Simpósio do HUEM mostra que Cuidados Paliativos não são sinônimo de terminalidade

Evento reuniu especialistas e aprofundou discussões com objetivo de cuidar de pacientes e familiares

02.05.202416h09 Comunicação - Marketing Mackenzie

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O Hospital Universitário Evangélico Mackenzie (HUEM) realizou o II Simpósio de Cuidados Paliativos Adulto e Pediátrico, nos dias 26 e 27 de abril, com o tema “Estendendo o Manto”. O evento, financiado pelo MackPesquisa do Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM), foi voltado a estudantes e profissionais da área da saúde e contou com 120 participantes de diferentes regiões do Brasil.

Na abertura, o diretor geral do HUEM, dr. Tiago Tormen deu as boas-vindas aos presentes e destacou o serviço de cuidados paliativos da instituição, que é a maior prestadora do Sistema Único de Saúde (SUS) do estado do Paraná e recebe mais de seis mil pacientes todos os dias.

“Oferecemos em nosso Hospital todas as linhas de cuidado, atendendo desde os neonatos até os idosos. Entre toda essa gama de serviços, temos muito orgulho das equipes de cuidados paliativos adulto e pediátrico. Competente equipe multidisciplinar que coloca sempre o paciente no centro do cuidado, de uma forma humanizada como acreditamos que a medicina deva ser”, destacou Tormen.

Manto

Em seguida aconteceu a palestra magna do evento, conduzida pelo médico Daniel Neves Forte, de São Paulo, coordenador do curso de especialização em Cuidados Paliativos do IEP-Sírio Libanês e ex-presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos.

Sob o título "A importância de estender o manto", a apresentação abordou a história da medicina e descreveu quando surgiu o conceito de cuidados paliativos. Pallium em latim significa manto, vem do verbo palliare, que é abrigar, proteger, amparar.

Segundo Forte, muitos médicos só olham para as doenças e não para o paciente, sua biografia, sua individualidade. E que isso precisa mudar e felizmente vemos o crescimento das equipes de cuidados paliativos pelo Brasil.

“Câncer de pulmão é a mesma doença aqui em Curitiba, em São Paulo, na China ou na África do Sul, isso é científico e as condutas para o tratamento podem ser as mesmas. Mas isso não é suficiente, porque o portador da doença é uma pessoa que sofre e o sofrimento não é generalizável. Depende da biografia, dos valores. Isto é cuidado paliativo, uma competência para cuidar do sofrimento. E não é só bom senso, é competência”, salientou o palestrante.

Forte frisou em sua conclusão, que cuidados paliativos não são sinônimo de terminalidade e não estão relacionados com prognóstico. O serviço é uma abordagem para cuidado com o sofrimento não só do paciente, mas também dos familiares e cuidadores. Aplica-se a doenças graves, ameaçadoras da vida, independente se curáveis ou não.

Alta segura

No dia seguinte a primeira apresentação foi da assistente social do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Letícia Andrade, que é mestre, doutora e tem pós-doutorado em Serviço Social pela PUC-SP. Com o tema “Alta Hospitalar: os desafios do retorno para o lar” .

A palestra destacou pontos importantes que a equipe hospitalar deve considerar para dar alta a pacientes, além do diagnóstico e prognóstico, como a existência de cuidadores e rede de suporte social; dispositivos, materiais hospitalares e insumos disponíveis; e a adesão aos serviços de atenção domiciliar.

Questões jurídicas

A advogada Luciana Dadalto, doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da UFMG e mestre em Direito Privado pela PUC-Minas, trouxe a palestra “Desbravando os caminhos éticos para democratizar o acesso às diretivas antecipadas de vontade”.

A apresentação mostrou dilemas éticos enfrentados por profissionais da saúde, que precisam ter conhecimento da legislação para respeitar integralmente o compromisso com os pacientes.

Comunidade compassiva

Em sua palestra, o enfermeiro Alexandre Silva, doutor em cuidados paliativos pela UFMG com sanduíche na Universidade Católica Portuguesa (Lisboa), compartilhou sua experiência na formação de comunidades compassivas nas favelas da Rocinha e do Vidigal, no Rio de Janeiro, como estratégia de ampliação do acesso aos cuidados paliativos em áreas que enfrentam situação de precariedade.

Consiste na formação de um grupo para executar ações motivadas pela compaixão. "O treinamento e capacitação de voluntários locais é fundamental no processo, pois serão as pessoas que sempre estarão próximas de quem necessita dos cuidados", explica Alexandre.

Além dos voluntários locais, que são moradores com vocação para ajudar, as comunidades compassivas contam com voluntários profissionais, parceria com a rede pública de saúde, voluntários apoiadores e a coordenação do projeto.

Comunicação honesta

Formada no curso de Educação e Prática de Cuidados Paliativos pela Harvard Medical School, a oncologista pediátrica Poliana Molinari palestrou sobre a importância em haver equilíbrio entre prognóstico e a expectativa familiar.

"Profissionais da saúde têm uma grande preocupação em comunicar informações difíceis aos familiares. Importante ter em mente que uma comunicação honesta não interfere na esperança da família. Precisamos ter uma escuta ativa e desenvolver uma relação de confiança para atingir o equilíbrio ideal", salientou.

Estética é saúde

Transformação interior e exterior através da estética paliativa foi o tema da apresentação da esteticista Vanessa Menezes, pós-graduada em cuidados paliativos pelo Instituto de Ensino Albert Einstein. "Estética não é somente embelezamento. Estética é saúde. Em especial nos cuidados paliativos", destacou.

Para pacientes que sofrem de dores que não são físicas, como a dor psicológica e espiritual, recursos como a cosmetologia, aromaterapia, drenagem linfática, entre outros, podem oferecer benefícios que tragam satisfação e bem-estar. A melhora na autoestima é uma importante aliada no tratamento de doenças.

Manejo da dor

O médico Jonathan Vinicius, coordenador do serviço de cuidados paliativos adulto do HUEM, abordou os avanços no manejo da dor neuropática. Ele apresentou dados de que 40% da população brasileira adulta sente dores crônicas e 80% procura o SUS, causando uma sobrecarga no sistema.

“Sentir dor crônica degrada a qualidade de vida, afeta sono, apetite, vida social, reduz o bem-estar psicológico e espiritual. Por isso é fundamental agirmos para aliviar e controlar a dor nos pacientes”, ressaltou.

De acordo com ele, a equipe multiprofissional de cuidados paliativos tem papel crucial neste desafio. A enfermagem, cuidando do posicionamento correto no leito e horário dos medicamentos; a fisioterapia com massagens e exercícios, a psicologia ao legitimar o sofrimento, a nutrição ao ofertar alimentação do gosto do paciente para tirar o foco da dor, entre outras ações dos demais profissionais.

Perinatologia e Pediatria

Por fim, duas profissionais do HUEM encerraram o evento, com a palestra Reconstruindo histórias: os Cuidados Paliativos da Perinatologia à Pediatria. A coordenadora da equipe de Cuidados Paliativos Pediátrico, Andreia Franco, e a médica Larrissa Madruga, pediatra e neonatologista do HUEM.