Nesta terça-feira, 11 de março, no Auditório Rev. Wilson, a Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) proporcionou aos alunos do Centro de Comunicação e Letras (CCL), três palestras em comemoração ao Dia das Mulheres. Entre elas, ocorreu um debate sobre a violência provocada por veículos de imprensa e outras instituições, tendo como exemplo a cobertura do caso do “Maníaco do Parque”.
O evento contou com a participação da jornalista Thaís Nunes, diretora, roteirista e pesquisadora do documentário sobre o caso ocorrido nos anos 1990, além da assistente de roteiro do mesmo documentário e antiga mackenzista, Eduarda Smilari.
As palestrantes explicaram o funcionamento do processo de produção de um documentário de um tema complexo, denso e comovente. Elas relataram que tiveram que resumir 40 mil páginas dos autos do processo. “Quando eu entrei, já tinha mil páginas, e eu nem entendia a leitura de um processo, é uma linguagem super chata e difícil, mas a gente aprende o que importa”, contou Eduarda Smilari.
Thaís Nunes explicou que foi necessário um trabalho braçal e sem glamour. “Eu costumo dizer que o glamour do tapete vermelho, de você colocar um look e tirar uma foto, dura dez segundos para três anos de um trabalho árduo”, completou.
Ao longo das pesquisas, as convidadas conseguiram captar as principais informações e puderam observar detalhes que passaram despercebidos pela imprensa da época. Thaís Nunes destacou a falta de cuidado e a troca de papeis que os jornalistas, policiais e juízes cometeram ao transformar as vítimas em culpadas. “Como disseram as sobreviventes, foram 11 que tiveram a coragem de vincular o nome delas a esse processo, em uma época em que os jornalistas tinham amplo acesso às delegacias e que ninguém perguntava a uma vítima se ela queria ser filmada”, exemplificou.
Ao final da palestra, Thais e Eduarda explicaram que sempre existiu o desejo de exibir o documentário para cursos de comunicação, para provocar os alunos sobre qual postura deveriam adotar frente a sensibilidade das vítimas e como apresentariam essas narrativas.
A professora Patrícia Paixão comentou que, no Brasil, vive-se um ciclo vicioso e que desde 1998, quando o caso veio a público, mulheres ainda continuam sendo vítimas de feminicídio e outros tipos de violência. “Então, o objetivo ao trazer essa temática é mostrar para os nossos alunos que é possível fazer narrativas que não reproduzam o machismo, narrativas que mostram ângulos não retratados”, disse a professora.
Paixão ainda provocou uma reflexão sobre como é possível mudar o cenário de vulnerabilidade vivido por mulheres. “O que nós juntos podemos fazer para mudar esse cenário? Onde a gente está falhando, o que a gente pode mudar dentro da gente e o que as instituições estão fazendo de errado a ponto de reproduzir esse padrão de violência contra a mulher”, finalizou.