Evento aponta necessidade de mudanças na forma de se fazer Literatura

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Professor convidado para palestra on-line afirma que pandemia deve afetar a forma como escritores criam

26.06.2020 - EM

Comunicação - Marketing Mackenzie


“As palavras são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio, estão ali para que possamos chegar à outra margem, a outra margem é que importa" - José Saramago

A Literatura é atravessada pelo tempo em que se vive e, portanto, um período de crise deve mudar completamente a forma como se escreve e como se lê. Na quinta-feira, 26 de junho, o Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) realizou a palestra Literatura em Tempos de Crise, com o professor da Universidad Nacional de Costa Rica, Albino Chacón, e discutiu como a pandemia do novo coronavírus poderá transformar o fazer literário.  O vídeo está disponível no YouTube.

De acordo com o professor, a explicação de como o tempo atravessa a escrita e a leitura passa por uma compreensão profunda do que é o ato de ler. Por isso, ele citou a frase de José Saramago, que abre este texto. “Temos que nos perguntar se a literatura a ser escrita nesse momento vai constituir um avanço e se vai acrescentar o sentido humano, o sentido da vida, ou vai apenas reproduzir astutamente a sensibilidade do momento através do refinamento técnico”, declarou.

“Sem ser cidadão, no sentido profundo da palavra, é impossível ser um verdadeiro poeta. Existe uma responsabilidade moral e ética sobre quem escreve”, afirmou o costa-riquenho.

A mudança, portanto, passaria por um novo olhar para o que se escreve. “Os escritores não podem continuar como se nada tivesse acontecido. A Literatura não é um exercício sobre si mesmo, ela precisa imaginar a experiência dos outros”, disse Chacón, que é doutor em Literatura Comparada.

O professor explicou que a atual pandemia provocou uma mudança na nossa relação com a cultura, pois muitos de nossos ritos (como a socialização, os abraços, o toque) estão se perdendo pelo distanciamento social. “Hoje, estamos vivendo uma verdadeira desterritorialização, não sabemos onde estamos. Estamos no mesmo país, na mesma casa, porém habitamos um não-lugar”, declarou. 

No entanto, apesar desse fenômeno, a Literatura ainda seria um caminho para se conhecer a etno-alma de um povo. “A Literatura é um espelho das tendências mais profundas da experiência social de um povo e de um tempo”, disse Chacón.

O evento on-line contou com a mediação da professora do PPGL, Ana Lúcia Trevisan. Para ela, além da escrita, o atual momento também irá mudar a relação com a leitura. “Nós desenvolvemos mecanismos mesmo na situação de total absurdo. Nosso universo imaginário da crise já está traçando um olhar e uma percepção para os textos”, concluiu.

A palestra foi a primeira de uma série de eventos on-line que serão realizados pelo PPGL, chamados de Diálogos. Na próxima semana, um novo encontro acontecerá, no dia 02 de julho, com o professor Jeffrey Lesser, que discutirá o tema A Sociedade em Tempos de Pandemia, com foco nas questões relacionadas à perpetuação de preconceitos.

 

 

 


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