Em encontro ocorrido na sede do Comando Militar do Sudeste, em São Paulo, na quarta-feira, 27 de março, o presidente da República, Jair Bolsonaro, esteve reunido com o ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia); o governador de São Paulo, João Doria; e o prefeito da capital paulista, Bruno Covas, para discutir investimentos e aplicações da tecnologia do grafeno. Autoridades e pesquisadores do Mackenzie participaram da reunião, apresentando projetos e avanços do Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno, Nanomateriais e Nanotecnologias (MackGraphe) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), especializado no material.
Para Bolsonaro, a questão do grafeno (nanomaterial condutor, resistente e leve) não é uma janela de oportunidade, mas “uma porta enorme”. Há alguns anos, o atual presidente da República esteve no Mackenzie, campus Higienópolis, para conhecer as instalações do MackGraphe e as propriedades do grafeno. “Falei com o Pontes, nós temos de encontrar uma maneira do governo colaborar para pesquisa do grafeno, quem sabe nosso primeiro Prêmio Nobel não venha daí um dia? Eu tenho esperanças que sim", afirmou Bolsonaro.
De acordo com ele, é preciso fazer de tudo para os pesquisadores ficarem no Brasil (país com uma das maiores jazidas de grafite, do qual se extrai o grafeno) e terem meios para desenvolver suas pesquisas, “tirando essas descobertas do papel”, completou.
Para o ministro Pontes, o Mackenzie deve integrar o que chamou de rede de centros de tecnologia aplicada. “Esses centros integram todo nosso sistema de ciência e tecnologia. Por exemplo, não temos apenas nossas unidades de pesquisa, laboratórios, mas também universidades e centros de pesquisas em outros ministérios. A ideia é que seja um trabalho em rede, com um networking com todos esses sistemas que temos”, disse.
O ministro exemplifica o seu conceito a partir de uma pequena empresa com uma boa ideia, como uma startup. “Ela pode desenvolver o conceito, pode ser até que tenha um protótipo, mas ela não consegue escalar o produto por si mesma, porém conseguiria através desse networking, com oferta de conhecimento, ajuda financeira. Logo, esses centros de tecnologia aplicada têm, principalmente, a função de transformar conhecimento em produtos e na criação de startups. Tudo isso faz parte de uma mudança no Brasil para usar a ciência e tecnologia e alavancar o desenvolvimento econômico e social”, completa.
José Inácio Ramos, presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM), concorda com o ministro, e pontua que o desenvolvimento mais robusto na área do grafeno, e mesmo o barateamento da tecnologia com sua expansão, tendem a se elevar conforme os produtos vierem à tona. “A sociedade conhecerá melhor, a comunidade científica saberá, e os órgãos de fomento também se atentarão. A partir daí, com mais investimento, financiamento, linhas de crédito, etc., teremos projetos maiores”, enfatizou.
Para que isso ocorra, é imprescindível o apoio do poder público nas esferas do governo municipal, estadual e federal, além dos órgãos de fomento, com recursos para pesquisa. “Vemos que os órgãos de incentivo estão ávidos por bons projetos. E sabemos que na esfera do grafeno e nanotecnologia temos condições de entregar algo que seja útil para a comunidade”, destacou Ramos.
Benedito Guimarães Aguiar Neto, reitor da UPM, também acredita que para que se possa desenvolver pesquisa aplicada com foco na inovação, três atores são fundamentais: a academia, a indústria e o governo. “E estamos muito felizes, pois há um desejo do governo federal de investir em pesquisa no grafeno por considerar essa uma área estratégica para desenvolvimento no país. Nos sentimos honrados de sermos protagonistas neste contexto”, disse.
Como a academia já está investindo e preparada para tais pesquisas e o governo já demonstra interesse estratégico na área, Aguiar Neto esclarece que é momento do terceiro ator, a indústria, elevar sua participação. “De que forma? Com o governo intermediando, criando programas de incentivo à participação da indústria em parceria com a universidade. São programas indutores da inovação através de seus órgãos, CNPQ, Finep e Capes. Creio que dessa maneira o aumento da inserção da indústria nesse contexto possa ser feita com sucesso”, esclareceu o reitor.
