2021 - Maria Eduarda C. Mestriner - Direito Campinas

Mobilidade Internacional na Itália


Primeiramente, faço desse depoimento uma carta aberta a qualquer um que se interesse pela minha experiência em Firenze (Itália), mas principalmente aos alunos do Mackenzie que desejem realizar a mobilidade acadêmica. Meu objetivo é tentar apresentar minhas descobertas e as coisas que eu gostaria que tivessem me dito quando decidi realizar o intercâmbio.

Antes de mais nada, me permita me apresentar: me chamo Maria Eduarda, tenho 22 anos e estudo direito, realizei a minha mobilidade acadêmica na Università degli studi di Firenze, na Itália. Neste depoimento tentarei abordar alguns pontos gerais e outros mais específicos que considero importantes e que tornariam minha experiência na Itália um pouco mais simples.

Eu cheguei em Firenze, em meados de Fevereiro de 2022, ainda em uma época complicada em relação à pandemia, no entanto não tive grandes problemas em relação a isso, pois além de já ter tomado as três doses de vacinas aceitas no país, fui para a Itália com o passaporte Europeu (Português), o que facilitou a minha vida em diversos aspectos, seja para entrar no país, documentação, ter descontos em programas culturais, transitar na Europa, entre outros.

Tomei a decisão de chegar no país antecipadamente para melhor adaptação e planejamento antes do início das aulas. Essa decisão foi extremamente assertiva, em ambas as áreas, já que muitos documentos dependiam de terceiros, e na Itália resolver esses pequenos problemas pode ser bem complicado e demorado, e já te explico o porquê.

A minha experiência individual começou com a percepção de que a Itália é um pouco desorganizada no sentido de processos burocráticos, seja na Universidade ou qualquer serviço público – essa noção logo foi confirmada ao conversar com alguns outros estrangeiros com quem conversei sobre. Quando cheguei, me deparei com uma certa dificuldade e lentidão para resolver essas questões, seja para fazer o green card (comprovante da vacina), codice fiscale, e até mesmo a Universidade exigiu alguns esforços, para conseguir meu código de matrícula, acesso ao moodle, informações sobre as aulas, mudar as matérias escolhidas etc.

Precisei mandar inúmeros e-mails, fazer diversas ligações e, quando não obtinha êxito nos últimos dois, tentava resolver pessoalmente, insistindo para resolver qualquer pequeno contratempo.  No início foi bem estressante, mas com o tempo, você vai se adaptando ao “jeitinho italiano” e começa a se planejar com antecedência e (pelo menos tentar) se preocupar menos. A meu ver, esse foi um dos maiores problemas no país.

Firenze é uma cidade turística, consequentemente não é a mais econômica para viver, no entanto, é totalmente possível achar preços justos, principalmente ao se afastar do centro da cidade. Morei na área de Novoli, onde fica o campus de direito, economia e ciência política da Università degli studi di Firenze. É uma região boa, não tão longe do centro, mas afastada o suficiente para apreciar a real cultura italiana e fugir dos preços absurdos da área turística.

Em Novoli morei na Residência estudantil Evergreen Residence (Mario Luzi): de longe uma das melhores decisões que tomei. Além do diretor da residência, Stefano, ser extremamente cuidadoso com todos os detalhes, o local é seguro, limpo, organizado e bem localizado (perto de mercados, parques, farmácias, comércio, 3 minutos do ponto de trem, em frente ao ponto de ônibus e 15 minutos de caminhada até a faculdade) e em Firenze estavam havendo muito casos de golpes de falsos de apartamentos, onde os estudantes pagavam uma parcela adiantada do aluguel e ao chegar na cidade o apartamento não existia, não estava disponível ou era de outro proprietário. Por esse motivo preferi seguir as indicações de residências oferecidas pela Universidade, mesmo que custasse um pouco a mais.

Me considero uma pessoa extrovertida e comunicativa, no geral não tenho muitos problemas para fazer amizades, mas os italianos podem ser um pouco “fechados”, portanto, a minha dica de ouro, é entrar em grupo de Erasmus, principalmente no início da mobilidade.

Erasmus é um programa onde europeus saem dos seus países de origem para estudar em outros, a maioria das cidades tem grupos de Erasmus, mais de um inclusive. E essa é uma ótima forma de fazer amizade e conhecer pessoas de forma rápida, pois todos ali estão fora de seu país querendo conhecer pessoas novas. Os grupos de Erasmus também podem te dar várias dicas legais, além de organizarem eventos e viagens. Ressalto que você não precisa ser europeu, só estudante é suficiente.

Abordando um pouco da parte acadêmica, na Universidade, minha escolha de matérias foi baseada nos seguintes aspectos: gostaria de estudar algo que não eu não fosse aprender na faculdade no Brasil, que fosse relacionado ao direito Europeu e Italiano, entender mais como funciona a União Europeia; e outra matéria que eu já tivesse estudado no Mackenzie, mas que fosse de grande interesse meu, para que ao final do curso eu conseguisse fazer um comparativo entre o direito brasileiro e italiano nesse tema.

As aulas podem seguir um método diferente, onde o aluno precisa estudar a matéria e o professor traz um tema para ser discutido em aula.

Diferentemente do Brasil, na Itália a atribuição de notas é feita de uma forma um pouco singular, variando de matéria para matéria, mas que segue alguns padrões. Primeiramente, não temos várias provas durante o semestre, apenas um teste ao final do semestre, que pode ser uma prova ou uma tese, e durante o semestre os professores podem passar algumas atividades.

Os alunos são avaliados numa escala de 1 a 30, sendo 18 a nota mínima para passar nas provas, portanto você tem que ter um êxito de, pelo menos, 18/30. A prova final pode ser refeita algumas vezes, caso você tenha falhado ou não esteja satisfeito com sua nota.

Em relação à cultura, o Italiano é extremamente barrista, consequentemente cada cidade ou região acredita em sua “superioridade”, seja na arquitetura, gastronomia, cultura etc. Esse traço deles é bem divertido e fácil de se reconhecer e se adaptar.

Mas se eu tiver que destacar algo como a orientação mais importante, com certeza seria a observação e respeito. Ao se mudar para um novo lugar, acredito ser essencial observar como as pessoas falam, agem, pensam, se vestem, se portam, para que possamos nos inserir melhor na cultura, pois estamos no país deles. Não estou dizendo que você não pode ensinar e mostrar às pessoas sobre sua cultura, você deve, essa é uma das melhores partes da mobilidade, mas faça isso com respeito e atenção, de forma a não “impor” seus modos acima da cultura do país. Dessa forma, garanto que você não terá grande problemas e se tiver, conseguirá resolvê-los de uma forma mais fácil e eficiente.

A mobilidade é uma experiencia única, então minha dica é aproveite ao máximo as oportunidades, tanto acadêmica quanto as extracurriculares, pois essas também te ensinarão muito e te farão amadurecer e crescer, e com certeza vão impactar na sua vida profissional.

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