Uma nova tecnologia, já bastante utilizada em cirurgias nos Estados Unidos, promete ser uma inovadora forma de testar a presença do coronavírus no corpo humano. A caneta de espectrometria de massas, chamada de MassSpec Pen pela criadora dela, a pesquisadora brasileira Lívia Eberlin, mostra-se como uma nova ferramenta para o combate à covid-19 em um trabalho submetido essa semana para publicação. Ele foi desenvolvido coordenadamente entre a criadora, pesquisadores da Universidade São Francisco (USF) e a Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
A caneta usa o método de análise da espectrometria de massas, que identifica e detecta moléculas pela medição da massa de cada uma. Inicialmente, ela foi criada para diferenciar células de câncer de tecidos sadios, no exato momento de uma operação. De acordo com Lívia Eberlin, a ideia já fornece hoje para médicos cirurgiões a possibilidade de identificar, rápida e precisamente, os tecidos que precisariam ser retirados, e já foi aplicada em quase 200 cirurgias nos EUA.
“É muito difícil analisar, a olho nu, esse limite entre o tumor e o tecido normal. Todas essas decisões que são feitas num ambiente de estresse em que o tempo é muito importante”, explicou a pesquisadora, durante uma palestra em 04 de maio nos seminários comemorativos pelos 50 anos do curso de Química da Escola de Engenharia (EE) da UPM.
Lívia Eberlin é professora assistente dos Departamento de Química, Oncologia e Medicina Diagnóstica da Universidade do Texas, em Austin, nos EUA, e professora assistente adjunta do Departamento de Cirurgia do Baylor College of Medicine. A caneta oferece, segundo a pesquisadora, um “diagnóstico clínico na ponta dos dedos”, permitindo que médicos tomem decisões importantes de acordo com informações químicas precisas e ágeis.
“A possibilidade de melhorar e providenciar tecnologia para que os cirurgiões possam fazer esse diagnóstico dentro da sala cirúrgica - com uma precisão que aumentou de cerca de 65% para 98% -, e na hora da intervenção, é revolucionário. Dar essa informação em tempo real, em segundos, para guiar os cirurgiões para retirada de câncer, pode ser a diferença entre a vida e a morte", disse a professora.
Nos Estados Unidos, a caneta já é utilizada em diversas cirurgias para retirada de tumores e em operações como paratireóide, endometriose, cirurgias de identificação de metástase.
A ideia no projeto com a USF e a UPM é usar a tecnologia para o diagnóstico praticamente instantâneo da covid-19. O coordenador desta pesquisa no Brasil, o professor de Química da UPM, Marcos Eberlin, afirma que não será necessária nenhuma adaptação na MassSpec Pen para detecção do novo coronavírus em poucos segundos, e em nossos laboratórios o diagnóstico será feito a partir da saliva do paciente.
“A caneta é um detector quase universal de compostos orgânicos, desde que tenham de média ou alta polaridade. As adaptações para saliva e o toque na língua do paciente serão só na amostragem e/ou preparação da amostra, muito simples ”, afirma o mackenzista, que coordena a pesquisa.
De acordo com o professor, os testes da tecnologia já estão bastante adiantados. Além do uso para detecção da covid-19, já demonstrado, o projeto será ampliado para outros diagnósticos. “Queremos testar a técnica também para outras patologias, com o toque da caneta diretamente na língua do paciente e a prospecção de metabólitos que sejam diagnósticos de várias doenças e anomalias”, declarou.
A pesquisa é feita em parceria entre UPM, USF e a Universidade de Austin, mas além deste vínculo, os pesquisadores compartilham uma ligação muito especial. Marcos Eberlin é pai de Lívia e ambos trabalham juntos no desenvolvimento deste projeto. “O carinho, procuro assim ser, é o mesmo que dedico a todos os meus alunos e colaboradores. O orgulho, aí sim, é redobrado, por ser filha de sangue e científica”, afirma ele, lembrando que Lívia iniciou sua carreira com um projeto de iniciação cientifica em seu laboratório.