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Moeda única ou unidade de conta no Mercosul? É preciso esclarecer

Professor mackenzista comenta a recente polêmica da economia nacional 

30.01.202309h38 Comunicação - Marketing Mackenzie

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Após reunião entre os presidentes da Argentina e do Brasil, realizada na última semana, a possível criação de uma moeda única para transações comerciais se tornou um dos assuntos mais comentados nas mídias. Enquanto muitos temiam a substituição do Real por uma nova moeda, outros tentavam esclarecer que a ideia é criar uma forma de facilitar as transações entre os dois países.  

O professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Pedro Raffy Vartanian, explica que a ideia consiste na criação de uma unidade de conta. “Trata-se de um mecanismo que permite a realização de transações entre pessoas, ou países neste caso, em que as moedas são convertidas para a realização da troca, mas cada país continua com sua própria moeda”, diz, apontando ainda que o dólar se tornou a principal moeda veículo após o fim da 2ª Guerra Mundial. “As transações internacionais se baseiam, desde então, na conversão das várias moedas para o dólar americano”, conclui. 

Todavia, o professor explica que entre Brasil e Argentina já existe um método para simplificar as transações comerciais, chamado Sistema de Pagamento em Moeda Local (SML) e que consiste na troca direta de Reais por Pesos Argentinos em transações internacionais de bens (operações de importação e exportação entre os dois países e vice-versa). O sistema também é utilizado por outros países como Paraguai e Uruguai. 

A existência desse método torna, portanto, a criação de um novo sistema permeado de dúvidas. “Dado que o SML já existe, qual a necessidade de se criar uma moeda? Seria melhor ampliar e popularizar o SML, que dispensa o uso do dólar nas transações entre os países. Não ficou claro, também, de que forma a proposta, tanto de uma moeda única, quanto de uma unidade de conta, resolveria as dificuldades de importação da Argentina”, aponta.  

Pedro Vartanian explica que a ideia de criar uma moeda única entre os países que compõe o Mercosul parte da própria Argentina, que está com uma economia debilitada e enxerga nessa medida, uma “fórmula mágica” para resolver os problemas econômicos do país. Porém, tal ideia não encontra respaldo em diversos estudos, já que os países membros apresentam inúmeras simetrias e não resolveria os problemas estruturais econômicos argentinos. 

Por ter uma economia relativamente mais estável que a Argentina, do ponto vista macroeconômico, não interessa ao Brasil a criação de uma moeda única no continente, da forma como feito o Euro na União Europeia, que substituiu as moedas nacionais dos países membros.  Portanto, o Real não seria substituído pelo Peso Argentino. “Ao menos, é o que vem sendo dito pela equipe econômica, mesmo que de forma não muito clara, após as críticas em relação a uma possível moeda única”, indica o docente.  

O professor, portanto, espera maior clareza da equipe econômica do governo brasileiro para compreender melhor os propósitos da ideia. “A falta de clareza das equipes econômicas sobre o que se espera, efetivamente, amplia as incertezas que afetam expectativas futuras sobre ambas as economias”, conclui.