O aniversário de 70 anos da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), comemorado no dia 16 de abril, tem um novo significado neste ano. Desde março de 2020, o mundo enfrentou a pandemia do coronavírus, responsável por milhões de mortes e paralisação e/ou transformações em diversas atividades, como a da Educação. O Mackenzie suspendeu suas atividades presenciais e migrou totalmente para o on-line, encarou o novo modelo e teve de se reinventar.
O reitor da UPM, Marco Tullio de Castro Vasconcelos, que completa dois anos à frente da Reitoria em 2022, tinha acabado de assumir o cargo quando começou a disseminação do vírus aqui no país. Além da pandemia, o posto era algo novo para ele, apesar de adaptado à cultura local. “Eu já estava aqui há quatro anos como vice-reitor, mas o exercício do cargo deve se dar quando você assume, e eu sei que o amadurecimento, conhecimento dos processos e afins, se dá a partir do momento que se toma posse”, conta.
O professor entrou com expectativas em relação ao seu novo trabalho. Uma delas era ter uma melhoria de governança administrativa e acadêmica; a outra - imprescindível para o momento - era a necessidade de um projeto de transformação digital. “Nesse mundo que estamos vivendo, é muito natural o aluno que chega aqui já ser um nativo digital, então havia essa leitura quanto à necessidade de entender qual seria esse projeto. Era claro que ele era necessário, mas qual seria sua dimensão?”, lembra.
O corpo docente da Universidade conta com mais de mil professores, alguns são mais ativos digitalmente, outros precisavam aprender a manusear melhor tais ferramentas, seja pela idade, seja pela não necessidade de utilização até então. No entanto, a pandemia chegou e apresentou um teste para a Instituição como um todo. “Eu não esperava enfrentar essa crise”, desabafa o reitor, que aproveitou para elogiar toda a equipe da Universidade, seus diretores de unidades acadêmicas, pró-reitores, coordenadores e professores, além de agradecer ao Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) pelo apoio em todos os momentos.
Medo do desconhecido
No início de 2020, o vírus ainda era desconhecido e os especialistas faziam pesquisas para entender de que forma ele afetava a população e quais seriam os cuidados necessários. Enquanto isso, a sociedade precisou se isolar para não disseminar ainda mais a doença, por isso, diversos setores precisaram se adaptar, como o educacional, que passou toda a sua atividade presencial para o ambiente on-line. E é natural que o desconhecido e mudanças possam gerar desconforto e preocupação.
“Os professores tiveram medo. Eu posso dizer que passei algumas noites sem dormir também, sem saber se uma decisão tomada ou que estava por ser tomada era a melhor. Apesar de reuniões, de ouvir, de coletar informações de forma exaustiva, sempre fica um questionamento: será que esse é o melhor caminho?”, diz o reitor. De acordo com Marco Tullio, em uma resposta rápida à situação que se apresentava, os professores foram treinados para estarem prontos para essa nova realidade, e algumas surpresas colaboraram para isso.
“Nós descobrimos valores, pessoas que se mostraram resilientes e outras que já tinham uma carga de tecnologia e aprendizado digital que colocaram à disposição. Lembro que, nesse início da pandemia, nós já tínhamos os craques, o 'Pelé e o Garrincha' do Moodle e da aula virtual, e eles foram essenciais para fazer com que outros evoluíssem nesses quesitos, compartilhando conhecimento”, comemora.
O reitor aproveitou para recordar um momento valoroso, quando foram criados grupos de apoio para os docentes que ainda não tinham tanta familiaridade com o mundo tecnológico. Professores mais jovens ajudaram professores mais idosos também. "É uma união de força e experiência. A capacidade de superação, de dizer assim ‘nós temos condição de superar os desafios impostos pelo ambiente, antevistos ou não’”, completa.
Os alunos também tiveram seu papel nessa transição. “É preciso enaltecer a compreensão dos nossos estudantes. Eles também ajudaram professores a superar as dificuldades, tiveram paciência e compreensão com a situação vivida”, conta o reitor. Outro aspecto marcante para ele foi conseguir manter o sistema de avaliação institucional da UPM. “Fizemos avaliações com alunos em curso, formandos e professores, sobre diversos temas, como tecnologia, aprendizado, meios de mediação dessa aprendizagem, etc.”, explica.
