22.02.2021 - EM Cultura
Mamma, son' tanto felice
Perche ritorno da te
La mia canzone ti dice
Ch'é il più bel giorno per me
A música italiana intitulada “Mamma” marcou a vida de Ítalo Francisco Curcio, professor e coordenador do curso de Pedagogia do Centro de Educação, Filosofia e Teologia (CEFT) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). “Ela me faz lembrar da minha mãe”, conta. Ítalo é filho de italianos, seus pais vieram para o Brasil depois da guerra. “Toda vez que eu ouço essa música, fico emocionado. Minha mãe não falava bem o português, misturava italiano com português e dava uma salada danada, só a gente entendia. Mas ela era encantadora”, lembra-se de Gorizia Curcio, que faleceu em 2001, aos 85 anos.
Fugindo do desemprego na Itália, sua família encontrou no Brasil diversas oportunidades. Três anos depois de chegar aqui, Ítalo nasceu. Sua família progrediu, oferecendo a possibilidade de estudo ao filho. “Embora eu não tivesse condições de frequentar uma escola sem trabalhar, pude ir à escola. Eu trabalhava e me sustentava”, conta ele. Em sua casa só se falava italiano, por isso enfrentou dificuldades em ser alfabetizado. “Mas gostava muito de Matemática e de Ciências desde criança. O português eu fui aprendendo aos poucos. O suficiente para sobrevivência e para iniciar uma carreira”, diz.
No Ensino Fundamental, passou a se encantar pelo magistério e no Ensino Médio decidiu que queria ser professor. “Quem despertou essa vontade em mim foi meu professor de Física, ele era mackenzista, Bernardino Aragão. Ele era fantástico, dava aula com uma paixão tão grande que era impossível não prestar atenção e não estudar a matéria”. No começo, não sabia qual área seguir, mas decidiu pela Física, então fez sua primeira faculdade. Também se licenciou em Matemática e Química e depois fez seu bacharelado em Física. “Assim que eu completei o bacharel, entrei no Mackenzie, no ano de 1977”, recorda.
Vida mackenzista
No dia 14 de fevereiro, Ítalo completou 43 anos de Mackenzie. Em 1987, foi convidado para ser diretor do Colégio Mackenzie. “Na época, eu pensei ‘como vou coordenar um colégio sem fazer um curso de pedagogia?’ Foi aí que ingressei no curso e me apaixonei”, diz. Em meio à sua ascensão profissional, o pedagogo começou a formar sua família. “Casei-me em 1980, com uma amiga da faculdade, Célia, minha esposa até hoje. Ela é maravilhosa. Temos três filhos, todos mackenzistas. E somos avós de cinco netos lindos!”, conta feliz.
O coordenador passou por diversas áreas do Mackenzie, mas sempre se dedicando à formação de professores. “Em 2018, assumi a coordenação do curso de Pedagogia, um dos dois únicos cursos de São Paulo com 5 estrelas. Conseguimos trabalhar muito para ter um curso que sempre foi referência. Para você ter uma ideia, o Mackenzie forma professores desde 1875. Quando se fala na história da educação do Brasil, não se pode deixar de falar do Mackenzie”, relembra orgulhoso.
Além de acumular várias formações em seu currículo como Doutorado em Educação, Arte e História da Cultura e Mestrado em Engenharia de Materiais, ambos pela UPM e pós-doutorado em Educação, na Universidade do Minho em Portugal, no ano de 2014, o pedagogo foi nomeado Embaixador de Cultura de Paz e Ética Global pela World Federation of UNESCO Clubs, Centres and Associations.
“O educador não pode ser um sujeito que prega ódio. Ele tem de pregar a paz e a harmonia. Publiquei alguns trabalhos que me deram esse título, o que muito me honra. Isso faz parte também da nossa vida”, diz.
A educação transforma
Segundo ele, muitas pessoas confundem educação com ensino, mas na verdade eles não são sinônimos. O ensino integra a educação e a educação é muito mais: é um produto, um resultado, uma cumplicidade institucional e pessoal. “A educação depende de um todo, o ensino é dirigido, você ensina a pintar, por exemplo. Enquanto a educação é a formação e quem forma é a escola, a família, a igreja e outras instituições que participam da vida do sujeito. Para mim, a educação é o conceito mais abrangente e profundo que existe. Sem educação não existe cidadão”, defende.
Ainda segundo o pedagogo, não é fácil ser professor, porque sua função precisa ser um exemplo. “Ser professor não é só saber Matemática, Física, Química, Biologia. Claro que o professor tem de conhecer bem o assunto que leciona, isso é óbvio, mas mais do que isso. Primeiro ele precisa saber para que serve e, em segundo lugar, deve encantar seu aluno, saber que o aluno não vai ser um matemático apenas por saber Matemática”, pontua.
Foram inúmeras conquistas, encontros e lembranças na trajetória como profissional da educação, mas Ítalo destaca uma situação no início da sua carreira. “Comecei a lecionar com 19 anos e me lembro que, anos depois, fui escolhido para ser paraninfo da turma. Quando anunciaram meu nome, todos os meus alunos gritaram ‘Seu Italinho’, porque eu era jovem e baixinho. Foi emocionante, todo mundo aplaudiu”, conta emocionado.
Durante a conversa, Ítalo se recordou de um aluno do colegial, da década de 80. “Ele era brilhante. No final do ano, ele me mostrou que tinha resolvido todos os exercícios do livro. Ele passou em todos os vestibulares de Medicina de São Paulo, se formou e depois foi fazer o seminário teológico e se formou pastor. Ele chama Roy Abrahamian”, disse se perguntando se um dia ele leria essa matéria.
Ser professor é ser feliz
Um dia, durante uma aula no Mackenzie, Ítalo foi surpreendido com bolo e velinha. Era seu aniversário, todos entraram cantando parabéns. “Foi uma emoção incontrolável”, diz. Mas por que o aluno faz isso? “Ele tem identificação com você e essa é a diferença entre o ensinante e o educador, o ensinante é aquele que ensina, o aluno aprende; o educador oferece algo a mais. Ninguém é perfeito, eu também tenho defeitos e muitos. Sou ser humano, mas a gente procura compartilhar tudo isso e, quando as pessoas nos apontam os defeitos, devemos ser humildes, reconhecer que erramos e tentar corrigir. Então esses são alguns dos muitos momentos felizes que tive como professor e educador. Agora como pai, como avô, eu passaria o dia inteiro contando”, enfatiza, em meio a sorrisos.
Atualmente, seu sonho é trabalhar enquanto estiver com saúde e com a mente boa. “Eu quero, como dizem os artistas de circo, ‘morrer no picadeiro’, dando aulas, porque ser professor não tem explicação, é encantador. Sempre digo: ‘ser professor é ser feliz’, porque felicidade é mais do que alegria. As alegrias são momentâneas, elas acontecem e vão embora; a felicidade é um conceito, você assimilou a felicidade, você é feliz”, finaliza.