25.09.2019 Ética e Cidadania
“A vida inteira eu me perguntei porque eu sobrevivi. Milagres são inexplicáveis, mas eles acontecem. O que é um sobrevivente do Holocausto senão um milagre?”. Essa foi uma das lições trazidas por Thomas Venetianer, de 82 anos, um sobrevivente dos campos de concentração nazistas que veio ao Colégio Presbiteriano Mackenzie (CPM) contar a sua história, no campus Higienópolis, no dia 23 de setembro.
A visita faz parte do projeto História Viva, organizada pelo professor do CPM, Ricardo Peres, como encerramento do tema 2ª Guerra Mundial, visto em sala de aula. “Para que os alunos pudessem ter uma visão mais ampliada e bem próxima daquilo que foi o Holocausto e vida dos judeus naquele período. As gerações futuras possivelmente não poderão ter contato com sobreviventes daquela época”. Antes da palestra com o sobrevivente, os estudantes assistiram o filme A Lista de Schindler.
“Queremos evitar que o tempo apague da memória das futuras gerações a tragédia que foi a 2ª Guerra, e que hoje, se houver uma terceira, com certeza não vai sobrar nada. Nosso objetivo é transmitir que nós temos que ser mais tolerantes com a pessoa humana e que devemos respeitar as diversidades”, afirmou Venetianer.
Em 2019, completam-se 80 anos do começo do conflito que envolveu diversas nações do mundo e que terminou com um saldo de mais de 6 milhões judeus mortos pelos nazistas, além de ter provocado uma grande destruição pela Europa.
Para Thomas Venetianer, falar sobre o Holocausto no atual contexto brasileiro e internacional torna-se ainda mais importante, já que existem movimentos radicais, que tem em sua base muitas aproximações com o Fascismo. “O tempo parece ser uma enorme esponja que rapidamente apaga da memória das pessoas, eventos desagradáveis. Tem muito a ver com essa passagem do tempo, que gerações depois não sabem e não lembram o que que aconteceu”, disse.
Lição de Vida
O sobrevivente nasceu na Tchecoslováquia, em 1937, dois anos antes do começo da 2ª Guerra Mundial. Judeu, foi para o campo de concentração em 1944, junto com o pai e a mãe após uma tentativa de fuga frustrada. “A minha visão é a de uma criança, e a criança tem uma capacidade de memorização grande, mas ela é muito pontual. As minhas histórias, na verdade, são uma espécie de um quebra-cabeças que eu montei ao longo do tempo com o que eu lembro, o que minha mãe lembrava, o que meu pai lembrava e o que minha vó deixou num diário”, explicou o palestrante, que tinha sete anos quando foi preso.
Após a família ser presa, Thomas e a mãe seriam encaminhados para o temido campo de concentração em Auchwitz, porém o trem em que estavam teve problemas, e os judeus foram para o campo de Theresienstadt, próximo a cidade de Terezin, hoje na República Tcheca. O sobrevivente chamou a situação de “mais um milagre da vida”. O pai de Venetianer foi enviado para o campo de trabalhos forçados Sachsenhausen, próximo a Berlim, capital da Alemanha.
Em Terezin, Thomas viveu todos os dias com medo e abandono. Segundo o relato, os nazistas criaram este campo de concentração para convencer representantes da Cruz Vermelha de que os judeus eram bem tratados. “A grande experiência é a sensação de abandono. Tudo porque eles criaram uma fantasia”, disse.
História Viva
Thomas Venetianer não contou apenas a história pessoal. Para poder explicar o seu relato de sobrevivência, ele deu para os alunos um bom contexto histórico, principalmente sobre o envolvimento de seu país de origem no conflito.
Antes da Guerra começar, a Tchecoslováquia foi dividida entre Alemanha (Eslóvaquia) e Hungria (parte Tcheca), que não se envolveu na Guerra logo que ela começou. Apenas em 1944, esse território foi invadido pelas tropas de Hitler, que desencadeou toda a história de prisão da família Venetianer. Para Thomas, este foi outro fator que explicou a sobrevivência de sua família, já que eles foram para os campos de concentração já no fim do conflito.
Pós-Guerra e Surpresa
Após a libertação dos campos de concentração pelas tropas aliadas, a família Venetianer permaneceu mais três anos na Europa, antes de se mudar para o Brasil, em 1948.
No país sul-americano, Thomas Venetianer foi estudar no CPM, para a surpresa dos alunos presentes. O pai do palestrante havia dito que a melhor forma para o garoto aprender a falar português seria na escola, convivendo com outras crianças, e Thomas contou que recebeu ajuda de um colega, que lhe ensinou muitas coisas.