Meu nome é Helena, sou estudante de Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e, por meio do Fluxo Contínuo de Mobilidade Acadêmica, tive a oportunidade de vir para Lyon - França, para complementar meus estudos na Université Lumière Lyon 2.
Quando parti do Brasil já havia completado 9 semestres da graduação, restando-me apenas 01, que irei concluir após meu período de intercâmbio.
A experiência de mobilidade superou todas as minhas expectativas, que já eram altas. Minha estadia na França tem sido tão empolgante e encantadora que eu não me lembro dos - inesgotáveis - percalços por quais eu passei para ser aprovada no processo seletivo. A tarefa de redigir esse relato colocou-me numa posição de revisitar o período pré-aprovação, em que tudo era incerto, e me sentir ainda mais grata a Deus, à minha família, à COI, à professora Dra. Simone Fuso e, por fim, à França, que me acolheu como um dos seus.
Levei 4 tentativas para ser aprovada para monitoria, corri contra o tempo para realizar o exame de proficiência às vésperas do Covid-19 - que na época aparentava ser algo passageiro - tendo participado da última turma a realizar a prova, sem muito preparo para tal, antes do lockdown; tive dúvidas por 02 anos se o melhor a ser feito seria trancar a matrícula da faculdade para não perder o prazo de elegibilidade válida para o intercâmbio; frustrei-me quando por alguns minutos, não vi um convite para assumir um projeto de iniciação científica, que fora encaminhado para outra pessoa que respondeu mais rápido; passei incontáveis horas pesquisando tudo que eu poderia sobre as universidades de destino, os países, a cultura local, etc.
Planejei por 4 anos e meio a minha suposta partida para a Inglaterra quando a mais feliz infelicidade ocorreu. Por conta de um erro de impressão de um dos meus documentos, tive minha inscrição indeferida do processo seletivo, o último que eu poderia participar por conta da altura do curso em que estava, ainda por cima tendo alcançado a 3ª maior pontuação entre os inscritos. Nesse momento, uma combinação de emoções tomou conta de mim.
Com o incentivo da professora Simone Fuso e dos meus pais, resolvi me inscrever para vagas remanescentes e, em um período de pouquíssimos dias, precisei refazer minha escolha de universidade e país de destino, refazendo todo o processo de 04 anos em menos de uma semana. Eu costumo dizer que eu não escolhi a França, a França me escolheu. E eu não mudaria nada.
Assim, sem falar sequer um “bonjour”, ainda um pouco rancorosa por ter a Inglaterra fora dos meus planos e - confesso - bastante irritada com o processo seletivo da COI, me vi obrigada a exercitar as habilidades socioemocionais - notadamente vontade de se envolver, flexibilidade cognitiva, controle emocional e tolerância à incerteza - tão caras ao meu projeto de conclusão de curso, idealizado pela minha colega Beatriz Paliares.
Se você está lendo esse relato, você é ou 1) um estudante interessado em ingressar na mobilidade acadêmica; ou 2) Aline, Laura, Simone e equipe da COI. Ao segundo caso, só tenho a agradecer e elogiar vocês todos pelo trabalho de extrema qualidade que realizam. Se você se encaixa no primeiro caso, aqui vai minha visão sobre Lyon, a França e a Universidade Lumière Lyon.
Lyon é encantadora. Uma cidade inesgotável e repleta de atrações para todos os gostos. Tem uma efervescência cultural semelhante à de Paris, mas com menos turistas, poluição e violência. Aqui você encontrará franceses dispostos a te conhecer (claro, se você vier com a mentalidade de que os países são a casa das pessoas, em que você não entra desrespeitando a cultura e tentando impor a sua própria), experimentará o melhor da gastronomia francesa, estará cercado de atrações culturais (muitas vezes gratuitas), arquitetura belíssima, além de estar geograficamente próximo dos Alpes, da Itália, Suíça e Alemanha, sendo estes destinos possíveis para breve viagens. Tudo isso sendo possível via ônibus ou trem, opções bem viáveis financeiramente (é possível pagar 4,99 euros em uma passagem de ônibus para Grenoble, por exemplo, e participar dos esportes de inverno).
A noção de que os franceses são arrogantes, pelo menos a partir da minha perspectiva, é algo mal contado. Adotar uma postura de interesse pela cultura e realmente ter vontade de se envolver te trará bons frutos. Como já mencionado, cheguei sem o menor domínio do idioma francês, e me comuniquei por várias semanas apenas em inglês, sem repercussões, julgamentos ou prejuízos nas minhas interações sociais. Começar a interação com “bonjour, excusez-moi” já estabelecerá uma atmosfera polida e cortez que evitará quaisquer desconfortos para ambas as partes. Se mesmo assim você estiver preocupado, memorizar como perguntar em francês se você pode fazer uma pergunta em inglês te renderá ainda mais simpatia pelo interlocutor francês e a chance de atritos será quase igualada a zero.