Segundo ele, a Comissão Própria de Avaliação (CPA) foi um instrumento muito útil para a gestão saber como as coisas estavam indo. “Os dados que vêm da Pró-Reitoria de Controle Acadêmico (PRCA) são um termômetro, afinal, podemos entender os trancamentos e cancelamentos. Além dos dados da Ouvidoria, que também são muito úteis para ter noção do nível de satisfação”, aponta.
Mesmo em meio à distância física e à impossibilidade de estarmos juntos, a Universidade não parou. “As pessoas trabalharam, houve proposições, aprovações de cursos novos de graduação, lato sensu, lançamentos de novos cursos de mestrado e doutorado, então a vida universitária continuou”, afirma Marco Tullio.
A felicidade de estar de volta ao campus
Em março deste ano, dois anos após a paralisação das aulas presenciais, a Universidade, recebe seus alunos de volta no modelo presencial. Para Marco Tullio, a principal lacuna de aprendizagem nesse período pandêmico foi a falta de relações humanas. “Por exemplo, um lado que eu lamento é o não desenvolvimento pleno das questões culturais, da música, corais, coisa que é muito difícil de se fazer on-line. Nós tivemos corais cantando de forma virtual, mas não é da mesma forma que estar presente. A atividade dos alunos com o esporte também foi afetada”, diz o reitor, que defende a importância desses quesitos na formação plena dos estudantes.
A notícia da volta dos alunos ao ambiente físico acadêmico marca uma luta constante desses dois anos. “Esse momento é esplendoroso. Tenho escutado as pessoas comentarem: ‘como o campus está bonito’. Professores estão postando em suas redes sociais. Eles estão muito felizes, especialmente os alunos que iniciaram seus cursos ao longo da pandemia”, pontua.
O reitor conta que nesse período houve um aprimoramento de gestão e uma melhora no plano estratégico. A equipe estabeleceu um mapa estratégico para acompanhar os grandes objetivos e a Universidade aprovou um caderno de indicadores para nortear os planos da Reitoria e de todas as unidades acadêmicas. Metas de natureza acadêmica a serem alcançadas, como a melhoria qualitativa e quantitativa das pesquisas, dos projetos de extensão e, sobretudo, do processo de ensino-aprendizagem, resultando em melhorias inclusive nas avaliações do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). “Esses indicadores são importantes para o sucesso de uma Instituição”, aponta.
Novos alunos e um novo ano
Agora, com mais pessoas, inclusive os novos estudantes, voltando a circular pelo Mackenzie, fica clara a mudança depois de tantos desafios impostos pela covid-19. “Eu estava no MackGraphe após um evento da Engenharia e chegou um garoto que perguntou: ‘o senhor pode me ajudar?’. Ele perguntou onde ficava o prédio do curso de Administração, e eu o guiei. Era a primeira vez que ele entrava no campus e estava impressionado”, avalia.
“É um campus belíssimo. Eu falo que ocorre o mesmo em relação à minha cidade, Recife, que é linda. O centro, as pontes, curvas do rio, os prédios históricos, mas quem é da cidade, que passa todo dia ali, nem sempre valoriza muito, quem é de fora nota. É a mesma coisa aqui em Higienópolis, o campus é extraordinário, então, quando o aluno novo vem, há esse contato diferente de quando vê em apenas uma fotografia”, explica.
Para o reitor, poder viver a Universidade e aproveitar todos os espaços, rir com os colegas, conhecer os professores, faz toda a diferença. Por fim, ele defende a ideia de que a Universidade será sempre mais importante e que é sempre preciso fazer o melhor para alcançar todos os objetivos. “O reitor é passageiro, ele chega e vai, mas a Instituição não, nós temos que preservá-la, apostar nela e melhorar todos os aspectos possíveis”, finaliza.