Os realities shows de gastronomia são um fenômeno na TV aberta e garantem o entretenimento de milhares de pessoas. “Essa explosão de espectadores tem seus reflexos a partir da glamourização da profissão de chef de cozinha no fim dos anos 1990”, conta Arnaldo Lorençato, professor do Centro de Comunicação e Letras (CCL) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e crítico de gastronomia da revista Veja São Paulo, que preparou uma lista com os 5 melhores realities da televisão aberta. Confira:
1. MasterChef Brasil
A franquia nascida na Grã-Bretanha foi o primeiro desses shows de talentos a estrear em uma emissora aberta no Brasil. No início de setembro de 2014, quando a Band colocou o primeiro episódio no ar, o resultado, que parecia uma grande incógnita, revelou-se um êxito. “De lá para cá, o público pôde aprender o vocabulário profissional de cozinha, bem como técnicas. Hoje, um número expressivo de pessoas sabe que a expressão francesa mise en place é a organização de ingredientes no pré-preparo e julienne, ou juliana, significa cortar vegetais em tiras finas e longas”, aponta o professor. Vale lembrar que, até 2020, o programa tinha a apresentação da jornalista Ana Paula Padrão e o trio de jurados Erick Jacquin, Henrique Fogaça e Paola Carosella, que recentemente divulgou sua saída do programa. Contando com versões especiais, uma delas inclusive com crianças, foram ao ar sete temporadas em seis anos. “Tive a oportunidade de participar de cinco delas como jurado convidado, quatro com amadores e uma com profissionais”, relembra o professor.
2. Top Chef
Diferente do MasterChef Brasil, em que o foco é nos amadores, o Top Chef, franquia de origem americana, tem um elenco de cozinheiros profissionais. No reality da Record, em sua segunda temporada, conduzido por Felipe Bronze, junto ao chef Emmanuel Bassoleil e a jornalista Ailin Aleixo, entende-se como é a vida e o trabalho desses profissionais, bem como o processo criativo. “Para quem quer empreender na área e conhecer desafios como a montagem de um restaurante, vale a pena assistir ao sétimo episódio da primeira temporada, no qual fiz uma participação”, conta.
3. Pesadelo na Cozinha
Uma das estrelas do MasterChef Brasil, o francês Erick Jacquin ganhou um reality para chamar de seu: Pesadelo na Cozinha, franquia do britânico Ramsay's Kitchen Nightmares. Neste caso, o apresentador tenta salvar restaurantes que se encontram em apuros e estão prestes a fechar as portas. O interesse aqui é buscar soluções para que o negócio prossiga. Durante o programa, aprendem-se tópicos como administração de uma equipe, cálculo do preço de um prato, adoção regras essenciais de higiene, organização da cozinha. “Virou um fenômeno de público talvez pelo jeito histriônico de Jacquin de aconselhar os donos dos estabelecimentos, sempre com ameaças de abandonar o projeto se não for ouvido. Tive o prazer de participar da avaliação do restaurante Joka's Grill na segunda temporada, exibida em 2019”, diz o professor.
4. Mestre do Sabor
Mais um programa realizado com personagens do universo profissional, mas com um formato original criado pela Globo. No comando da apresentação está o chef simpatia Claude Troisgros, sempre secundado por seu fiel escudeiro Batista. Os jurados são os chefs Kátia Barbosa, Leo Paixão e Rafa Costa e Silva, que substituiu o português José Avillez na segunda temporada. Como explica o professor, o espectador pode aprender a arquitetura de um prato, da matéria-prima à apresentação, muitas vezes privilegiando ingredientes nacionais. “Depois de uma temporada de estreia muito morna, ganhou fôlego em 2020 e com episódios vibrantes. Chama a atenção a capacidade criativa dos chefs, que sempre têm o desafio de desenvolver receitas em curto espaço de tempo”, conta. A terceira temporada será lançada em maio deste ano.
5. Bake Off Brasil: Mão na Massa
Os doces são o tema desse programa do SBT, atualmente apresentado por Nadja Haddad e que já foi comandado por Ticiana Villas Boas. Há ainda a participação de dois jurados: Beca Milano e Olivier Anquier. Para o professor, nessa franquia criada pela britânica BBC, que no Brasil ganhou o aposto “mão na massa”, ganha-se uma certeza: a confeitaria necessita de precisão matemática. “Diferentemente da cozinha salgada, que tem margem de variação, a arte da doçaria requer método e rigor. Não adianta improvisar com medidas, por exemplo. Do contrário, o resultado será um desastre”, aconselha.
Dica extra
Programas de culinária na televisão, como o das veteranas Helena Sangirardi (1905-1989) e Ofélia Anunciato (1924-1998), sempre existiram. O da jornalista Sangirardi estreou em 1963 e, como o da culinarista Ofélia, era destinado a donas de casa para as quais ensinava um cotidiano mais saboroso. Depois, vieram outras rainhas das receitas na TV, como Palmirinha e Ana Maria Braga. “Embora desde o surgimento dos canais pagos as produções de gastronomia tenham ocupado boa parte das grades de exibição, os reality shows ou shows de talentos de forno e fogão só viraram assunto nacional nos últimos seis anos, ao estrear na Band”, afirma Lorençato.
Conquistaram, a partir daí, um número crescente de espectadores, incluindo uma parcela significativa de homens, além de uma amplitude de faixas etárias, que vai das crianças, passa pelos adolescentes e chega aos mais velhos. Segundo o professor, o interesse crescente pela profissão de chef de cozinha desde o fim dos anos 1990 e o surgimento dos cursos universitários de gastronomia, como o do Mackenzie, colaboraram significativamente para o avanço das produções.