família que acompanhava a competição de casa. Foi uma forma de prestar apoio para os esportistas, que tinham a oportunidade de experimentar um pouco do carinho e afeto da torcida. “Acredito que estejamos vivendo o início de uma nova era na cobertura”, crava o docente mackenzista.
Interação
Se as redes sociais se tornaram uma forma do torcedor manifestar seu apoio pelos seus atletas mais queridos, muitos esportistas também souberam usar as redes a seu favor. Vários aproveitaram as mídias sociais para contar os bastidores das competições, mostrar o dia a dia e contar um pouco sobre a rotina de treinos. Os torcedores aprovaram e deram um grande engajamento para esses atletas.
“Por meio das mídias sociais dos atletas, suas postagens e da possibilidade de interação instantânea, atletas-fãs, temos tido a oportunidade de acompanhar o dia a dia dos atletas como nunca antes”, comenta o professor Amaro, que acredita que essa nova possibilidade influenciará profundamente as transmissões esportivas.
Todavia, apesar da vantagem de poder se conectar com seus torcedores-fãs, o uso excessivo das redes sociais pode provocar um excesso de cansaço e afetar a performance do atleta. “O uso extensivo de dispositivos eletrônicos tem sido associado com fadiga mental e decréscimo do desempenho esportivo. Os mecanismos ainda não são completamente compreendidos”, conclui o docente.