A Université Lumière Lyon 2 possui 2 campi. Berges du Rhône tem uma estética mais antiga e suntuosa, enquanto o Portes des Alpes é mais moderno e tecnológico. A universidade possui uma infinidade de aulas em que você pode se inscrever, e se você me permite uma sugestão, eu definitivamente não iria com a equivalência de créditos como principal meta. Minha recomendação é justamente aproveitar a oportunidade para participar de cursos que você não encontraria no Mackenzie/Brasil.
A universidade também permite aos alunos se inscreverem em, no máximo, 02 esportes de forma gratuita. E quando digo que há de tudo, realmente há de tudo. Desde hipismo, passando por mergulho, até salsa, capoeira, esgrima, caminhada nórdica, entre muitos outros. Novamente, eu recomendaria modalidades bem diferentes do seu habitual.
A quantidade de anos previstos para graduação e mestrado é um pouco diferente de como funciona no Brasil. Pelo menos na França, um estudante de Psicologia, por exemplo, completa a graduação em 03 anos e o mestrado em outros 02. No Brasil, os futuros psicólogos devem cumprir com 05 anos de graduação e mais 02 de mestrado. Isso significa que nossos estudantes, em geral, estão melhores preparados e iniciados na Psicologia, justamente por conta da estrutura do curso no Brasil.
Isso também significa que algumas das matérias, mesmo as do mestrado deles, podem ser um pouco menos complicadas para os brasileiros. É claro que sempre há menção de autores e obras um pouco diferentes do mencionado no Brasil, então vale a pena de qualquer jeito. Também por isso recomendo a escolha de matérias que não possuem equivalência no Mackenzie. No meu caso, entender a língua francesa falada já era um desafio por si só, então ter tido bastante preparo prévio no campo da psicologia me ajudou a compreender melhor o que é passado nas aulas.
A universidade promove aulas de francês gratuitas e pagas para estudantes estrangeiros. Comentarei sobre as aulas gratuitas, que são as que eu escolhi. Eles dão nome de FEMI, e eu altamente recomendo que você se inscreva, mesmo se seu nível de francês já for elevado. As aulas são ótimas, os professores são muito bem preparados para lidar com ensino de francês como língua estrangeira, muitas vezes falam outros idiomas, tendo uma ótima compreensão do funcionamento estrutural de outras línguas, com isso conseguindo acessar com maior facilidade quais são os obstáculos linguísticos presentes na turma.
Comparecendo às aulas do FEMI para iniciantes, estudando por conta e me esforçando para afastar cada vez mais o inglês do meu dia a dia, em 02 meses já consegui passar a usar o francês em todas as minhas interações na rua, na faculdade, em cafeterias, restaurantes, supermercados e com amigos também. Digo isso para que você não descarte países por conta do idioma.
Ainda sobre a universidade, aos estudantes estrangeiros é dada a oportunidade de escolher entre as opções NOTÉE / NON NOTÉE para cada matéria. No meu caso, como interrompi a psicologia numa altura em que só me restavam estágios obrigatórios e tcc, notas não me acrescentariam em nada, então optei por não fazer prova de nenhuma matéria, com exceção do FEMI. Isso também retirou a pressão de precisar passar em provas e me permitiu que eu frequentasse as aulas realmente por interesse pelos tópicos em questão e interesse em treinar minha escuta em francês.
Sobre acomodação, não consigo recomendar as residências do CROUS o suficiente! São definitivamente a melhor e mais barata opção. O CROUS é uma organização governamental que administra residências estudantis, eventos culturais, cafeterias e restaurantes para estudantes. Estando no CROUS, você terá acesso a diversas atividades gratuitas. E, de novo, quando digo diversas, são realmente diversas. Você encontrará desde noite do crepe, visita guiada a museu, festa de halloween, passando por ateliê de crochê, patinação no gelo, como montar sua composteira, até karaokê, boxing, ateliê de cerâmica e noite de jogos, entre muitas outras.
A mobilidade requer esforços acadêmicos, emocionais, financeiros e psicológicos, mas se configurou como uma das experiências mais transformadoras em minha formação. Dessa forma, me coloco à disposição via email para todos os alunos interessados na mobilidade que possuírem dúvidas. (hvgardiman@gmail.com)
Bon courage!