23.10.2024 Cultura
No começo de outubro, a escritora sul-coreana Han Kang foi laureada com o Prêmio Nobel de Literatura. Autora de obras como A Vegetariana, ela é a primeira escritora da Coreia do Sul a ser conquistar a maior premiação literária do mundo.
De acordo com a Academia Sueca, o Nobel foi concedido à sul-coreana por conta da “sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana".
Segundo o professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Cristhiano Aguiar, a premiação concedida é bastante justa pois a autora possui uma obra consolidada e uma escrita de qualidade. “Ela realmente é uma escritora que é bem acima da média e tem uma obra de muita qualidade, que não tem a dever a outros autores e autoras que de alguma maneira estão como possíveis vencedores do prêmio nos próximos anos”, destaca.
A primeira aparição da escritora no mundo literário foi em 1993, com a publicação de poemas na revista “Literatura e Sociedade”. Em 1995, ela publicou a primeira coletânea de contos, Amor de Yeosu. Ela também escreveu Atos Humanos e O Livro Branco, que, junto com A Vegetariana, foram traduzidos para o português.
Para o professor mackenzista, a obra de Kang apresenta uma série questões muito importantes do romance contemporâneo, como dimensão histórica, violência política, a representação do corpo dentro cultura e a relação do ser humano com a natureza. “Ela trabalha em termos temáticos sobre a dimensão histórica e de que maneira a formação histórica da Coreia do Sul está articulada com uma violência política. Há uma reflexão sobre a relação do humano com a natureza, e sobre as dimensões do desejo. Ela pensa muito sobre as possibilidades de conexão profunda entre dois seres humanos”, aponta o docente.
Tão importante quanto as temáticas, a escrita de Kang também chama bastante atenção, na avaliação de Aguiar. “Esses temas são expressos num estilo que é bastante conciso, bastante claro, límpido, e com um vocabulário bem acessível. Mas, ao mesmo tempo que tem esse estilo é conciso, é um estilo muito ligado a uma escrita poética, vinculada à formação de imagens muito bonitas, imagens às vezes muito melancólicas”. O professor ainda aponta que a escritora tem um flerte com o surrealismo e com uma escrita insólita.
Considerada a obra mais famosa, A Vegetariana, conta a história de uma artista gráfica e dona de casa sul-coreana que, após um pesadelo, decide parar de consumir, cozinhar e servir carne. Narrado em três atos, o livro mostra as consequências da decisão radical da protagonista. Lançado em 2014, o livro conquistou o prêmio Man Booker Prize de Melhor Romance, considerado um dos maiores prêmios da literatura global.
“É um romance que sintetiza, com muita qualidade, as características da obra da autora. E, de fato, é um livro que pensa algumas questões muito interessantes, a partir da ideia dessa mulher que decide parar de comer carne. Não é nada incomum, mas isso tem consequências imprevisíveis e muitas vezes violentas para ela e para a família dela”, afirma o mackenzista. Ele ainda aponta A Vegetariana como uma ótima porta de entrada para a obra de Han Kang.
Cristhiano Aguiar também mostra a importância da escolha da escritora, que, além de ser a primeira sul-coreana a vencer um Nobel, é também a primeira mulher asiática a ser laureada. Para ele, a conquista reforça a qualidade e a relevância da cultura da Coreia do Sul no cenário mundial. “Sem sombra de dúvidas, esse Nobel ajuda a consagrar ainda mais a Coreia do Sul como esse país de alguma maneira que está na moda da cultura já há alguns anos e, indiretamente, o prêmio é fruto de anos de investimento da Coreia para visibilizar a cultura do seu país”, finaliza.