07.05.2021 - EM Cotidiano
Há quem diga que a maternidade foi inventada pelo filósofo iluminista genebrino Jean Jacques Rousseau, em 1972, que no livro "Emílio, ou Da Educação" teria repudiado a instituição dominante das amas-de-leite, encorajando as mulheres a assumirem, em definitivo, a maternidade.
Desse movimento, a ideia do amor materno teria sido introduzida, pois o amor tornou-se "a razão principal para o casamento e para o filho ser considerado o fruto ou um dom desse amor".
O fato é que o pensamento bíblico antecede o de Rousseau no que diz respeito à maternidade. O ato de gerar uma vida é parte da centelha divina no ato de criar a humanidade e coube às mulheres esse privilégio.
Obviamente, nem toda maternidade acontece sob as condições ideais e nem toda mãe atinge o ideal do amor materno, visto que todas as relações entre seres humanos, inclusive a maternidade, sofrem as fissuras do pecado.
Maternar é dedicar tempo, força e vida a um futuro de um filho ou filha, sobre o qual não se tem garantias. É lutar para oferecer segurança ou, pelo menos, uma sensação parecida, diante de perigos reais e incontroláveis da existência. É tentar dosar o amor em forma de afeto e a instrução exigente que garantem a formação do caráter de um filho, com a única certeza de que se vai falhar em algum momento.
Por isso, é necessário ter fé para ser mãe.
Ter fé em quem? Em si mesma? Difícil ter o mínimo de autoconhecimento e acreditar que é possível ter a constância e a consistência para ser bem-sucedida na tarefa de formar pessoas. Ter fé na vida? A vida é feita de sobressaltos imprevisíveis e todos os dias nos ensina nosso tamanho e limitações. Ter fé no amor? O amor falha, tanto da mãe para com seus filhos, como vice-versa.
Somente Deus pode ser o firme fundamento em que alguém pode se apoiar para desfrutar desse privilégio e encarar essa missão sem fazer dela um fardo insuportável. Por isso, é necessário ter fé no Pai para ser mãe.
Esta mãe suficientemente boa, para usar a expressão de Donald Winnicott, que além de prover as necessidades do indivíduo que vai se formando sujeito, também acaba por revelar suas limitações, jamais deixa de aperfeiçoar-se apesar delas, e até por causa delas, visto que “a comunicação do amor” assenta-se, justamente, nesta relação maternal, indicando uma mãe como um ser que se preocupa com o filho, como ninguém mais é capaz de fazê-lo.
A fé para ser mãe implica em uma dependência da mãe em Deus, à semelhança da dependência deste filho para com esta mãe, na provisão, proteção e direção de que se precisa. Depender, portanto, é criar uma autonomia, na qual os filhos passam a crer e se guiar pelos valores que os ensinamos, mas principalmente porque são crenças e valores deles e não mais apenas nossos.
Uma maternidade madura é ensinar o filho a depender do Pai, tanto quanto sua mãe conseguir expressar, por palavras e exemplos, a sua própria dependência de Deus.
Portanto, querida mãe, sinta-se privilegiada pelo dom da maternidade, seja aquela que se forma no útero, seja aquela que nasce e se carrega por toda a vida no coração. Tenha fé no Pai, que aperfeiçoará a sua maternidade por todo o tempo que seus filhos estiverem sob seus cuidados, e quando baterem asas e voarem, garanta apenas que apontou cada um deles na direção de Deus.
O voo pode ser turbulento, mas o destino será glorioso.