Atuação conjunta
O MackGraphe é uma realização conjunta da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP) e da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Como destacou Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, os pesquisadores ali têm estado ativos com o Governo Federal, com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Ministério da Ciência e Tecnologia e também com empresas. “Eles estão numa fase muito boa de realizar aquele potencial, aquela sementinha que enxergávamos em 2011”.
Segundo Cruz, a FAPESP colabora bastante com o desenvolvimento do trabalho no MackGraphe, criando pontes entre o centro de pesquisa e outras entidades e empresas para pesquisas colaborativas. No entanto, pelo grafeno e os nanomateriais pertencerem a uma categoria relativamente nova de tecnologia, para chegar à velocidade de cruzeiro, o diretor calcula que ainda existam cerca de dez anos pela frente. “Aqui no Brasil precisamos vencer muitos obstáculos, e acumular o esforço. No MackGraphe, muitas dificuldades já foram superadas. O principal desafio hoje é recrutar e preparar mais professores e pesquisadores com experiência internacional e estudantes de pós-graduação excelentes na tecnologia”, finaliza ele.
Evolução
José Augusto Pereira Brito, diretor do MackGraphe, afirma que para a expansão da atuação do centro, é necessário que a indústria participe mais. Para ele, empresas de qualquer ramo devem se interessar. “Qualquer tipo de indústria em áreas da medicina, saúde, alimentação, agronegócio, automotivo, aeroespacial, têxtil, energia, materiais compostos, plásticos, de esporte, energia solar, tratamento de água. Essas parcerias surgem a partir daquilo que é provocado para que essas indústrias insiram na matriz do seu planejamento estratégico”.
Atualmente, a preocupação de Brito é que a indústria em geral adquira essa percepção de investimento no Brasil, ainda que sejam multinacionais. “Para que isso gere riquezas, retorno para a nossa população e, consequentemente, muita coisa que possa ser exportada em benefício do planeta como um todo”, reflete.
Sobre o momento vivido pelo MackGraphe e a tecnologia do grafeno no país, Brito afirma que estamos saindo de uma fase básica de pesquisa acadêmica e aplicada, nas startups, e caminhando agora para o despertar da indústria em geral para que ela faça um trabalho de aplicação em seus produtos. “Daqui para frente nós vamos ouvir sobre grafeno quase que diariamente, de novidades que começam a chegar”, conclui.
Maravilhas secretas
O chanceler do Mackenzie, Davi Charles Gomes, também participou do encontro junto ao presidente da República e declarou que o valor da pesquisa acadêmica e aplicada são enormes, pois ajudam a desenvolver coisas que contribuem para melhoria da vida humana, mas destaca também uma perspectiva diferenciada. “Do ponto de vista confessional, a pesquisa nos permite tentar descobrir os segredos, o que no mundo dos games chamam de ‘easter eggs’, do universo, sabendo que Deus deixou coisas a serem descobertas que vão nos maravilhar”.
Gomes destaca que a busca do conhecimento e a pesquisa científica são parte disso, bem como os efeitos de aplicação de tais descobertas. “Mas a pesquisa em si tem um valor incrível no sentido de que, ao descobrir o mundo que Deus fez, seremos mais gratos a Ele”, complementou.
Agradecimento
Sobre a presença da comitiva mackenzista, Jair Bolsonaro disse que demonstra a preocupação, o interesse em representar a ciência e tecnologia no nosso país. “Um país que não tem ciência e tecnologia está condenado a ser escravo de quem as tem", emendou o presidente.
“Parabéns pela iniciativa privada do Mackenzie em se interessar desta forma, mesmo sabendo que o possível lucro nessa área poderá ocorrer anos à frente. Confesso que fiquei encantado com o que vi lá", finalizou ele a respeito da visita que havia realizado ao Mackenzie anos antes.
Ainda estiveram presentes no encontro o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional; a primeira-dama, Michelle Bolsonaro; o presidente da Igreja Presbiteriana do Brasil, Roberto Brasileiro; conselheiros do IPM; e outras autoridades e pesquisadores.