As chamadas fake news, notícias falsas que aparentam ser verdadeiras, são um dos principais assuntos em discussão na sociedade brasileira atualmente. Em épocas de eleições, períodos naturalmente mais conturbados, é comum a maior proliferação dessas notícias com o intuito de que candidatos adversários percam votos ou tenham informações de suas vidas privadas expostas. Entretanto, você já parou para refletir em como a (des)informação pode impactar nossas vidas, para além do campo político?
A todo momento somos bombardeados com milhares de informações instantâneas que, mesmo de maneira indireta, influenciam nossas decisões. Desde coisas simples e cotidianas como escolher uma roupa de acordo com a previsão do tempo, até situações mais complexas como a escolha de um voto. Tudo é reflexo de uma informação recebida. Agora, imagine que essa informação, tão influente, é falsa. As consequências poderiam causar grandes danos, concorda?
Em Veles, na Macedônia, ocorreu um caso emblemático, onde um grupo de jovens criaram inúmeras fake news ligadas às correntes de direita dos Estados Unidos, entre elas, a de que o Papa Francisco apoiava a candidatura de Trump- tendo mais de um milhão de compartilhamentos. Apesar de parecer algo distante, já estamos vivendo essa realidade. Segundo estimativa da PSafe, empresa desenvolvedora de aplicativos de segurança, 8,8 milhões de pessoas no Brasil teriam sido impactadas por fake news nos três primeiros meses deste ano. E uma das principais áreas afetadas é a saúde.
De acordo com Laurence Cibrelus, chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), as notícias falsas podem ter sido um dos principais fatores que levaram à queda no número de vacinações. Seis meses após iniciar um monitoramento específico de boatos e informações falsas nas redes sociais, o Ministério da Saúde identificou 185 focos de fake news na internet, ou seja, temas de saúde que têm sido alvos de diversas publicações com dados incorretos ou evidências científicas inexistentes. Entre os boatos referentes à vacinação, podemos destacar uma receita natural que garantiria a proteção contra a febre amarela, as mutações do vírus que afetariam a eficácia da vacina, o própolis que repeliria os mosquitos ou até mesmo o boato de que as vacinas oferecem riscos às vidas das pessoas. Tais desinformações eram divulgadas nas redes sociais por supostos médicos, enfermeiros, agentes da saúde ou até mesmo atreladas a instituições renomadas na área.
De nove vacinas prioritárias do calendário infantil, nenhuma atingiu a meta de 95% de imunização em 2017. A maior parte delas ficou, em média, na casa dos 70%. As vacinas que protegem contra o sarampo tiveram queda. A tríplice viral passou de 96% de cobertura da população em 2015, para 83,87% no ano passado e a tetra viral saiu de 77,37% para 70,6% no mesmo período.
Diante disso, cabe ressaltar que a vacinação ainda é o método mais eficaz de prevenção a doenças, portanto é de suma importância que verifiquemos as informações antes de acatá-las como verdade, garantindo assim a nossa proteção e a do próximo.
Além dos diversos manuais de como checar notícias e das plataformas de fact-checking disponíveis na internet, o próprio Ministério da Saúde criou um canal de WhatsApp que recebe consultas de cidadãos que buscam saber se determinada notícia divulgada é verdadeira ou falsa. Sendo assim, cabe a nós, enquanto cidadãos, não permitirmos que a propagação de desinformações se torne mais um problema de saúde pública.