31.10.2024 - EM
No começo de outubro, o Prêmio Nobel da Paz foi concedido ao grupo japonês, o Nihon Hidankyo, engajado na luta pela abolição das armas nucleares pelos governos ao redor do planeta. Formado por sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki – cidades japonesas que foram alvos das primeiras bombas nucleares da história, no fim da Segunda Guerra Mundial –, foi a primeira vez que o prêmio foi concedido para o Japão.
De acordo com a organização responsável pelo Nobel, o grupo japonês foi laureado por conta do esforço para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar, por meio de testemunhos, que as armas nucleares nunca devem ser usadas novamente. "Os esforços da Nihon Hidankyo têm colaborado para manter o tabu das bombas nucleares. Atualmente, no entanto, esse tabu está ameaçado. Esta é uma forma de lembrar o mundo da necessidade do desarmamento nuclear".
Ainda segundo o Nobel, a honraria, concedida em um momento de acentuação de conflitos ao redor do mundo, como a Guerra da Ucrânia e os confrontos no Oriente Médio, serve como um lembrete para que, independentemente do conflito, as armas nucleares, que provocam destruição em massa, não sejam consideradas uma opção.
Para o professor de História da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Wesley Santana, a honraria para o grupo é capaz de provocar uma reflexão sobre as guerras e conflitos, além de contribuir para que temas importantes sejam amplamente debatidos. "Ele é o prêmio que tem um significado, sim, mas não garante que vai promover a paz mundial; ele traz a reflexão. Infelizmente, a reflexão parte muito mais das pessoas comuns do que dos grandes líderes de grandes exércitos".
O Nihon Hidankyo é formado exclusivamente por pessoas que sofreram com as consequências da utilização das armas nucleares. Fundado em 1956, o grupo é bastante atuante e está sempre presente em palestras e eventos, para tratar sobre os perigos e as consequências do uso das armas de destruição em massa, por meio do relato e depoimento de seus integrantes. O movimento foi bastante importante para impulsionar campanhas e engajar diversas pessoas a se oporem à esse tipo de armamento.
Apesar dessa atuação, as armas nucleares continuam sendo parte do armamento de diversos países ao redor do mundo, alguns deles envolvidos nos conflitos em andamento, como Rússia, Israel e Irã. De acordo com o professor de Engenharia Mecânica da UPM, Jorge Onoda, no entanto, a eliminação dessas armas pode ser um sonho distante, por conta dos interesses militares e projetos geopolíticos de cada país. “A dificuldade na abolição das armas nucleares não reside no fato de se ter outras aplicações da energia e sim na luta por poder entre as nações”, aponta Onoda.
Armas nucleares são dispositivos que liberam uma grande quantidade de energia instantaneamente, a partir da energia liberada das reações nucleares (fissão ou fusão) de alguns tipos de material radiativo. “A detonação acorre quando essas massas são arremessadas em um mesmo ponto para formar o que chamamos de massa crítica. Essa massa crítica garante a ocorrência de uma reação em cadeia, produção de grande número de reações nucleares, instantaneamente provocando do material radiativo", explica Onoda.
Apesar disso, a utilização de energia nuclear possui outras aplicações, além da indústria bélica, sendo uma importante alternativa para produção de energia mais sustentável. “O material radiativo pode ser utilizado em outra configuração, gerando uma tipo de energia sustentável”, destaca o professor
De acordo com o mackenzista, desde a primeira e única utilização, em Hiroshima e Nagasaki, armas deste tipo evoluíram bastante e alcançaram um potencial de destruição ainda maior. “As armas estratégicas atuais, como as ogivas em mísseis balísticos, têm potência na faixa de 0,3 a 50 megatons, enquanto as armas táticas variam de 0,3 a 50 quilotons. Para comparação, a bomba que detonou em Hiroshima tinha 15 quilotons, muito menos potente que as armas estratégicas atuais”.
Tal situação, em face dos atuais conflitos no planeta, que parecem longe de uma finalização, tornam o prêmio ao grupo japonês importante, como um lembrete de que a Paz só será possível quando se tiver uma plena conscientização dos efeitos destrutivos que, não apenas as armas nucleares, mas todas as guerras, podem trazer para diversas populações.